Há um ano, Philae fazia pouso histórico em cometa
12 de novembro de 2015Há um ano, em 12 de novembro de 2014, o minirrobô Philae pousava no cometa apelidado de Chury – a 510 milhões de quilômetros da Terra e viajando a 18 km/segundo. Foi a primeira vez que um veículo chegou à superfície de um cometa.
A aventura, no entanto, começara dez anos antes. Em 2004, o foguete Ariane-5 partiu do Centro Espacial Europeu em Kourou, na Guiana Francesa, com a sonda espacial europeia Rosetta a bordo. Após percorrer 6,4 bilhões de quilômetros – a sonda-mãe teve que dar cinco voltas ao redor do Sol até chegar próximo o suficiente do cometa –, ela liberou o módulo Philae no Chury, em uma manobra delicada e histórica.
O Philae é um mini laboratório de 100 quilos, construído por um consórcio europeu liderado pelo Centro Aeroespacial Alemão (DLR).
A manobra de pouso sobre o Chury, cujo nome original é 67P/Churyumov-Gerasimenko – em homenagem aos dois cientistas soviéticos (Chrurymov e Gerasimenko) que o descobriram em 1969 – foi o momento mais difícil de toda a missão.
A sonda Rosetta precisava voar com alta precisão e, no momento certo, soltar o Philae. "Foi como um arremesso", explica Paolo Ferri, chefe de operações de voo da Agência Espacial Europeia (ESA), em Darmstadt, de onde a sonda-mãe é controlada.
O módulo foi se movendo relativamente devagar em direção ao Chury, a uma velocidade de 18 centímetros por segundo. Ele precisou de sete horas para percorrer 22 quilômetros e, uma vez no caminho, ninguém mais podia intervir.
O primeiro contato com o solo foi dramático. O Philae tinha dois arpões que deveriam aproximá-lo do cometa e, em seguida, ele pousaria no chão com três pernas que possuem parafusos de gelo para perfurar a superfície.
Mas os arpões falharam em fixá-lo ao cometa, que tem quatro quilômetros de comprimento. Depois de quicar duas vezes, o módulo conseguiu se estabelecer em uma região a um quilômetro de distância do planejado, numa zona escura de um penhasco do Chury.
Na sala de controle do DLR, em Colônia, a equipe podia apenas deduzir, pelos dados, o que estava acontecendo. "Eles mostraram que o módulo se movia, ele girava. E por duas horas não podíamos saber onde ele estava pulando, o que estava acontecendo", conta o chefe do projeto Philae, Stephan Ulamec, do DLR.
Mas logo vieram boas notícias. As primeiras imagens enviadas pelo módulo sugeriam que ele estava em uma encosta íngreme, porém, suficientemente seguro. A DLR divulgou também uma gravação com o que seria o barulho do Philae tocando a superfície do 67P. Ouça aqui.
Sem bateria
Havia outro problema: a bateria do Philae. Programada para durar pouco mais de dois dias, ela precisava ser recarregada a partir de energia solar. Mas, como o módulo se fixou em uma parte escura do Chury, ele não tinha como recarregar sua bateria.
Os cientistas recorreram, então, a todos os truques possíveis para economizar energia e continuar as pesquisas. A parte mais arriscada da experiência, deixada para o final, consistiu na perfuração do cometa para análise da sua composição química.
Três dias depois do pouso, a bateria do Philae acabou, mas os cientistas conseguiram recolher todas as informações do Chury a tempo. "Era sexta-feira à noite. A tensão de repente aliviou, e eu tive finalmente tempo para pensar sobre tudo", relembra Ferri.
Descobertas importantes
Antes da missão, os cientistas não tinham uma ideia precisa de como eram os cometas. O pequeno módulo ofereceu imagens: "Vimos o comenta como se nós mesmos estivéssemos lá", diz Ulamec. E, com os seus dados, o Philae trouxe uma grande surpresa: ninguém imaginou que a superfície de um cometa fosse tão dura.
Os cientistas tiveram que abandonar algumas teorias que tinham sobre o desenvolvimento de um cometa e do sistema solar. Eles achavam, por exemplo, que a água da terra derivava dos cometas. Depois de análises, ficou claro, porém, que a diferença entre a Terra e o Chury é muito grande.
A Rosetta ainda acompanha o Chury. Primeiro, a sonda observou o cometa cheio de vapor e poeira a caminho do Sol. Agora, ela mostra o que acontece com o Chury quando ele se aproxima da estrela central do nosso sistema. Em outubro deste ano, o espectrômetro de massa Rosina, da Rosetta, descobriu, pela primeira vez, a presença de moléculas de oxigênio (O2) em um cometa.
Contatos recentes
Setes meses após a hibernação, em meados de junho deste ano, o pequeno robô se manifestou: "Hello Earth! Can you hear me?" ("Olá, Terra! Você pode me ouvir?"), foi escrito em seu perfil no Twitter. Cientistas e entusiastas do mundo todo comemoraram.
Depois disso, o contato com a Terra ficou muito instável, indo e voltando em julho, por exemplo — talvez o frio tenha danificado o sistema eletrônico do módulo. Para o meio ou final de novembro, há uma boa chance de um novo contato, dizem os especialistas — e o Philae tem se mostrado muito bom em promover surpresas.
Os cientistas não têm imagens que comprovem onde está o Philae. "Não há fotos em que possamos afirmar: 'Esse é o Philae, aqui está ele'", diz Frank Scholten, do Instituto para Pesquisas Planetárias do DLR, em Berlim. "Com medições e cálculos, conseguimos afirmar com uma margem de erro de 50 metros a posição do robô, mas não podemos provar com fotos. Há indícios de pixels individuais brilhantes nas imangens, mas não é o suficiente para termos certeza".
Em janeiro de 2016, haverá luz suficiente para que eles possam procurar pelo Philae. "Eu diria que temos 50% de chance de encontrá-lo", completa Scholten.
A missão está prevista para acabar em setembro de 2016. Que fim terão Rosetta e Philae ainda é algo incerto, mas os cientistas já têm algumas ideias. Uma possibilidade é que eles permaneçam no Chury. "Estamos planejando não apenas um simples desligamento, o que seria triste", diz Ferri. "Nós vamos sobrevoar a Rosetta lentamente pela superfície e, provavelmente, pousar".
AF/dpa/dw