Interferências da língua materna no aprendizado do alemão
21 de abril de 2003Foram suas experiências pessoais que despertaram o interesse de Karen Pupp Spinassé, formada em Português e Alemão pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para a tese de doutorado desenvolvida na Universidade Técnica (TU) de Berlim e que visa a analisar e facilitar o aprendizado do alemão no Brasil. "Durante os meus estudos, pude, como aluna, perceber as complexidades da língua alemã e, mais tarde, como professora, compreender as dificuldades que os alunos apresentam ao aprendê-la como língua estrangeira", declarou à DW-WORLD.
Para ela, são claramente perceptíveis as influências, nem sempre positivas, que a língua portuguesa, em sua variante brasileira, exerce no aprendizado da alemã, principalmente sendo os alunos de faixas etárias mais avançadas. Isto é, "quando já dominam perfeitamente a língua materna e seus mecanismos gramaticais e estão completamente imersos no contexto regional-cultural do país".
Diferenças regionais —
Claro que a pesquisadora leva em consideração, em sua análise, as diferenças que se manifestam em regiões como o Sul do Brasil, principal foco da imigração alemã durante todo o seu processo, onde as famílias falam alemão em casa e as crianças têm acesso, em parte, a escolas onde se ensina o idioma como primeira língua e podem praticá-lo também em centros comunitários e na igreja. Ou em centros urbanos como o Rio de Janeiro e São Paulo, onde se encontram, ao lado dos agrupamentos fechados e tradicionais de descendentes de imigrantes, centenas de alemães a trabalho e negócios, em caráter temporário ou não.Duas escolas-modelo —
Para substanciar sua tese sobre as interferências da língua materna no aprendizado do alemão no Brasil, a professora Spinassé selecionou duas escolas: uma no Rio de Janeiro, o Colégio Cruzeiro, onde o alemão é abordado apenas como língua estrangeira e não se oferecem aos alunos matérias como física e matemática em alemão, como nas duas outras escolas alemãs lá existentes; a segunda no Rio Grande do Sul, o Colégio Teutônia, que conta com um grande número de alunos e onde o ensino é direcionado a um público de classe média alta, encaixando-se no perfil por ela desejado."A diferença entre as duas escolas é que o Colégio Cruzeiro é freqüentado por maioria de alunos falantes do português como língua materna, enquanto o Colégio Teutônia é freqüentado por maioria de alunos bilingües, que falam português e hunsrückisch", esclarece. [No caso do hunsrückisch, trata-se de uma variante dialetal do alemão que se manteve no Sul do Brasil entre os imigrantes originários da região do Hunsrück e que demonstra, por um lado, elementos lingüísticos antiquados e, por outro, fortes influências do português brasileiro.]
Glossário múltiplo —
A pesquisadora faz questão de salientar que nem todas as interferências produzem erros — existem também interferências positivas —, assim como "nem todos os erros provêm de interferências". Em seu trabalho, porém, ela se concentrou nas interferências "que devem ser entendidas como perturbações e de onde, muitas vezes, provêm os erros no aprendizado do alemão".Assim sendo, a professora Spinassé fez um levantamento amplo e estruturou um glossário vasto das interferências mais correntes do português como língua materna, agrupadas em blocos referentes à ortografia, fonética, gramática, léxico, sintaxe e mesmo interferências pragmáticas. Não deixou de lado um glossário alemão que "mistura o português com o alemão".
"Ainda há muito por fazer", salienta a pesquisadora. A área do alemão como língua estrangeira só existe como curso próprio há pouco tempo — mesmo na Alemanha — e "a minha pesquisa é uma das poucas a trabalhar com o aprendizado do alemão no Brasil". O trabalho se insere no contexto do interesse dos professores universitários alemães em juntar pesquisas sobre o ensino do alemão em diferentes países.
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