Contra Angra 3
6 de julho de 2011Ambientalistas alemães protestaram na manhã desta quinta-feira (06/07), em frente à chancelaria federal alemã, em Berlim, contra a já prometida fiança para a construção da usina nuclear de Angra 3.
Os ativistas das organizações Urgewald e Campact pretendiam entregar um abaixo-assinado ao ministro alemão da Economia, Philipp Rösler, mas não foram recebidos. Segundo eles, foram reunidas 125 mil assinaturas.
O abaixo-assinado é contrário à garantia de crédito de 1,3 bilhão de euros que o governo alemão prometeu à Siemens. A empresa tem participação na companhia que vai construir Angra 3, a Areva. Ao oferecer o seguro, a Alemanha sinaliza que pagaria os prejuízos, caso o governo brasileiro não arque com seus compromissos.
"Apesar da recusa de hoje, nós escrevemos para o ministro para reforçar que queremos entregar as assinaturas e pedimos o agendamento de uma reunião", disse Regine Richter, da Urgewald.
"Moral dúbia"
Sobre a mobilização que o assunto – pouco discutido entre a população brasileira – causou na Alemanha, Richter disse que os alemães têm essa peculiaridade, incomum também em outros países europeus, se de oporem fortemente à energia atômica.
"Nós somos contra essa moral alemã dúbia. O país não pode decidir que vai abandonar suas usinas atômicas e ser o fiador de projetos atômicos no exterior", argumentou a ativista. O financiamento estaria congelado porque os bancos franceses que participam do projeto teriam pedido uma análise de segurança antes da emissão do crédito.
As duas organizações que chamam a atenção para o apoio contraditório à usina nuclear brasileiro movem diversas ações contra créditos de exportação para o que elas chamam de "projetos sujos" fora da Alemanha.
O ambientalista brasileiro Sérgio Dialetachi, colaborador das ONGs alemãs, afirmou que, paralelamente, o assunto está sendo debatido com líderes dos partidos no Parlamento alemão.
No Brasil
Nesta terça-feira, a Ordem dos Advogados no Brasil pediu ao Superior Tribunal Federal (STF) que impeça a construção de Angra 3. Segundo a argumentação do órgão de classe, o projeto fere a Constituição brasileira
Uma ação no STF demandaria uma discussão no Congresso Nacional e a confecção de uma lei que autorize a construção da terceira unidade atômica brasileira. Caso essa possibilidade se efetive, o debate entre os parlamentares levaria até três anos, o que implicaria atrasos e possível aumento nos custos do projeto. "A garantia do governo alemão, neste caso, cobriria qualquer eventual prejuízo que a Areva-Siemens poderia ter no futuro", analisou Dialetachi.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler