Grécia repete o exemplo do Chipre
30 de junho de 2015"Não há absolutamente motivo algum para preocupação", afirmou um porta-voz da chanceler federal alemã, Angela Merkel, na segunda-feira (29/06). Nos mercados de ações europeus, a coisa foi vista de forma diferente, com os índices das bolsas caindo significativamente. Porém, no decorrer do dia, a situação relaxou novamente, e os índices se recuperaram.
"Os mercados de capitais cedem, mas isso não chega a ser uma quebra, de forma alguma", avalia Robert Halver, analista do Baader Bank, de Frankfurt. "Pois o choque causado pela notícia de que a Grécia ameaça quebrar e deixar a zona do euro não vem da noite para o dia."
Ainda assim os ministros das Finanças da zona do euro ficaram chocados quando o governo grego anunciou a realização de um referendo. E a notícia também não veio da noite para o dia. Em abril, Alexis Tsipras já tinha dito que, se necessário, deixaria o povo decidir. Na época ninguém o levou muito a sério.
Mas o momento escolhido para isso é problemático, porque nesta terça-feira vence o programa de resgate. Os gregos pediram uma prorrogação do programa até o referendo, a ser realizado no fim de semana. Os credores recusaram.
Após as negociações terem fracassado, no domingo, o Banco Central Europeu (BCE) se recusou a ampliar o crédito emergencial para os bancos gregos, obrigando o governo a controlar o fluxo de capital. "O BCE não tinha escolha", afirma Halver. "O BCE não pode ficar com a reputação de simplesmente passar por cima das negociações políticas, dizendo: 'nós continuamos financiando a Grécia'."
Exemplo do Chipre
No entanto, a ação do BCE é também uma forma concreta de fazer política. "Porque, com a possibilidade de não ampliar o crédito emergencial ou até mesmo cancelá-lo por completo, o BCE pode exercer uma enorme pressão", opina Johannes Mayr, economista do banco alemão Bayerische Landesbank. "O caso do Chipre mostra que o BCE tem aqui uma ferramenta essencial nas mãos para forçar os governos a irem à mesa de negociações e adotarem reformas", complementa.
Os paralelos em relação à Grécia são claros. No caso do Chipre, as negociações com os credores internacionais também se arrastaram por um longo período e, em março de 2013, o Parlamento acabou rejeitando as medidas de austeridade.
O BCE reagiu ameaçando cortar os empréstimos de emergência. Apenas um dia depois, a resistência dos parlamentares foi quebrada. Eles aceitaram o plano de austeridade e também o implementaram.
A Grécia ainda não chegou a esse ponto. Mas a possibilidade de o BCE cortar o crédito de emergência, caso os gregos votem pelo "não", não pode ser descartada.
Saques limitados
Até então, continuam vigentes os controles de fluxo de capital, para evitar uma corrida aos bancos. Também neste caso, o Chipre é um exemplo. No país, houve tais controles durante dois anos. Só recentemente eles foram abolidos.
Os gregos só podem sacar um máximo de 60 euros por dia nos caixas eletrônicos. Mais decisivas, no entanto, são as restrições às transferências para o exterior e dentro da Grécia. "Transferências entre pessoas privadas, empresas e bancos ficaram mais difíceis", afirma Johannes Mayr, economista do Bayerische Landesbank. "Este é um peso significativo sobre uma economia já fraca."
Voz do povo
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, rejeita o plano de austeridade e exortou os gregos a fazerem o mesmo. Mas Johannes Mayr e sua equipe de analistas não acreditam que os gregos venham a seguir o pedido de Tsipras. "Acreditamos que o povo grego vai dizer, no final, um 'sim', ainda que apertado, a estas reformas", crê Mayr. "Pois o apoio ao euro ainda é muito alto no país. Além disso, o efeito negativo do controle de fluxo de capitais é agora perceptível."
Ainda está em aberto o que exatamente será colocado em votação. Mayr suspeita que será a última proposta dos credores, que deveria ter sido negociada de forma conclusiva no último fim de semana – mesmo que ela não valha mais oficialmente.
Mas caso os gregos realmente votem pelo 'não' no referendo, a falência estatal e a saída da Grécia da zona do euro se tornam iminentes. "Isso seria lamentável, mas não seria trágico para o resto da zona do euro", acredita Robert Halver. "Não há ameaça de uma crise bancária, porque os bancos quase não têm investido na Grécia", diz o analista do Baader Bank. "Além disso, também temos os fundos de resgate, e o BCE fará tudo, realmente tudo, para que o vírus da crise grega não passe para outros países do euro."
Então, não haveria problema para a zona do euro? A coisa não é bem assim. "Resta saber como as outras forças populistas na Europa se beneficiarão dos acontecimentos", diz Nicolaus Heinen, do Deutsche Bank Research. Seja a extrema-direita da Frente Nacional, na França, ou a aliança de esquerda espanhola Podemos, há partidos suficientes que vão tentar lucrar com o que ocorrer com a Grécia.