Formas de exposição
16 de maio de 2007Após o anúncio dos locais escolhidos pelos curadores da documenta 12, no final de abril, poder-se-ia resumir da seguinte forma seu conceito de exposição: a idéia do espaço neutro de mostras, da galeria com paredes pintadas de branco, vazia e isolada do mundo – o cubo branco –, tem seus dias contados.
Baseados em conceitos de exposição desenvolvidos pelo fundador da mostra, Arnold Bode, e também por artistas e arquitetos como o austríaco Frederick Kiesler e a brasileira de origem italiana Lina Bo Bardi, os curadores da documenta 12 não pouparam esforços para impor seu conceito arquitetônico nas diversas locações.
Aue-Pavillons
Esta concepção fica mais clara nos Aue-Pavillons, o palácio de cristal temporário de 12 mil metros quadrados construído especialmente para a mostra. Seu espaço interno engloba três formas de exposição. Primeiramente, os objetos serão apresentados isoladamente, quase sem suporte. Segue-se um espaço com um intricado sistema de paredes divisórias que, em alguns momentos, se abre para permitir encontros inesperados.
Por último, os trabalhos estão expostos no habitual cubo branco, cuja parede lateral em vidro se abre para os jardins da Orangerie. Os Aue-Pavillons irão abrigar 140 dos cerca de 400 objetos expostos na documenta deste ano. Apesar de os organizadores afirmarem que a arquitetura deste palácio de cristal seguiu as necessidades da arte, a solução arquitetônica não foi das mais felizes.
Por motivos de proteção solar, as paredes em cortina de vidro serão revestidas com cortinas prateadas, o que nada agradou aos seus projetistas, o escritório parisiense Lacaton & Vasa.
Museu Fridericianum
As paredes divisórias não-estruturais do prédio do final do século 18 também serão removidas. Os diferentes pavimentos estão definidos pelas cores das paredes, para facilitar a orientação. Até a escada helicoidal, presente no projeto original e removida em uma refoma durante os anos de 1980, foi reconstruída na entrada, ligando o térreo ao primeiro pavimento. Além de 85 obras, os 3,8 mil metros quadrados do Museu Fridericianum abrigarão também o setor de serviços.
Ali haverá tíquetes, chapelaria, visitas guiadas poderão ser marcadas e catálogos estarão à venda. A maior parte da gastronomia se localizará na Friedrichplatz, a praça em frente ao museu. Mas como afirma Roger Buergel, chefe da documenta, "7 mil refeições por dia têm que ser, naturalmente, descentralizadas".
Neue Galerie
As pequenas salas e gabinetes do museu inaugurado em 1877 espelham a falsa moral burguesa da era guilhermina, afirmam os curadores da documenta 12. No edifício destinado a um visitante exclusivo, surgiu o problema de abri-lo a um fluxo maior de público. A entrada principal foi então transferida para outra fachada de forma que os visitantes possam iniciar seu percurso tanto pela esquerda como pela direita.
A dificuldade arquitetônica do prédio gerou, no entanto, uma solução criativa. As paredes dos pavimentos foram pintadas em tons berrantes – embaixo, verde; em cima, rosa. Nos 2,9 mil metros quadrados da Neue Galerie poderão ser apreciadas 113 obras.
O castelo Wilhemshöhe e o Bergpark
No conjunto barroco formado pelo castelo Wilhemshöhe e o Bergpark, serão expostos, ao todo, 43 trabalhos. Quatro trabalhos de artistas contemporâneos serão integrados à coleção permanente do museu no castelo Wilhelmshöhe, denominado como "nossa câmara do tesouro" pela curadora da mostra Ruth Noack. O parque em volta, o Bergpark, onde também serão mostrados alguns trabalhos ao ar livre, é um local, para "amolecer e descansar", segundo Noack.
documenta-Halle
Planejado não foi, mas o conceito de exposição da documenta 12 se divide também de forma temporal: o Fridericianum de 1779 seguirá a tradição do "gabinete de curiosidades", a Neue Galerie do século 19 apresentará trabalhos mais íntimos. O documenta-Halle, como prédio da segunda metade do século 20, intermediará as áreas de comunicação e exposição.
Em seu imenso lobby, estarão concentradas as revistas da documenta 12, o departamento de comunicação, bem como o conselho da mostra em Kassel. Os espaços de exposição adjacentes estão reservados à arte.
Os edifícios podem curar?
Can buildings curate? (Os edifícios podem ser curadores?) é o nome da exposição realizada na AA (The Architectural Association) de Londres no início de 2005. A primeira exposição sobre formas de exposições de que se tem notícias. O jogo de palavras do título denuncia a intenção dos arquitetos londrinos – explorar a relação entre o espaço, observador, a arquitetura e a obra de arte.
Entre outros, estavam expostos o trabalho do austríaco Frederick Kiesler (1890-1965), cujo "Manifesto Correalista" defendia a dinâmica relação entre a arte, o entorno e o ponto de vista do observador e da brasileira de origem italiana Lina Bo Bardi (1914-1992) com sua revolucionária forma de exposição no Masp de São Paulo, onde pinturas penduradas em painéis de vidro fixados em cubos de concreto pareciam flutuar magicalmente no imenso vão do museu.
A genialidade da arquiteta brasileira, afirmam os curadores de Can buildings curate?, esteve em confrontar o espaço épico com a individualidade de cada obra de arte. São suas as influências, juntamente com as de Kiesler, que o visitante encontrará na forma de expor das obras da documenta 12.