Exposição em Versalhes
12 de setembro de 2008Há anos que uma mostra ou retrospectiva não causava tanta sensação na França como a exposição Jeff Koons em Versalhes. Pessoas ativas nos setores culturais e habitantes do subúrbio, distante 20 quilômetros do centro de Paris, na região oeste da cidade, protestam há semanas contra a mostra aberta na quinta-feira (11/09) e que poderá ser visitada até 14 de dezembro próximo.
Os objetos do "rei do kitsch" apresentados nos compartimentos reais do Palácio de Versalhes são considerados por muitos como uma ofensa à herança cultural francesa. Seria como colar uma barba postiça na Mona Lisa, explica o presidente da União de Escritores da França.
O que o artista nova-iorquino quer, realmente, com seu imenso cachorro metálico em tom de vermelho e seu coelhinho da Playboy é somente nos confrontar com imagens que fazem parte da nossa infância. Muitas pessoas, no entanto, parecem não entender tal procedimento artístico. "A provocação somente pela provocação é um joguinho pouco interessante. Acredito que meu trabalho é mais libertador", diz o artista.
"Mais um negócio entre amigos"
O iniciador da exposição Jean-Jacques Aillagon, presidente do Museu e do Patrimônio Nacional de Versalhes, explica que "as obras foram escolhidas de tal forma que elas se relacionem com cada um dos espaços". Aillagon é amigo do artista e, como antigo ministro francês da Cultura, nomeou Koons, em 2001, Cavaleiro da Legião de Honra. Pessoas da cena cultural criticam o fato e afirmam que se trata de "mais um negócio entre amigos".
Em cada um dos luxuosos compartimentos reais no primeiro pavimento do Palácio de Versalhes se encontra uma obra do norte-americano. Parece, no entanto, que somente poucos objetos tiveram sucesso em seu diálogo com o entorno.
Não se pode entender, à primeira vista, por que o Balloon Dog de mais de dois metros de altura está no meio da Sala de Hércules. O imenso cachorro vermelho escuro de aço inoxidável se encontra entre duas pinturas clássicas, uma delas é o quadro pintado por Paolo Veronese, em 1570, Festim em casa de Simão.
Iluminação de neon
O Michael Jackson neobarroco de porcelana em tamanho natural entroniza o Salão de Vênus, a deusa do amor. Ele está sentado no chão com um macaco no braço – atrás dele, num nicho, o busto feito por Jean Warin em 1672 de Luís 14, o Rei Sol, antigo senhor de Versalhes. Nenhum dos trabalhos escolhidos por Koons foi feito especialmente para a exposição. A maioria provém dos anos 1980 e 90, como a instalação de aspiradores de pó em caixas de vidro herméticas com iluminação de neon.
Os eletrodomésticos estão na antecâmara da Grand Couvert [sala onde Luís 14 comia em público], onde estão pendurados os retratos das rainhas da França. As alusões de Koons são diversas: o tubo faz referência ao símbolo fálico, aspirar é uma atividade tipicamente feminina e os novos equipamentos aludem à virgindade e à imortalidade. "Eu me pergunto o que realmente curadores e artista quiseram dizer com estas associações", diz uma das funcionárias em Versalhes.
Objetos metálicos coloridos e reluzentes como a imensa lagosta pendurada no teto por uma corrente ou a gigantesca lua azul metálica na qual se refletem incontáveis candelabros, no final da famosa Sala dos Espelhos, têm efeito espetacular.
Da mesma forma, o Split Rocker, instalação de mais de 11 metros de altura feita com mais de 90 mil flores, impressiona pela originalidade e tamanho no jardim da orangerie. Já em 2000, a instalação-escultura causou furor no Festival de Avignon.
"O rei do kitsch no reino do Rei do Sol"
Na França, é cada vez mais comum grandes museus exporem arte contemporânea em seus espaços, como por exemplo, o Louvre. Há poucos meses, o museu parisiense mostrou com sucesso instalações e esculturas do provocador da arte belga Jan Fabre – entre elas imensas minhocas de plástico e besouros mortos – nas salas da pintura flamenga, entre obras de arte de Jan van Eyck, Peter Paul Rubens e Pieter Brueghel, o velho.
Por outro lado, a exposição em Versalhes se compara a um imenso espetáculo colorido de marketing. "Tenho que transmitir minha cultura e mostrar às pessoas qual é a delas", afirma Koons. Assim também foi a manchete da imprensa francesa: "O rei do kitsch no reino do Rei do Sol".