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Levar um Beuys para casa

Karen Naundorf / sv24 de junho de 2004

O princípio das "tecas" é único: tornar-se sócio, escolher um objeto, pagar uma taxa, colocar na bolsa e levar para casa. Bibliotecas emprestam livros; videotecas, DVDs e filmes em VHS. E "artotecas", obras de arte.

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Mostruário de obras: à escolha do freguêsFoto: Artothekenverband Deutschland e.V.

Será que levo a serigrafia em cinco tons? Ou o retrato em preto-e-branco? E quando, enfim, a escolha foi feita, a pergunta crucial: "Mas o que combina com a decoração da casa? Qual artista plástico é conhecido?" E, de repente, estão lá exemplares de obras de Sigmar Polke, Thomas Ruff e Joseph Beuys nas salas de visita alemãs. Isso apenas provisoriamente, entenda-se. Pois quando o prazo estipulado para o empréstimo acaba, as obras têm que ser devolvidas.

Serviço urbano

O verbete ainda não registrado em dicionários de língua portuguesa "artoteca" remete automaticamente a luxo, altas taxas e ambientes exclusivos. É de se pensar que essa seria a primeira das instituições a fechar suas portas, quando os cintos apertam. "Certamente é uma coisa que acontece", diz Johannes Stahl, presidente da Associação das Artotecas Alemãs e diretor de uma delas em Bonn.

"Embora haja também representantes do setor cultural inteligentes", diz Stahl. Estes criaram uma forma de oferecer algo aos cidadãos mesmo em tempos de vacas magras: as coleções de obras de arte que pertencem ao Estado, mas que podem ser levadas para casa.

Seguindo esse modelo, pensa-se, por exemplo, nas cidades alemãs de Ludwigsburg e Osnabrück, em fundar "artotecas". "Em Hanôver, a coleção de obras de arte da cidade já está sendo avaliada e estão sendo escolhidas as obras mais adequadas para o empréstimo", conta Stahl.

De preferência, grande e colorido

Bildauswahl in einer Artothek
Cliente escolhe o que levar para casa na Associação das Artotecas AlemãsFoto: Artothekenverband Deutschland e.V.

"A maioria das pessoas transporta essas obras em seus carros. O que não cabe em um veículo econômico, não serve. O melhor também é quando esses quadros podem ser emoldurados e protegidos por um vidro, pois assim eles não ficam gastos rapidamente. Isso porque a maioria dos clientes que levam obras emprestadas para casa é composta de leigos", diz o especialista Stahl.

A taxa paga de meros sete euros por quadro inclui o empréstimo por um período de dois meses, com os seguros pagos. Os incidentes são poucos, garante Stahl: "Aqui em Bonn houve, este ano, apenas dois casos de danos. Uma das pessoas esqueceu a obra emprestada em um trem e uma estudante acabou sendo pega, com o quadro na mão, por uma chuva torrencial".

Para cada pessoa que se interessa por um quadro, Stahl fornece também um pequeno "manual de instruções", contendo informações sobre a vida e obra do artista. Isso na esperança de que os clientes passem a ver algo além do fato de a imagem combinar com a cortina ou com o sofá da sala. "É claro que obras grandes e coloridas saem mais que pequenas obras em preto-e-branco", conta Stahl.

Embora o comportamento de um freguês assíduo acabe mudando com o tempo: "Quem nos procura muitas vezes, não fica mais preocupado exclusivamente com a aparência das imagens. Chega um momento em que essas pessoas começam a procurar obras que se colocam como enigmas", observa o especialista.

"Chatos e engraçados"

Na Alemanha, há mais de 120 artotecas. Muitas pertencem às comunidades locais, sendo parte de uma biblioteca ou mesmo financiadas por alguma associação de arte. Todas precisam prestar atenção em suas finanças. E mesmo que elas agradeçam praticamente toda contribuição, existe um critério de seleção do que incluem em seus acervos ou não. "As pessoas que pegam essas obras emprestadas devem saber que estou convencido da qualidade de tudo o que tenho aqui à disposição", conclui Stahl.

O que dá na mesma para Josef, um menino de sete anos de idade, que chega com a mãe à artoteca em Bonn, em busca de um quadro para dependurar em seu quarto. E ele já sabe qual vai querer: "Esse aqui é bobo. E esse é muito chato. Quero esse aqui, que é engraçado", diz o menino. A imagem preferida é uma serigrafia do artista Peter Angermann: gotas em verde escuro sobre rostos, ao fundo uma floresta em extinção.

"Bom, esse quadro é bastante sério", diz a mãe, um pouco insatisfeita com a escolha do filho. Mesmo assim, ela pede a Johannes Stahl que embrulhe o quadro. Durante dois meses ele ficará dependurado na parede do quarto do garoto. Depois disso, é a vez da nova decoração.