Kerry deixa Berlim sem desculpas nem acordo
31 de janeiro de 2014Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (31/01), em Berlim, o secretário de Estado americano, John Kerry, reconheceu que os Estados Unidos e a Alemanha têm atravessado um "período duro" em suas relações, devido às revelações sobre as atividades de espionagem em solo alemão.
Kerry, que vinha de um encontro com o ministro do Exterior alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse acreditar que as prioridades comuns de segurança manterão próximos os dois países, e assegurou que os Estados Unidos levam a sério o atual descontentamento da Alemanha.
O mal-estar foi desencadeado pela informação, propagada pelo denunciante americano Edward Snowden, de que há anos a Agência de Segurança Nacional (NSA) monitorava o telefone celular da chanceler federal Angela Merkel.
O político democrata lembrou que ambos os países têm "uma longa história de excelente cooperação em temas complicados, como contraterrorismo, segurança e defesa nacionais". Segundo ele, isso prosseguirá, em nome dos interesses comuns, evitando-se danos permanentes. Ele aposta até mesmo numa melhora das relações bilaterais: "Queremos que este seja um ano da renovação."
Sem novidades
Steinmeier também se mostrou otimista após o encontro: "Lá, onde a confiança foi destruída, nós conseguiremos restabelecê-la", antecipou. No entanto, apesar do tom conciliatório, em nenhum momento Kerry sequer esboçou um pedido de desculpas formal pelos atos da NSA. Da mesma forma, ele se esquivou de um posicionamento sobre o acordo bilateral de não espionagem exigido por Berlim.
Indagado pelos jornalistas sobre um eventual compromisso nesse sentido, o secretário de Estado disse que tanto Merkel e o presidente Barack Obama quanto os serviços nacionais de inteligência realizam "consultações". Ele reforçou que os EUA estão "comprometidos com a privacidade", acrescentando: "Nós partilhamos absolutamente o comprometimento de superar isso da forma apropriada."
Em seguida, Kerry reuniu-se com Merkel, que declarou que as relações transatlânticas são de extrema importância, e que as diferenças de opinião sobre o escândalo de espionagem da NSA não as colocarão em xeque. As discordâncias serão "abordadas abertamente", e se encontrarão soluções comuns, passo a passo, prometeu.
Livre comércio e preocupação com Kiev
Tanto Merkel quanto Kerry enfatizaram a importância do planejado acordo de livre comércio entre a União Europeia e os Estados Unidos. Para a Alemanha, como nação exportadora, ele é de grande importância, disse a premiê.
Como comentara na conversa com Steinmeier, o chefe da diplomacia americana crê que o resultado poderá ser um dos maiores mercados comuns do mundo, e nem mesmo as diferenças nacionais nas normas de produção e na defesa do consumidor deverão representar obstáculo insuperável.
O agravamento da crise na Ucrânia foi também foco das declarações dos políticos reunidos em Berlim. Para Kerry, as concessões apresentadas pelo presidente Viktor Yanukovytch aos oposicionistas "não alcançaram ainda um nível adequado de reforma e de compartilhamento do futuro, para que a oposição sinta que pode participar legitimamente das negociações".
A seu ver, "forças exteriores" não devem se envolver numa crise que cabe ao povo ucraniano resolver. Merkel também excluiu, no momento, sanções contra o governo em Kiev – da mesma forma que novos créditos. Ao mesmo tempo, a chanceler instou Yanukovytch a suspender as leis repressivas recentemente decretadas.
De Berlim, John Kerry seguiu para a 50ª Conferência de Segurança de Munique, onde se confrontará com líderes ucranianos pela primeira vez. O evento internacional na capital da Baviera se realiza de 31 de janeiro a 2 de fevereiro.
AV/dpa/rtr/afp/ap