Nesta quinta-feira (13/06) começa na Itália a cúpula do G7, o encontro informal das principais democracias ocidentais. O anfitrião é a Itália, e a primeira-ministra Giorgia Meloni convidou, entre outros, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei.
O presidente argentino inicialmente hesitou em ir para a Europa, mas acabou aceitando o convite. Assim tudo indica que haverá pela primeira vez um encontro entre Lula e Milei, que não são próximos nem política nem pessoalmente.
O tom da relação entre eles foi dado por Milei, ainda na campanha eleitoral argentina, ao chamar Lula de "corrupto" e "socialista com vocação totalitária". Lula não foi à posse de Milei, em Buenos Aires, apesar de o líder argentino ter enviado sua futura ministra do Exterior a Brasília para entregar um convite personalizado.
A recusa de Lula é compreensível diante dos insultos feitos pelo argentino. Além disso, a posse do libertário Milei foi dominada pela presença de líderes populistas, como Viktor Orbán. Também o ex-presidente Jair Bolsonaro foi recebido como se ainda fosse chefe de Estado.
Lula, ao contrário de Milei, absteve-se até aqui de fazer comentários sobre o ocupante da Casa Rosada. Isso fala a seu favor, pois ele certamente sabe que rixas pessoais não têm lugar na diplomacia. Lula provavelmente também tinha pouco em comum com George Bush, mas se dava tão bem com o presidente conservador dos EUA quanto com seu sucessor democrata, Barack Obama.
Desavenças pessoais devem ficar de lado na política externa. Há muito em jogo para que os chefes de Estado eleitos dos dois maiores países da América do Sul se permitam rejeitar um ao outro – tanto econômica como politicamente.
Argentina e Brasil são os parceiros comerciais mais importantes da região. Ambos exportam principalmente produtos industriais para o país vizinho. Isso inclui sobretudo carros, máquinas agrícolas e caminhões. Se eles não comercializassem esses bens de alto valor, seus setores industriais estariam em situação ainda pior do que já estão.
Nos últimos 30 anos, as duas maiores economias do América do Sul frequentemente se ajudaram mutuamente a se estabilizar em tempos difíceis. Em 1994, o aumento do consumo no Brasil após a introdução do Plano Real evitou o pior para a economia argentina num momento em que ela ameaçava cair numa forte recessão. No Brasil, os alimentos argentinos foram igualmente importantes para manter a inflação baixa após a reforma econômica.
Juntos, os dois países formam aquela que é de longe a maior área econômica da América Latina, com cerca de 260 milhões de habitantes, e são a 8º (Brasil) e a 24º (Argentina) no ranking mundial de economias.
Isso também explica por que nada funciona no Mercosul se os chefes de Estado desses dois países não agirem de forma coordenada. Se eles não se falarem por seis meses – como é o caso agora – a UE pode simplesmente ficar de braços cruzados nas negociações sobre a área de livre comércio com o argumento de que os parceiros sul-americanos não se entendem.
Mas é também igualmente importante que Argentina e Brasil se unam na política externa. É verdade que o Brasil é uma potência regional do ponto de vista geopolítico. Mas quando o Brasil e a Argentina agem juntos, eles têm muito mais peso internacional. Na América do Sul, às vezes se esquece que, na condição de democracias, a voz dos dois países tem um peso especial no Ocidente.
Portanto, está mais do que hora de Lula e Milei encontrarem uma forma de trabalhar juntos – se isso não funcionar agora na Itália, então que tenham no máximo até julho, na reunião do Mercosul, um plano de como pretendem trabalhar juntos no futuro.
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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.