Arte a preço de banana
19 de novembro de 2003A rede popular alemã Aldi, com 1500 filiais em todo o país e no exterior, vai revolucionar o mercado mais uma vez. A partir de dezembro, entre as prateleiras de alimentos, produtos higiênicos, frutas e verduras, seus clientes encontrarão também obras de arte.
Entre 10 e 15 euros custarão as gravuras, todas assinadas, numeradas e datadas, prontas para serem fixadas na parede. O iniciador da ação é Felix Droese, de 53 anos, residente em Düsseldorf. O aluno de Josef Beuys, que já expôs na Documenta, em Kassel, e na Bienal de Veneza, participa com duas obras, numa tiragem de 10 mil exemplares cada uma.
"Passei nove dias assinando as gravuras", garante o artista, famoso por suas obras monumentais sobre madeira abordando temas existenciais, como a vida e a morte, a história e a sociedade contemporânea. Segundo ele, outros sete artistas participam da ação, mas seus nomes não foram revelados.
Arte barata para as massas
Droese, que recebeu um euro por obra assinada, não se importa com o baixo retorno financeiro e nem com as críticas à sua imagem. "Minha reputação não sofrerá dano algum, pois justamente o que pretendo é reverter as hierarquias e assim atingir um público que normalmente não tem acesso à arte burguesa", ressalta o artista, que já organizou ações semelhantes em que obras de arte foram vendidas por pouco mais de dois euros.
O mercado alemão de artes reage à nova concorrência com tranqüilidade. A rede Aldi só contribui para "chamar a atenção de pessoas que normalmente não atingimos", explica o presidente da Confederação Alemã de Galerias. Heinz Holtmann não acredita que seus filiados sofram algum tipo de prejuízo por causa da venda de arte em supermercados populares.
A estratégia da pioneira entre as cadeias gigantes de supermercados baratos, chamados discounters na Alemanha, consiste em oferecer, além do estoque regular, produtos exclusivos fabricados especialmente para as promoções. Elas acontecem nas segundas e quintas-feiras, sendo que a cada vez são oferecidos produtos diferentes.
Arte barata não é novidade
Locais para a venda de objetos de arte a preços acessíveis existem na Alemanha já há alguns anos. Os chamados supermercados de arte de Berlim e de Frankfurt, por exemplo, têm à venda obras para o bolso de qualquer consumidor.Pessoas que jamais entrariam numa galeria de arte dificilmente saem de lá sem comprar algo. Em Berlim, várias galerias do circuito alternativo oferecem produtos por menos de 50 euros. Trata-se de uma nova orientação, intitulada cheap art, que quer se distanciar do mercado elitista de arte.