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Instabilidade sísmica

14 de julho de 2011

Para especialistas, estudos ainda não garantem segurança da população próxima a uma usina no caso de um terremoto intenso, como o ocorrido no país em 2010.

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Nuclear Central La Reina, of the Chilean Comission of Nuclear Energy, in Santiago, Chile, next to Los Andes; Santiago (Chile) 2011; Copyright: CCHEN
Central nuclear de pesquisa La Reina: na encosta dos AndesFoto: CCHEN

Quando o reator nuclear para pesquisas entrou em operação em 1974 em La Reina, na encosta da Cordilheira dos Andes, a leste de Santiago, não havia ali mais do que alguns campos desertos. Mas a capital foi crescendo e hoje as instalações estão cercadas por um bairro residencial.

Também não eram bem conhecidos os riscos de uma falha geológica que atravessa a região. Neste lugar se vê a olho nu uma descontinuidade morfológica, como se fosse um degrau. Trata-se da falha de San Ramón, que se estende por cerca de 30 quilômetros de norte a sul, paralela à Cordilheira dos Andes, e que passa por casas, edifícios, universidades e uma usina de gás. Segundo estudos iniciados há cerca de cinco anos, trata-se de uma falha potencialmente ativa – diferentemente do que se pensava antes.

"Ela pode produzir terremotos entre 6,9 e 7,4 graus de magnitude, com uma ocorrência a cada 2,5 mil a 10 mil anos", explica José Cembrano, presidente da Sociedade Geológica do Chile e professor da Universidade Católica.

Apesar de parecer um intervalo de tempo relativamente amplo, na verdade não se sabe quando houve ali o último tremor de terra. Uma equipe de geólogos da Universidade do Chile realiza estudos no terreno para determinar isso e obter informações mais precisas.

O Chile tem uma sismicidade própria devido ao movimento das placas de Nazca e da Sul-americana. Na área de convergência das placas tectônicas, espera-se um grande terremoto, de 8 a 9 graus de magnitude, a cada 100 anos. Mas as falhas podem influenciar este processo. Mesmo que o movimento das placas seja menor e os terremotos mais espaçados – de milhares de anos – por serem superficiais, as falhas podem produzir grandes danos, concentrados em uma só área.

Reatores da década de 1970

Medical laboratory inside the Nuclear Central La Reina, of the Chilean Comission of Nuclear Energy, in Santiago, Chile; Santiago (Chile) 2011; Copyright: CCHEN
Pesquisas nucleares usadas na medicina e na indústriaFoto: CCHEN

Atualmente, o Chile tem dois reatores nucleares para pesquisas que datam dos anos 1970, ambos sob responsabilidade da Comissão Chilena de Energia Nuclear (Cchen). Um deles não está em funcionamento e o outro, o de La Reina, é usado na produção de radioisótopos para uso na medicina, indústria, agricultura e mineração.

Segundo a Cchen, os projetos dos reatores levaram em conta a sismicidade própria do país. No entanto, não se conhecia detalhes da falha de San Ramón, atualmente objeto de novos estudos geológicos.

Especialistas em energia nuclear garantem que La Reina não oferece perigo. "O reator tem grande capacidade de refrigeração, no que se refere à quantidade de combustível, por isso o risco é bem baixo", explica Julio Vergara, engenheiro e professor da Universidade Católica.

O engenheiro Claudio Tenreiro, professor da Universidade de Talca e ex-diretor da Cchen, afirma tratar-se de "um reator experimental, de piscina, de potência muito baixa, que dispõe dos elementos necessários para resistir a um grande abalo de terra e que suportou muito bem todas as ocorrências desde sua construção".

Segundo Luis Frangini, diretor da comissão, os reatores chilenos contam com todas as medidas de segurança necessárias para aguentar os abalos sísmicos de grande intensidade, como um sistema de parada por movimento do solo.

Santiago em alerta

"Hoje é o Japão, amanhã pode ser a gente. Santiago dorme com a morte". Sob este lema, vizinhos de comunidades próximas ao reator se uniram após o acidente de nuclear de Fukushima, em março deste ano. Juntamente com representantes comunitários, eles alertam sobre os possíveis perigos de viver com um reator nuclear em uma área de riscos sísmicos. O objetivo do grupo é conseguir a transferência do reator para uma área desabitada.

José Cembrano, Präsident der Geologischen Gesellschaft Chiles. Er hat uns selbst das Bild geschickt und uns die Rechte gegeben
Para Cembrano, a transferência do centro nuclear não resolve a questãoFoto: José Cembrano

No momento, a Cchen não cogita fechar o reator e transferi-lo para outra área. "Tal medida não é necessária. Foram feitos estudos pertinentes e nenhum deles indicou perigo para a população dos arredores", garante Luis Frangini.

La Reina passou por sua maior prova de fogo na madrugada de 27 de fevereiro do ano passado. O reator estava em funcionamento, operando na potência de 5MW, quando aconteceu um dos maiores terremotos da história do Chile. Com 8,8 graus de magnitude, seu epicentro foi no sul do país.

Frangini explica que durante o abalo sísmico o sistema de parada por movimento do solo enviou um sinal que provocou o desligamento automático do reator. "Logo depois, ele foi inspecionado pelos operadores e pelos inspetores de segurança nuclear. Eles constataram que as estruturas, os sistemas e os componentes se comportaram conforme planejado", disse.

Foi a primeira vez que o reator estava em funcionamento no momento em que ocorreu um tremor de grande magnitude.

Possibilidade de transferência

No entanto, o fato de o reator ter respondido bem ao terremoto não tranquiliza os vizinhos do La Reina. Eles argumentam que a natureza é imprevisível e que a maior preocupação é com o risco de que a falha de San Ramón se agrave, somado ao perigo de um acidente nuclear em um setor densamente povoado.

"Supondo que os estudos apontem um perigo que justifique uma mudança, isso implicaria avaliar a possibilidade de passar as atividades associadas a este reator a outro centro nuclear, o Lo Aguirre, e desmantelar o La Reina. Mas isso teria um custo para o país. Esta é uma decisão importante a ser avaliada", aponta Claudio Tenreiro.

O engenheiro acredita que a mudança não impediria que no outro centro nuclear, nos arredores de Santiago, também ocorra um aumento da população. "Também será uma questão de tempo para este centro estar rodeado de gente, levantando as mesmas questões, pois certamente deve haver alguma falha nas proximidades, sem contar a sismicidade intrínseca chilena devido ao movimento das placas".

Boats lay among damaged homes in Dichato, Chile, Thursday, March 4, 2010. An 8.8-magnitude earthquake struck central Chile early Saturday. (AP Photo/Natacha Pisarenko, Pool)
Reator não sofreu danos com forte terremoto do ano passadoFoto: AP

Alternativa competitiva

Se os reatores chilenos de pesquisas, de baixa potência, parecem ter resistido bem até agora a todos os tremores de terra, a pergunta que se faz é o que aconteceria com uma central de energia nuclear.

"Acredito que tecnicamente seja factível dispor de centrais nucleares adequadas à sismicidade local", diz Claudio Tenreiro. Julio Vergara também ressalta que "é possível, mas é preciso fazer um bom ajuste entre o tipo do reator e o local adequado para ele".

Os especialistas concordam que isso implicaria estudar os custos e a rentabilidade da central. "Caso sejam necessários sistemas adicionais contra terremotos, isso teria implicações econômicas importantes, o que levanta a pergunta se esta seria uma alternativa competitiva ou não", disse Vergara.

Na opinião do geólogo José Cembrano, o Chile tem várias falhas geológicas conhecidas – algumas delas, ativas – e também algumas cuja natureza não é bem conhecida. "E o mais grave é que não sabemos a idade do último movimento, nem o intervalo de ocorrência. Por isso não sabemos que tipo de ameaça representam", explica.

Muitos estudos são bastante recentes e estão em curso. Por isso, sobre a possibilidade de se construir centrais nucleares no Chile, Cembrano alerta: "Seria uma irresponsabilidade".

Autora: Victoria Dannemann (ms)
Revisão: Roselaine Wandscheer