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Europa

Agências (sv)31 de agosto de 2008

Calcadas na localização geográfica ou na tradição cultural, as definições do termo "europeu" variam muito. Consenso não há, interesses sim.

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Costurar o conceito 'europeu': tarefa complexaFoto: AP

O Cazaquistão, embora localizado na Ásia Central, é membro da União das Associações Européias de Futebol (Uefa). Israel pertence tanto à Uefa, quanto participa da competição Eurovisão de canções populares, que envolve países do continente europeu. Os representantes israelenses neste festival musical estiveram , nos últimos anos, bem mais presentes que os franceses ou britânicos, por exemplo.

Isso enquanto a Guiana Francesa, localizada na América do Sul, é oficialmente um departamento ultramar francês, ou seja, parte legal do território da França e, por conseqüência, da União Européia. Discussões que lembram essas "incongruências" são comuns no continente. Afinal, o que é "europeu"? Pergunta para a qual faltam respostas precisas.

Exceções e regras

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Europa não consegue definir o que é "europeu"Foto: AP

A questão vai além de um problema lingüístico, pois, para muitos países, ser ou não considerado europeu pode determinar os rumos da política externa. Um bom exemplo é a Turquia: tanto o Tratado do Atlântico Norte, a partir do qual foi criada a Otan, em 1949, bem como vários dos tratados que determinaram a criação da União Européia, afirmam que "qualquer Estado europeu" pode, em tese, passar a ser membro do bloco.

Se a Otan convidou a Turquia oficialmente para ser um membro da aliança militar já nos idos de 1952, a União Européia, por outro lado, vem, há anos, discutindo se o país é "suficientemente europeu" para adentrar o bloco. A atual presidência rotativa da UE, ocupada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, insiste em dizer que não.

Há alguns anos, em julho de 2003, o imprevisível primeiro-ministro Silvio Berlusconi desencadeou uma polêmica no continente, quando, ao assumir por seis meses a presidência rotativa da UE, defendeu o ingresso de Israel no bloco. Na época, a resposta burocrática de Bruxelas foi a de que "Israel não preenche os critérios geográficos" para participar da União Européia.

Definições divergentes

Atualmente, existem três teorias recorrentes a respeito do grau de "europeísmo" de um país. Ou da ausência do mesmo. Há quem sustente que (como no caso dos que rejeitaram a entrada de Israel) o termo "europeu" deveria ser interpretado sob o ponto de vista geográfico, ou seja, europeu seria tudo o que estiver "em algum lugar entre o Oceano Atlântico e os Montes Urais". O que talvez fosse complicar a situação, por exemplo, das Ilhas dos Açores, pertencentes a Portugal (logo, parte da União Européia) e localizadas no meio do Atlântico.

Além disso, o argumento geográfico cai por terra quando se analisa a questão da Turquia, que, com uma pequena, embora significativa parte de seu território localizado na Europa, ainda não conseguiu ser aceita pela UE. Ao contrário da sul-americana Guiana Francesa, que, por sua vez, é "completamente européia".

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Presidente francês Nicolas Sarkozy: resistência ao ingresso da Turquia no blocoFoto: AP

Há quem diga que europeu é, acima de tudo, um termo calcado em referências culturais, uma combinação resultante das tradições grega, latina, cristã e humanista. Isso justificaria a exclusão da Turquia, cuja cultura e religião estão ancoradas na herança do Império Otomano (islâmico). Essa teoria, porém, cai por terra quando os líderes tanto da UE quanto da Otan convidam a Albânia e a Bósnia-Herzegóvina – países cuja herança do Império Otomano é presente e visível – para um possível ingresso no bloco.

Valores e interesses

Há ainda um argumento final que define "europeu" como tudo o que for "baseado em valores europeus", como a democracia, o Estado de Direito e os direitos humanos. Valores sobre os quais os líderes europeus costumam falar bastante. No entanto, um mapa da Europa baseado nestes critérios iria parecer que foi roído por traças, pois haveria lacunas sobre países como Belarus, Rússia e, discutivelmente, também sobre os membros da UE Bulgária e Itália.

De fato, devido à falta de uma clareza a respeito do significado que essa palavra tão popular tem realmente, a principal definição de "europeu", nos círculos diplomáticos, acaba sendo a "daquele que queremos ter do nosso lado".

E com uma Europa desesperada para fazer alianças num mundo de potências regionais, não importa, para ser "europeu", se você está em Mumbai ou Melbourne. E caso você ainda não tenha sido chamado de europeu, não se preocupe. É certamente apenas uma questão de tempo.