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ConflitosOriente Médio

Líder do Hisbolá faz ameaças contra Israel

3 de novembro de 2023

Em seu primeiro discurso desde o início da guerra entre o Hamas e os israelenses, Hassan Nasrallah declarou que "todas as opções" estão sobre a mesa, mas evitou por enquanto falar em entrada total no conflito

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Pessoas aparecem aglomeradas em frente a um telão que mostra o primeiro pronunciamento do líder do Hisbolá, no Líbano.
Líder do Hisbolá, Hassan Nasrallah, culpou os Estados Unidos pelo conflito entre Israel e Hamas na Faixa de GazaFoto: Mohamed Azakir/REUTERS

O líder do grupo radical xiita Hisbolá, baseado no Líbano, se pronunciou publicamente nesta sexta-feira (03/11) pela primeira vez desde o início dos conflitos entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza. Em um longo discurso, Hassan Nasrallah afirmou que uma possível escalada dos confrontos com Israel dependerá do que acontecer na Faixa de Gaza e de como este país vai agir na fronteira com o Líbano. 

Entre as expectativas desse discurso, que foi acompanhado no Líbano com grande interesse, estava uma possível "declaração de guerra" ou o anúncio de uma extensão das hostilidades, passo que o clérigo aparentemente evitou. 

"Todos nós devemos estar prontos para todas as possibilidades. Com toda a transparência, clareza e ambiguidade, todas as opções na frente libanesa estão abertas, e podemos recorrer a elas a qualquer momento", disse Nasrallah. "Nosso grupo já entrou em combate contra Israel em 8 de outubro. O que está acontecendo na frente libanesa é muito importante para a luta em Gaza, mesmo que alguém possa dizer que o que está acontecendo é modesto", acrescentou. 

Nasrallah disse que as operações têm aumentado "dia a dia", mesmo quando o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, alertou o Hisbolá contra testar Israel, caso contrário "eles pagariam caro".

Ele deixou claro que a intenção do Hisbolá era "prender" as tropas israelenses que poderiam ser enviadas para Gaza, alertando que uma nova escalada no norte era uma "possibilidade realista".

Na quinta-feira, o Hisbolá atacou posições militares israelenses no norte de Israel com drones, morteiros e drones suicidas. Israel retaliou a ação por meio de aviões e helicópteros de guerra, com o porta-voz militar, o contra-almirante Daniel Hagari, dizendo que civis ficaram feridos nos ataques vindos do Líbano.

Uma guerra entre o exército israelense e o Hisbolá poderia ser devastadora tanto para Israel quanto para o Líbano. A razão para isso é que o grupo radical é muito melhor equipado militarmente do que o Hamas, contando com um arsenal de cerca de 150 mil foguetes e mísseis, alguns dos quais, acreditam especialistas, são armas guiadas com precisão, ou seja, capazes de atingir alvos específicos em território israelense.

Israel, por sua vez, prometeu desencadear uma vasta destruição no Líbano se houver de fato uma guerra, acusando o Hisbolá de esconder instalações militares em áreas residenciais.

Líbano e Israel já travaram um conflito entre os meses de julho e agosto de 2006, em uma guerra considerada inconclusiva, suspensa após um acordo de cessar-fogo. Na ocasião, a Alemanha enviou mais de 2 mil soldados à região para uma missão de paz da ONU, algo até então inédito desde a Segunda Guerra Mundial.

Desta vez, porém, uma guerra entre Israel e Líbano pode levar à participação do Irã, que apoia tanto o Hamas quanto o Hisbolá, ambos considerados grupos radicais islâmicos pela União Europeia e por países como Estados Unidos, Alemanha e Japão.
 

EUA defendem criação de Estado palestino

Em sua terceira visita ao Oriente Médio desde o início dos conflitos na região, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, reiterou o apoio americano a Israel, dizendo que o país tem o direito de se defender.

Ao mesmo tempo, insistiu que uma "pausa humanitária" é necessária para aumentar a ajuda aos civis palestinos em meio à crescente crise humanitária em Gaza, argumentando que, caso isso não seja colocado em prática, não haverá "parceiros para a paz".

"Acreditamos que esses esforços [de entrega de ajuda] seriam facilitados por pausas humanitárias, por acordos no território [onde ocorrem os conflitos] que aumentem a segurança dos civis e permitam a entrega mais eficaz e contínua de assistência humanitária", afirmou.

Por fim, Blinken disse que a solução de dois Estados, isto é, a criação de um Estado também palestino na região "é a única maneira de garantir segurança duradoura para um [Estado de] Israel judeu e democrático".

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, cumprimenta o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante visita a Israel. Eles estão próximos e se cumprimentam apertando os braços um do outro. Ambos vestem ternos e gravatas escuros, com camisas brancas.
Blinken e Netanyahu se encontraram nesta sexta-feira para discutir os rumos do conflito na Faixa de GazaFoto: Amos Ben Gershom/Israel Gpo/ZUMA Wire/IMAGO

Netanyahu rechaça cessar-fogo

O secretário de Estado dos EUA fez os pedidos de "pausa humanitária" diretamente ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que disse que Israel "recusa um cessar-fogo temporário sem que antes ocorra o retorno de nossos reféns".

Ele se referiu aos mais de 240 cidadãos, de diferentes países, levados pelo Hamas e mantidos pelo grupo em Gaza desde 7 de outubro. E afirmou que Israel vai prosseguir com a ofensiva militar com "toda a sua força".

Blinken disse que os EUA, que enviaram porta-aviões para o Mar Mediterrâneo, estão empenhados em garantir que nenhuma "segunda ou terceira frente" seja aberta no conflito, referindo-se, neste caso, às tensões registradas na fronteira entre Israel e Líbano.

Americanos alertam Hisbolá

Os EUA também instaram que o Hisbolá não "tire proveito" da guerra entre Israel e Hamas: "Nós e nossos parceiros fomos claros: o Hisbolá e outros atores, oficiais ou não, não devem tentar tirar proveito do conflito em curso", declarou um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

Em seu discurso, Nasrallah, líder do Hisbolá, declarou que os EUA são "totalmente responsáveis" pelo conflito em Gaza e que poderiam evitar a crise bélica regional ao impedir os ataques de seu aliado Israel.

Questionado, o porta-voz americano disse que o país não irá se envolver em "uma guerra de palavras": "Os Estados Unidos não buscam uma escalada ou ampliação do conflito que o Hamas trouxe para Israel", argumentou.

"Um conflito entre Israel e Líbano tem potencial para ser ainda mais sangrento do que o de 2006. Os EUA não querem que esse conflito se expanda para o Líbano. A provável devastação para o Líbano e seu povo seria inimaginável e pode ser evitada", concluiu.

Cerco a Gaza, reféns e vítimas

Na quinta-feira, as Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram que cercaram completamente a Cidade de Gaza, na Faixa de Gaza, enclave de onde partiram os ataques terroristas perpetrados pelo Hamas no dia 7 de outubro e que deixaram mais de 1,4 mil mortos em território israelense.

A partir de então, Israel começou uma série de bombardeios em Gaza contra o Hamas, mas que têm atingido duramente a população civil e, por isso, gerado críticas da comunidade internacional.

Nesta sexta, o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, disse que Israel tem o direito de se defender, mas expressou preocupação com o fato de que a resposta israelense teria ido além do combate ao Hamas, em legítima defesa, caracterizando-se agora como "algo mais próximo da vingança".

A França exigiu explicações de Israel devido ao bombardeio de um instituto francês em Gaza: "Pedimos às autoridades israelenses que nos comuniquem, sem demora (...), os elementos tangíveis que motivaram essa decisão", questionou, em um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da França.

De acordo com dados divulgados nesta sexta-feira por autoridades locais, mais de 9.200 pessoas já morreram em Gaza desde o início dos ataques israelenses. Dois terços do total de vítimas seriam mulheres e crianças. Israel, por outro lado, afirma que o Hamas mantém mais de 240 reféns, levados do território israelense.

gb (AFP, AP, dpa, ots)