Líderes britânicos vão à Escócia para tentar barrar independência
10 de setembro de 2014O primeiro-ministro britânico, David Cameron, alertou, nesta quarta-feira (10/09) em Edimburgo, que o resultado do referendo sobre a independência da Escócia será "uma decisão não sobre os próximos cinco anos, mas sobre o próximo século".
Cameron cancelou a sua participação na câmara baixa do Parlamento britânico e partiu para a capital escocesa, juntamente com o líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband, e o liberal-democrata Nick Clegg, para tentar dar novo impulso à campanha do "não" à independência da Escócia.
A viagem havia sido marcada em caráter de urgência, dois dias após a divulgação de uma pesquisa de opinião que colocava os partidários da independência à frente nas intenções de voto, causando efeito devastador entre os apoiadores do "não".
Mudança de postura
Falando a um grupo de apoiadores da união com o Reino Unido, Cameron disse que "ficaria com o coração partido se esta família de nações que reunimos, e com as quais fizemos tantas coisas, se separasse", declarou, num discurso definido como "muito emotivo" pelo diário The Guardian. Segundo o jornal, Cameron esteve "perto de ir às lágrimas".
Trata-se de uma mudança de postura do primeiro-ministro, que, até então, havia preferido se manter à distância do debate.
"Quero mais ao meu país do que quero ao meu partido", assegurou, acrescentando que algumas pessoas poderiam estar confundindo o referendo com uma eleição parlamentar normal. "Se estão fartos dos malditos conservadores, deem-lhes um chute e talvez iremos repensar", afirmou o premiê.
Depois de defender intransigentemente o Reino Unido, Cameron alertou que a Escócia poderá ficar sem dinheiro após a independência, uma vez que Londres se "recusaria" a constituir uma união monetária com Edimburgo.
Por outro lado, ele reforçou a promessa de que, caso os escoceses optem pela permanência no Reino Unido, terão maior autonomia a partir de janeiro.
"À beira de um ataque de pânico"
Ainda segundo o The Guardian, os três dirigentes políticos não deverão aparecer juntos. Os trabalhistas se recusam a aparecer ao lado de Cameron, que é muito impopular na região.
No entanto, o líder do Partido Nacionalista Escocês, pró-independência, e primeiro-ministro do país, Alex Salmond, não pareceu se impressionar com a ofensiva de Londres. "Se o grupo de Westminster se lança na campanha, é porque está à beira de um ataque de pânico", afirmou.
Enquanto Cameron discursava numa sala fechada ao público, Salmond era cercado por uma multidão nas ruas da capital. "Enquanto nós trabalhamos para reforçar o poder do nosso Parlamento, com o objetivo de criar empregos na Escócia, eles apenas procuram proteger os seus lugares", disparou o escocês.
Alguns órgãos de imprensa também ironizaram a visita do trio Cameron-Cleg-Miliband. O tabloide The Sun chegou a exibir uma montagem em que os três líderes britânicos vestiam o tradicional kilt escocês, numa desesperada tentativa de convencer os apoiadores do "sim".
Risco de perder o cargo
A viagem a Edimburgo é uma das intervenções mais significativas de Cameron na campanha, e revela uma crescente pressão sobre o líder conservador.
Diversos meios de comunicação alertaram que o primeiro-ministro poderá até mesmo ser forçado pelos críticos do seu partido a se demitir do cargo, caso não consiga impedir a Escócia de abandonar o Reino Unido.
A inquietação por uma eventual vitória do "sim" fez com que a Bolsa de Londres iniciasse a sessão desta quarta-feira com baixa de 0,31%.
O referendo será realizado no dia 18 de setembro. Um resultado a favor da independência significaria o fim de mais de 300 anos de união da Escócia com o Reino Unido.
RC/lusa/ap/afp