Seqüestros no Afeganistão
25 de julho de 2007Poucos dias após o anúncio da morte de um dos dois engenheiros alemães seqüestrados há uma semana no Afeganistão, chega a notícia, nesta quarta-feira (25/07), do seqüestro de um jornalista dinamarquês e da morte de um dos 23 reféns sul-coreanos seqüestrados pelos talibãs.
Para libertar os reféns, o grupo radical-islâmico, que também detém o engenheiro alemão, exige do governo de Cabul a libertação de prisioneiros, entre outras condições. Os talibãs ameaçam assassinar os demais sul-coreanos em seu poder, caso suas exigências não sejam satisfeitas até a 1h (hora local) desta quinta-feira.
Apesar do atual drama dos reféns, a chanceler federal Angela Merkel reafirmou, por ocasião do encontro com o enviado especial da ONU para o Afeganistão, Tom Koenigs, em Berlim, sua política para o Afeganistão.
"De longo prazo, importante e imprescindível"
Tom Koenigs exigia, já no ano passado, que as Forças Armadas alemãs (Bundeswehr) também fossem enviadas ao turbulento sul do Afeganistão. Desta vez, seu apelo ao governo de Berlim é: a Alemanha não deve se intimidar e deve fortalecer ainda mais sua atuação.
Merkel afirmou que sua conversa com Koenigs, nesta quarta-feira, demonstrou estar correta a estratégia da Alemanha para o Afeganistão, acrescentando que a atuação alemã seria "de longo prazo, importante e imprescindível".
A chefe de governo definiu o prosseguimento da estratégia alemã como primeira tarefa desta missão. Em segundo lugar, estaria o restabelecimento do estado de direito no país.
Merkel considera ainda como tarefa alemã apoiar os países vizinhos – por exemplo, o Paquistão – no cumprimento das Metas do Milênio, de combate à pobreza e fomento ao progresso. Pois a estabilidade em um país dependeria sempre de suas chances de desenvolvimento, declarou Merkel.
"Iraquização" do Afeganistão
Rolf Tophoven, diretor do Instituto de Pesquisa sobre Terrorismo, em Essen, afirmou, no entanto, que o atual número de seqüestros mostra uma tendência que pode levar à "iraquização" do Afeganistão, mesmo que os políticos, muitas vezes, não queiram ver este fato.
Em ambos os países, nem as autoridades locais nem as tropas de ocupação poderiam garantir a segurança necessária para a construção da infra-estrutura civil. O Iraque seria o principal campo de atuação do terrorismo islâmico e o Afeganistão estaria indo pelo mesmo caminho, afirmou o diretor.
O objetivo dos talibãs, no Afeganistão, seria impedir a reconstrução do país e desacreditar as forças de ocupação, para assim "construir uma grande frente contra o Ocidente" e alcançar a retirada total das tropas estrangeiras. Para tal, os talibãs utilizam todas as possibilidades de propaganda, como no caso dos recentes seqüestros.
Segundo Tophoven, não estaria fora de cogitação o planejamento de atentados na Alemanha, por parte dos talibãs, como forma de atingir seus objetivos. Isto valeria, principalmente, para o próximo trimestre, quando o Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, deverá decidir sobre a prorrogação do mandato da Bundeswehr no Afeganistão.
"A Alemanha não foi declarada alvo explícito"
Apesar dos seqüestros, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier (SPD), advertiu contra uma dramatização das atuais ameaças à Alemanha pelo terrorismo internacional.
"A Alemanha não foi declarada alvo explícito", declarou Steinmeier à revista Stern. Segundo o ministro, não haveria indícios concretos de que o país estaria na iminência de atentados.
Steinmeier afirmou que: "Pelo contrário: o aumento do número de seqüestros e de atentados suicidas é um indício de que os talibãs não ousariam mais um conflito aberto com o governo central e as tropas internacionais".
Apesar disso, uma pesquisa publicada pela revista Focus nesta semana indica que a maioria dos alemães deseja a retirada de suas tropas do Afeganistão. Segundo a pesquisa, 61% dos entrevistados se posicionaram pelo fim da atuação da Bundeswehr na região. Somente 36% concordam com o prosseguimento da missão junto à Isaf, força responsável pelo controle do Afeganistão, sob mandato da ONU. (ca)