Hungria consolida avanço nacionalista no Leste Europeu
9 de abril de 2018O partido do primeiro-ministro Viktor Orbán, de discurso anti-imigração, nacionalista e de contestação a uma série de políticas da União Europeia, conquistou neste domingo (08/04) uma ampla vitória eleitoral na Hungria.
Os 49% dos votos dão ainda mais força à legenda de Orbán, que adotou um discurso ainda mais conservador no último de seus três mandatos, e consolidam o contrapeso nacionalista no Leste Europeu perante as maiores economias da UE.
O primeiro-ministro, de 54 anos, líder húngaro mais longevo desde a queda do comunismo, liderou uma campanha eleitoral que o posicionou como defensor da cultura cristã húngara contra a imigração muçulmana. Seus elogios foram, em grande parte, não para Alemanha e França, mas para Rússia e Turquia.
Ao longo da campanha, Orbán insistiu nas políticas anti-imigração, com o argumento de que a oposição coopera com a ONU, a UE e o filantropo George Soros para transformar a Hungria num "país imigrante", ameaçando a sua segurança e identidade cristã.
Se o resultado se mantiver, o partido Fidesz obterá até 133 assentos dos 199 do Parlamento húngaro. Assim, Orbán, um político conservador, nacionalista e eurocético, garantirá nova maioria absoluta para o seu quarto mandato - o terceiro consecutivo.
Quatro anos atrás, o Fidesz obteve 133 assentos, com 43% dos votos, ou maioria de dois terços, suficiente para alterações constitucionais. Orbán celebrou a vitória num discurso aos partidários.
"Caros amigos, superamos uma grande batalha, nós conseguimos uma vitória histórica – nós tivemos uma chance, criamos uma chance para protegermos a Hungria", disse Orbán. Em seguida, encerrou o discurso liderando a multidão com a música "Vida Longa à Liberdade Húngara", uma canção da revolução de 1848 do país.
A influência do governo na comunicação social foi flagrante na transmissão do canal de notícias M1 da televisão pública, no domingo, onde matérias que salientam os efeitos negativos da imigração dominaram a programação.
No Origo.hu, uma página na internet que era independente e agora é propriedade de aliados do governo, foram publicadas reportagens para promover Orbán, também centradas nos "efeitos nefastos" da imigração, com manchetes como "Gangues de imigrantes lutam na Inglaterra"; "Na Suécia, já não aguentam mais: estão fartos de migrantes"; e "Imigrante de cuecas espanca aposentado alemão quase até a morte"
O partido Jobbik, também nacionalista, ficou num distante segundo lugar, com cerca de 20% dos votos, e o Partido Socialista recebeu somente 12%. Outras duas legendas, a Coalizão Democrática, do ex-premiê húngaro Ferenc Gyurcsány, e os verdes, com a nomenclatura Política pode ser Diferente (LMP, na sigla em húngaro) devem ultrapassar a marca dos 5% de votos e fazer parte do Legislativo.
A vitória de Orbán deve servir de incentivo para outros políticos nacionalistas e populistas de direita em toda a Europa – que veem no premiê húngaro uma inspiração. Em seu discurso, o próprio Orbán agradeceu a Jaroslaw Kaczynksi, primeiro-ministro da Polônia e líder do partido Lei e Justiça (PiS). Hungria e Polônia se veem como aliados-chave em suas batalhas contra as instituições UE.
A líder da Frente Nacional da França, Marine Le Pen, parabenizou Orbán por meio de uma mensagem em sua conta oficial no Twitter, na qual afirmou que a "inversão de valores e imigração em massa promovida pela UE foi rejeitada mais uma vez". O populista de direita holandês Geert Wilders também saudou o "excelente resultado" na Hungria.
Aproximadamente oito milhões de húngaro estavam aptos a votar e definir os 199 legisladores, com 106 eleitos diretamente de acordo com distritos eleitorais e 93 eleitos a partir de listas partidárias de todo o país.
A participação dos eleitores foi alta, com quase 70% deles comparecendo às urnas – 7 pontos a mais do que nas eleições de 2014. Os locais de votação deveriam fechar às 19h, mas devido à elevada presença de eleitores alguns tiveram o fechamento atrasado.
A votação deste domingo na Hungria foi monitorada de perto em toda a Europa, pois Orbán tem uma relação conturbada com as instituições da UE devido à sua rejeição ao sistema de redistribuição de refugiados no bloco europeu e ao que muitos veem como ataques contra a sociedade civil, à mídia e às instituições da Hungria.
PV/dpa/ap/afp