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Inteligência alemã alerta para aumento da espionagem russa

14 de outubro de 2024

Agências alemãs afirmam que Rússia poderá estar em posição de atacar a Otan "até o final da década" e pedem mais poderes para conter aumento das ações de espionagem e sabotagem de Moscou.

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Fachada da sede do Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV) da Alemanha
Chefes da inteligência alemã também alertam para a ameaça à Alemanha representada pela China, Irã e extremistasFoto: Jörg Carstensen/picture alliance

Os chefes dos serviços de inteligência alemães alertaram nesta segunda-feira (14/10) para uma crescente ameaça representada pela Rússia. Eles disseram ter motivos para acreditar que Moscou poderá ser capaz de lançar um ataque direto à Otan "até o final desta década".

Em uma reunião anual do Comitê de Supervisão Parlamentar em Berlim, os chefes das três agências de inteligência da Alemanha – o Serviço Federal de Inteligência (BND), o Serviço de Contrainteligência Militar (MAD) e o Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV) – relataram um aumento "quantitativo e qualitativo" dos atos de espionagem e sabotagem patrocinados pela Rússia em solo alemão.

"Observamos um comportamento agressivo por parte dos serviços de inteligência russos", disse o chefe do BfV, Thomas Haldenwang. Ele advertiu que tais atividades "atingiram um novo patamar nos últimos meses, o que deve servir de alerta para todos".

Espionagem, sabotagem e desinformação

Além das campanhas de desinformação na mídia e dos drones espiões, Haldenwang destacou um incidente em um centro de logística da DHL (divisão dos Correios da Alemanha) na cidade de Leipzig, em julho, onde um pacote pegou fogo antes de ser colocado em um avião de carga que estava atrasado. Para o chefe do BfV, trata-se de um ato suspeito de sabotagem russa.

O chefe do BND, Bruno Kahl, ressaltou que o presidente russo, Vladimir Putin, já declarou a Alemanha como um país inimigo devido ao apoio contínuo de Berlim à Ucrânia, dois anos e meio após a invasão russa ao território ucraniano.

"Quer gostemos ou não, estamos em confronto direto com a Rússia", afirmou, alertando que "um confronto militar direto com a Otan [poderia ser] uma estratégia de ação para a Rússia" até 2030, enquanto Putin persegue seu objetivo de longo prazo de enfraquecer o Ocidente e estabelecer uma nova ordem global.

Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, refutou as alegações, dizendo que, na verdade, é a Otan que está ameaçando a Rússia ao se expandir para o Leste Europeu.

Irã, China e extremistas

Os chefes da inteligência alemã também alertaram para a ameaça à segurança da Alemanha representada pela China e pelo Irã, externamente, e pelo islamismo e extremismo de direita, internamente. "Há incêndios em todos os lugares", disse Haldenwang.

O alerta dos alemães veio menos de uma semana depois de seus colegas britânicos do MI5 advertirem sobre ameaças semelhantes representadas pela Rússia, Irã e afiliados da organização terrorista "Estado Islâmico" (EI), particularmente do Afeganistão, país controlado pelo Talibã.

Também nesta segunda-feira, informações divulgadas em um inquérito público no Reino Unido revelaram que um frasco de perfume contendo o agente nervoso letal Novichok, que envenenou fatalmente uma mulher britânica inocente após a tentativa de assassinato do ex-espião russo Sergei Skripal na cidade inglesa de Salisbury, em julho de 2018, continha "veneno suficiente para matar milhares de pessoas".

Chefes do BfV, Thomas Haldenwan; do MAD, Martina Rosenberg e do BND, Bruno Kahl
Chefes do BfV, Thomas Haldenwang (esq.); do MAD, Martina Rosenberg e do BND, Bruno Kahl Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance

O próprio Skripal disse durante o inquérito que acredita que o Kremlin estava por trás da tentativa de assassinato, embora tenha reconhecido que não tinha evidências concretas.

Bundeswehr na mira de Moscou

A presidente do Serviço de Contrainteligência Militar (MAD) da Alemanha, Martina Rosenberg, disse ao Comitê Parlamentar que a Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) é um alvo particular para Moscou, cujas atividades ela chamou de "motivo de preocupação".

Rosenberg disse que a Bundeswehr enfrenta um "aumento acentuado" dos atos de espionagem e sabotagem, "seja através de investigações sobre entregas de armas alemãs para a Ucrânia, programas de treinamento, projetos de armamentos, ou atos de sabotagem para incutir um sentimento de insegurança".

Os três chefes da inteligência alemã pediram maiores poderes para continuarem a trabalhar efetivamente. O chefe do BND, inclusive, criticou os planos atuais do governo para aumentar o controle político sobre os serviços de inteligência do país.

"Não devemos sufocar completamente a nossa produção", afirmou Bruno Kahl, alertando que o aumento da supervisão viria às custas da "eficiência, segurança e liberdade".

Kahl pediu novos mecanismos para aprimorar a troca de informações entre o BND e a Bundeswehr, particularmente em defesa cibernética. O presidente do BfV, Haldenwang, exigiu mais poderes para "monitorar as telecomunicações de grupos perigosos" e facilitar a análise em massa de dados com a ajuda da inteligência artificial.

Nenhum dos pedidos é possível sob a lei alemã atual. A chefe do MAD, Rosenberg, lamentou que isso também impeça a contrainteligência militar de se posicionar ao lado do batalhão da Bundeswehr que deve ser estacionado na Lituânia, perto da fronteira russa.

Ao exigir "mais espaço operacional" para os serviços de inteligência, Kahl disse que o Zeitenwende (ponto de inflexão histórico ou mudança de paradigma) proclamado pelo chanceler federal Olaf Scholz após a invasão da Ucrânia pela Rússia, "ainda aguarda conclusão".

rc (AFP, Reuters, dpa)