Fórmula 1 pode deixar a Alemanha
18 de julho de 2018Para Sebastian Vettel, Hockenheim é "sempre algo muito especial". Já Toto Wolff espera ansioso a "volta para casa" da sua equipe, a Mercedes, e as arquibancadas do Grande Prêmio da Alemanha vão estar tão cheias quanto em 2006, quando Michael Schumacher festejou sua última vitória em casa.
Mas há uma gota de melancolia em toda essa euforia: a corrida deste domingo (22/07) está ameaçada de se tornar o evento de despedida da Fórmula 1 na maior nação automobilística do planeta. Já está claro que não haverá Grande Prêmio da Alemanha em 2019, e as perspectivas para além disso são incertas.
"É frustrante ver como não conseguimos encontrar uma solução para um país com tamanha tradição em corridas e que, aparentemente, ninguém está disposto a apoiar os autódromos e aliviá-los do risco financeiro", diz o diretor de marketing da F1, Sean Bratches, em entrevista à revista alemã Auto Bild Motorsport.
Ele assegura que os esforços para encontrar uma solução continuam, mas ressalta que sobretudo os autódromos precisam ser mais "flexíveis".
Para os administradores de autódromos na Alemanha, a Fórmula 1 – com seus 20 milhões de euros de garantia inicial – ficou cara demais. Além disso, o sucesso da era Schumacher, quando os ingressos, apesar de caros, muitas vezes se esgotavam com antecedência de um ano, virou história. O circuito de Nürburgring deixou da abrigar a Fórmula 1 em 2015 e 2017, apesar de um contrato válido, e o contrato com Hockenheim vence com o agitar final da bandeira quadriculada na reta de chegada neste domingo.
Mas pelo menos será alcançada a maior cifra de público desde 2006 – na época foram 70 mil. Isso por causa dos inúmeros fãs do piloto Max Verstappen, que viajam da Holanda para torcer por seu ídolo. Seis dias antes da corrida, 67 mil entradas já tinham sido vendidas, o que tornou necessárias arquibancadas adicionais. Tudo isso, porém, apenas ajuda Hockenheim a evitar o prejuízo.
E os administradores do circuito fizeram a sua parte: crianças até 6 anos têm entrada gratuita, adolescentes até 16 anos podem acompanhar a corrida por 45 euros em quase todas as categorias de assento e participar do evento durante todo o fim de semana por 50 euros. Só assim foi possível superar os públicos de 2014 (52 mil) e de 2016 (57 mil).
Mas no longo prazo isso não será suficiente. Os circuitos de Hockenheim e Nürburgring deixaram várias vezes claro que não estão mais dispostos a assumir sozinhos o risco financeiro. Só que a disposição da empresa americana Liberty Media de baixar seus preços é limitada. Afinal, ela sabe o valor da marca Fórmula 1 e fatura muitas vezes o dobro em países de reputação duvidosa – em parte, porque os governos desses países aceitam pagar mais para polir sua imagem.
Já os autódromos alemães têm dificuldades para obter apoio do setor público ou uma ajuda mais forte do setor privado. E é exatamente nisso que Georg Seiler, diretor-geral de Hockenheim, insiste. "Não é possível que nós tenhamos de montar o palco e ainda pagar a conta dos outros", diz ele à agência de notícias SID. Um potencial parceiro, citado por Seiler, é a Mercedes. A multinacional sediada em Stuttgart, cidade próxima do circuito, tem se limitado, no entanto, a apoiar campanhas de marketing e à publicidade que seus carros fazem na pista.
Os números ainda relativamente modestos de público em Hockenheim certamente não se devem à pista. O autódromo já foi palco de corridas emocionantes, mesmo depois de 2001, quando o antigo traçado de alta velocidade foi modificado. O arquiteto Hermann Tilke, encarregado de alterar a pista de Hockenheim e que esteve envolvido na reconstrução da maioria dos atuais circuitos de Fórmula 1, continua considerando Hockenheim como "algo muito especial". O autódromo, segundo ele, é "único em seu traçado e atmosfera de estádio".
O que certamente não ajuda a Alemanha é a tendência de circuitos de rua na Fórmula 1. A perseguição de carros nas ruas de Baku, capital do Azerbaijão, está entre as mais espetaculares que a principal categoria do automobilismo tem a oferecer. Também as ruas de Miami, Hanói e Copenhague devem passar a sediar corridas.
Mas Tilke não acredita que esses tipos de pistas passarão a dominar a categoria. "O Campeonato Mundial de Fórmula 1 sempre vai incluir diferentes tipos de pistas", afirma. Talvez, então, ainda haja espaço para a Alemanha.
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