Líbios esperam que assembleia garanta democracia no país
8 de julho de 2012A coalizão liberal Aliança da Forças Nacionais registra vantagem na corrida eleitoral, segundo pesquisa boca de urna na Líbia. O grupo do ex-chefe do governo de transição Mahmud JIbril teria conseguido maioria na capital Trípoli, em Bengasi. A Irmandade Muçulmana estaria em segundo lugar.
O sábado (07/07) foi um dia de festa para os líbios, que foram às urnas pela primeira vez em 60 anos. Poucas horas após a abertura dos colégios eleitorais, longas filas foram se formando do lado de fora. Muitos eleitores faziam o sinal da vitória, enrolados em bandeiras da Líbia. Carros buzinavam nas ruas. Mulheres distribuíam doces, cantavam e se abraçavam, enquanto esperavam a hora de depositar seu voto.
Ao deixar sua impressão digital no papel, antes de votar, muitos se mostravam orgulhosos. "Não consigo descrever a emoção. Nós pagamos o preço, tivemos dois mártires na família", disse uma professora de 50 anos de idade, que pela primeira vez na vida participava de um pleito.
A alta representante da União Europeia para Assuntos de Política Externa, Catherine Ashton, elogiou as eleições. "Este é o começo de uma nova era democrática".
Apesar do registro de atos violentos em algumas partes da Líbia, o dia de votação foi considerado tranquilo. De acordo com a comissão eleitoral, o comparecimento às urnas foi de 60% dos quase 2,9 milhões de pessoas registradas para votar. A previsão é de que o resultado da votação seja anunciado a partir desta segunda-feira.
Grandes expectativas
Após a euforia com o dia histórico, os líbios mostram grandes expectativas com o caminho democrático que o país deverá seguir a partir de agora. "A eleição é apenas um passo, um passo de um longo caminho. Até agora só conseguimos as eleições. Ainda temos muito trabalho pela frente", avaliou o estudante de Medicina Meftah Lavel com os amigos, logo após a votação.
Para muitos jovens, o dia de ontem foi a materialização do triunfo que conseguiram com os protestos do ano passado. "Eu estava muito ansioso, esperando que tivéssemos feito algo de bom para que nosso país pudesse avançar na direção da democracia ou ter uma Constituição tradicional como em outros países árabes. Senão, tudo teria sido em vão", afirmou Vasef Salem Albradi, colega de Lavel.
Eles acreditam que agora o país precisa usar a grande chance de implantar um sistema político totalmente diferente, após mais de 40 anos do regime Kadafi. "Se os religiosos chegarem ao poder agora e reafirmarem as tradições e as tribos, não teremos mais um país democrático. Por isso, precisamos fazer algo para que não influenciem a Constituição. Se der certo, então teremos um êxito importante", disse Albradi. Para ele, a verdadeira revolução vai começar agora.
Protestos
No leste do país, mais abastado que outras regiões graças à exploração de petróleo, foram registrados atos de vandalismo e de violência durante o dia de votação. Nessa parte do país, onde existe um forte movimento separatista, ocorreram os primeiros protestos contra o então ditador Muammar Kadafi.
Segundo informações de um antigo comandante rebelde, na cidade de Adjdabiya manifestantes incendiaram 14 dos 19 colégios eleitorais. Atos semelhantes também foram registrados em Bengasi, Brega e Gadamis. Apesar dos protestos, a comissão eleitoral afirma que apenas 6% dos locais de votação foram fechados. Policiais e soldados reforçaram a segurança durante todo o dia.
Os adeptos do movimento de autonomia do leste reclamam de discriminação com relação ao populoso oeste. Eles reivindicam mais assentos no Parlamento. Para aumentar a pressão sobre o Conselho Nacional de Transição (CNT), que atualmente governa o país, eles chegaram a fechar três refinarias de petróleo na semana passada.
Assembleia
A população foi às urnas escolher os 200 representantes da Assembleia – 100 representantes de Trípoli e do oeste, 60 assentos de Bengasi e o leste e 40 do Sudoeste. Entre esses mandatos, 120 serão entregues a candidatos independentes e 80 aos que compuseram listas partidárias. Foram mais de 3.700 candidatos entre independentes e inscritos em lista, dos quais, 630 mulheres.
Os futuros parlamentares estão encarregados de montar uma comissão com 60 nomes, que será responsável por elaborar a nova Constituição líbia.
MSB/dw/dpa/afp/rtr/dapd
Revisão: Augusto Valente