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Líderes do G20 aprovam texto condenando guerra na Ucrânia

9 de setembro de 2023

Declaração evita a condenar a Rússia, mas apela para que países se abstenham de atacar a integridade territorial de um Estado. Na abertura da cúpula, Lula cobra contribuição de países ricos contra aquecimento global.

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Narendra Modi em mesa circundado por outras pessoas em um salão
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, anfitrião do encontro, anunciou a adoção da declaraçãoFoto: Evelyn Hockstein/AP Photo/picture alliance

Os líderes do G20 concordaram neste sábado (08/09) com uma declaração conjunta depois de resolver as diferenças finais sobre as referências à invasão da Ucrânia pela Rússia.

O texto evita a condenação da Rússia pela guerra na Ucrânia, mas apela a todos os países que se abstenham de ataques à integridade territorial ou à independência política de um Estado.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, anfitrião do encontro, anunciou que a declaração foi adotada no primeiro dia da cúpula, que vai até este domingo.

O consenso foi uma surpresa, pois o grupo está profundamente dividido sobre a guerra na Ucrânia, com as nações ocidentais tendo pressionado por uma forte condenação da Rússia, enquanto outros países exigiram um foco em questões econômicas mais amplas.

"Apelamos a todos os Estados para que defendam os princípios do direito internacional, incluindo integridade territorial e soberania, o direito humanitário internacional e o sistema multilateral que salvaguarda a paz e a estabilidade", diz a declaração

"Saudamos todas as iniciativas relevantes e construtivas que apoiam uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia.

A declaração ainda afirma que "o uso ou ameaça de uso de armas nucleares é inadmissível".

Acordo de grãos do Mar Negro

O texto também apela à implementação, por Ucrânia e Rússia, da iniciativa do Mar Negro para o fluxo seguro de cereais, alimentos e fertilizantes. Moscou saiu do acordo em julho, reclamando de um fracasso no cumprimento de sua exigência de implementação de um acordo paralelo flexibilizando as regras para suas próprias exportações de alimentos e fertilizantes.

"Com base no trabalho árduo de todas as equipes, conseguimos obter consenso sobre a declaração dos líderes de cúpula do G20. Anuncio  a adoção desta declaração", disse Modi aos líderes presentes  em Nova Déli.

As opiniões divergentes sobre a guerra impediram um acordo sobre até mesmo um único comunicado em reuniões ministeriais durante o governo da Índia Presidência do G20 até agora este ano.

A declaração também dizia que o grupo concordou em lidar com as vulnerabilidades de dívida em países de baixa e média renda "de uma forma eficaz, abrangente e sistemática", mas não divulgou nenhum novo plano de ação.

O documento afirma que os países se comprometeram a reforçar e reformar bancos multilaterais de desenvolvimento, aceitando também proposta visando regulamentações mais rígidas de criptomoedas.

Também concorda que o mundo precisa de um total de 4 trilhões de dólares de financiamento anual de baixo custo para a transição energética, com uma elevada percentagem de energias renováveis na matriz energética primária.

A declaração apelou à aceleração dos esforços no sentido de uma "redução progressiva da energia do carvão", mas disse que isso tinha que ser feito "de acordo com as circunstâncias nacionais e reconhecendo a necessidade para apoio a transições justas".

Um representante do governo da Índia no G20 disse que o país anfitrião do encontro trabalhou "muito próximo" do Brasil, África do Sul e Indonésia para obter um consenso sobre os termos abordando a guerra na Ucrânia no documento.

O ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, disse que a China, principal aliado da Rússia, apoiou o resultado. "Diferentes pontos de vista e interesses estavam em jogo, mas nós conseguimos encontrar um terreno comum em todas as questões", disse ele durante entrevista coletiva.

Lula cobra países ricos contra aquecimento global

No seu discurso de abertura na cúpula do G20 neste sábado, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cobrou dos países ricos financiamentos para o combate contra as mudanças climáticas, especialmente para os que estão em desenvolvimento.

Segundo Lula, os países mais ricos, que contribuíram "historicamente” mais para o aquecimento global, devem arcar com os maiores custos para combater o problema. A reunião fez parte da sessão intitulada "Um planeta Terra”

O presidente exemplificou que as mudanças climáticas, neste momento, afetam o estado do Rio Grande do Sul, com a passagem de um ciclone que deixa desabrigados e mortos. Ele pontuou ainda que os efeitos da mudança do clima têm mais consequências para grupos vulnerabilizados. "São os mais pobres, mulheres, indígenas, idosos, crianças, jovens e migrantes, os mais impactados.”

Para Lula, a falta de compromisso dos mais ricos gerou uma dívida "acumulada ao longo de dois séculos”

"Emergência climática sem precedentes"

Lula alertou que a falta de compromisso mundial com o meio ambiente levou a uma "emergência climática sem precedentes”. "Se não agirmos com sentido de urgência, esses impactos serão irreversíveis”, apontou. O discurso lido no evento reforçou que o aquecimento global modifica o regime de chuvas e eleva o nível dos mares. "As secas, enchentes, tempestades e queimadas se tornam mais frequentes e minam a segurança alimentar e energética.”

O presidente brasileiro adiantou que, durante o período que o Brasil estiver na presidência do G20, lançará uma "Força Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima”. "Queremos chegar na COP 30, em 2025, com uma agenda climática equilibrada entre mitigação, adaptação, perdas e danos e financiamento, assegurando a sustentabilidade do planeta e a dignidade das pessoas.”

No fim da cúpula, o Brasil receberá de forma simbólica o comando rotativo do bloco. O G20 reúne representantes de 19 países e da União Europeia, que representam cerca de 80% da economia global.

O Brasil vai presidir o G20 pela primeira vez desde a criação do grupo, em 1999. O mandato irá de dezembro deste ano a novembro de 2024. O Rio de Janeiro será a sede da próxima cúpula do grupo, no próximo ano.

md (EBC, Reuters, ots)