Jovens refugiados na Alemanha sofrem com deportação para o Kosovo
16 de abril de 2012Desde 2009, a Alemanha está autorizada a deportar kosovares. Em 2010, o então ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, assinou um acordo de repatriação com a República do Kosovo, que previa o retorno de até 12 mil membros de minorias dos Bálcãs, já que o Kosovo é considerado, atualmente, um país seguro.
Entre os que serão repatriados estão também 6 mil crianças e jovens de diferentes grupos étnicos. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) exige agora uma proibição ampla para a deportação de crianças e adolescentes kosovares, caso isso ameace sua saúde física e mental.
O estudo Stilles Leiden (sofrimento silencioso, em tradução livre), apresentado pela Unicef no final de março em Berlim, mostra que esse é quase sempre o caso. A pesquisa realizada em meados do ano passado entrevistou 164 crianças e 131 pais, que viviam na Alemanha e na Áustria, mas foram repatriados para o Kosovo em 2010.
Uma em cada quatro pensa em suicídio
A socióloga Verena Knaus, da Unicef, afirmou que "temos crianças que sofrem de uma ansiedade tal, que se atormentam até mesmo com pensamentos de suicídio: uma em cada quatro crianças quer se suicidar", declarou Knaus.
A metade das crianças deportadas declarou que seu retorno foi o pior acontecimento de suas vidas. Por volta de 44% de todos os jovens sofrem de depressão e quase um terço dos menores apresenta distúrbios pós-traumáticos, constatou a pesquisa.
Ardian Canaj é um desses jovens. Um funesto subúrbio de Peja, no oeste do Kosovo, passará a ser sua nova casa. O jovem de 20 anos nasceu e cresceu na Alemanha, mas há sete meses foi deportado para a pátria de seus pais.
"Pão e pimentão"
"Na Alemanha, eu frequentava a escola, mas aqui tudo isso acabou. Eu tenho que trabalhar para pagar meu aluguel", explicou Ardian Canaj. Mas ele só ganha 100 euros por mês – e somente para o aluguel ele precisa de 120. "Eu me sinto muito mal aqui. Eu não tenho nem família nem ninguém perto de mim. Eu não vejo nenhum futuro para mim", disse o jovem.
Shkelzen Rama, um morador de 52 anos da nova vizinhança de Ardian Canaj, conhece bem os problemas de crianças e adolescentes deportados. "É muito difícil para eles se integrarem na nossa sociedade. Na maioria das vezes, quem nasce e cresce na Alemanha não fala albanês", disse.
Também é muito difícil se adaptar às diferenças no estilo de vida: "Nossas crianças se contentam com um pedaço de pão e um pimentão, mas o que podemos oferecer a jovens que cresceram no Ocidente e estão acostumados com pizza e picolé?", indagou o kosovar.
A pobreza e a discriminação
O Kosovo é o país mais pobre da Europa, com uma taxa de desemprego de 40%. Mas, para Ardian, o problema vai além da pobreza. Sua situação se agrava ainda mais por sua etnia: ele pertence à minoria dos chamados kosovares egípcios. Assim como os membros das etnias rom e ashkali, eles são classificados de forma depreciativa como "ciganos".
Os kosovares egípcios afirmam ter raízes egípcias, enquanto os ashkali dizem ter origem persa. Pouco após a guerra no Kosovo, membros de todos os três grupos foram expulsos pelos albaneses, com a alegação de terem colaborado com os sérvios. Tais acusações levam até hoje a casos de discriminação das pessoas de etnia rom, ashkali e kosovares egípcios.
Deportação destrói famílias
Além disso, para muitos afetados, a deportação implica a separação violenta da própria família. Essa experiência dolorosa foi vivenciada também por Faruk Kelmendi, de 28 anos.
"Quando eu vim para o Kosovo, eu não podia fazer nada. Eu não tinha nem trabalho nem casa, e tive que ficar uma vez e outra na casa de estranhos", disse Kelmendi, que veio para a Alemanha com seus pais quando tinha aos oito anos.
"Minha esposa me apoiou financeiramente, a princípio, mas depois veio a separação. Ela continua a viver na Alemanha com nossa filha e eu, no Kosovo – a distância foi um peso muito grande para a relação." Agora Faruk Kelmendi está sozinho.
Privação material e absoluta solidão são também os problemas do kosovar-egípcio Ardian Canaj. "Eu daria tudo para voltar para a Alemanha", disse o jovem de 20 anos. "Pois ali eu deixei toda a minha vida."
Autora: Ajete Beqiraj / C. Albuquerque
Revisão: Roselaine Wandscheer