Juramentos de Estrasburgo
13 de maio de 2009Desde a morte de Carlos Magno, em 28 de janeiro de 814, o Reino Franco passava por uma fase de tumultos. A geração dos netos do fundador do império entrou numa disputa por sua herança. O ponto controverso era o papel que Luís, o Piedoso (778-840) – filho de Carlos – pensara em atribuir a Lotário 1º (795-855).
Lotário 1º já fora promovido a cogovernante do império em 817, enquanto seus irmãos Luís, o Germânico (806-876), e Carlos, o Calvo (823-877), haviam recebido, respectivamente, as coroas do Reino Franco Oriental e Ocidental. Isso ocasionou uma longa contenda entre os carolíngios, durante a qual as alianças variaram.
Pedra fundamental para a França e a Alemanha
Para pôr fim à disputa e ao mesmo tempo criar uma aliança contra Lotário, no dia 14 de fevereiro de 842 Luís e Carlos se encontraram, com seus respectivos exércitos, em Estrasburgo. Os juramentos selados na praça do mercado representaram não só uma virada na disputa dos herdeiros pela sucessão carolíngia, mas também um marco na história europeia. Afinal, aqui documentou-se pela primeira vez que os habitantes das metades leste e oeste do antigo Reino Franco não conseguiam mais se entender em uma língua comum.
O texto do juramento, lido por Luís em toda prolixidade diante de ambos os exércitos, apontava o irmão comum Lotário como absolutamente inadequado para o alto posto de imperador. Também justificava que a supostamente indomável animosidade de Lotário estava esfacelando o grande Reino Franco, criando uma situação inaceitável. Nessa convicção, Luís e Carlos prestaram um juramento para se associar inseparavelmente contra Lotário 1º.
Luís, o Germânico, usou para tal a romana lingua, da qual posteriormente se desenvolveu o francês. Carlos, o Calvo, optou pela teudisca lingua, o fundamento do idioma alemão. Isso significa que cada um prestou o juramento de Estrasburgo em seu respectivo dialeto, para que os guerreiros de ambos os lados pudessem entendê-lo.
A divisão da Europa Central
Essa ruptura linguística foi registrada em documento pela primeira vez em 14 de fevereiro de 842. Nos anos seguintes, foram acertados outros tratados que selaram a divisão da Europa Central e deram ao continente as feições de hoje.
No Tratado de Verdun, de 843, Luís, o Germânico, adquiriu o Reino Franco Oriental, limitado ao oeste pelo curso do Reno, ao sul por uma linha entre Genebra e Chur e a leste por Regensburg, Magdeburg e Hamburgo. No centro da Europa, coube ao imperador Lotário 1º um território que se estendia da Frísia até a Itália, incluindo a Lorena, a Borgonha e a Lombardia. Carlos, o Calvo, recebeu o restante do reinado, que correspondia essencialmente à atual França.
Com o Tratado de Meersen, de 870, a parte central do continente, correspondente aos atuais Estados do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) até a antiga Borgonha, foi dividida em partes quase iguais entre o Reino Franco Oriental e o Ocidental. A Lotaríngia foi dissolvida após a morte de Lotário 1º, e a parte sul se tornou o Reino da Itália, sob um rei longobardo.
As fronteiras definitivas entre os futuros territórios da França e da Alemanha foram estipuladas em 880, no Tratado de Ribemont. Com isso, a parte oeste da antiga Lotaríngia passou para o Reino Franco Oriental.
A atual parceria franco-alemã, considerada por muitos o motor do desenvolvimento europeu, tem suas raízes no início do século 9º, quando um reino foi dividido em dois, que continuariam a se desenvolver independentemente no decorrer dos séculos seguintes.
Autor: Matthias von Hellfeld
Revisão: Augusto Valente