França espera caos no Natal devido à greve dos transportes
21 de dezembro de 2019O impasse entre o governo da França e sindicatos sobre a reforma da Previdência atingiu em cheio o início das férias de Natal no país com a greve de transportes, que levou ao cancelamento em massa de trens e estradas lotadas. Muitos franceses correm o risco de ter que passar a data longe de suas famílias.
A paralisação contra a mudança no sistema de aposentadoria que chegou ao 17º dia neste sábado (21/12) impulsionou o cancelamento de grande parte das linhas de trem nas vésperas do Natal. As esperanças de uma trégua no ferido foram frustradas depois que as negociações entre o governo e líderes sindicais durante esta semana não conseguiram resolver o impasse.
Após uma onda de indignação, a estatal ferroviária SNCF garantiu a viagem inicialmente cancelada para milhares de crianças. Segundo uma porta-voz da empresa, foram disponibilizados no domingo 5 mil lugares em 14 trens de alta velocidade, o TGV, para crianças entre quatro e 14 anos que viajam sem acompanhante. Isso teria sido possível devido à volta ao trabalho de alguns maquinistas.
Anteriormente, a SNCF havia anunciado que crianças que viajariam sozinhas não poderiam mais utilizar os trens até 24 de dezembro. A empresa alegou que devido à greve não teria como garantir a segurança prometida a esses passageiros. Cerca de 6 mil menores foram afetados com a decisão. As famílias receberam uma notificação sobre o cancelamento das passagens.
A decisão da estatal foi duramente criticada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), sindicato que representa, entre outros, trabalhadores do setor de transportes, e que apoia as paralisações. Passageiros e políticos também reagiram indignados. "Isso é desumano, meu filho chorou a noite toda porque não poderá ver o pai no Natal", afirmou uma francesa no Twitter.
De acordo com a SNCF, há uma redução nos trens que circularão entre 23 e 24 de dezembro. Seis em cada dez TGVs e trens intercidades foram cancelados. Apenas metade dos passageiros que já têm um bilhete poderá ser atendida. Os que tiveram suas conexões canceladas deverão tentar remarcar a passagem, porém, restam poucos lugares vagos.
Para contornar essa situação, muitos franceses decidiram fazer a viagem programada de carro ou de ônibus. Muitos engarrafamentos são esperados neste sábado. Vários recorreram ao aluguel de automóveis, cuja demanda pelo serviço dobrou em algumas regiões. O governo publicou ainda um decreto na quarta-feira permitindo que motoristas de ônibus possam até 24 de dezembro trabalhar por mais horas do que o estabelecido na lei para lidar com "a situação de emergência".
O fim da greve que se arrasta por mais de duas semanas permanece em aberto. Na sexta-feira, o maior conglomerado sindical do país, a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), se juntou a CGT e ao FO e decidiu continuar com a paralisação devido ao "progresso insuficiente" nas negociações com o governo. O segundo maior representante de ferroviários, a Unsa, defendeu uma trégua durante os feriados de fim de ano.
Na quinta-feira, as negociações entre lideranças sindicais e o primeiro-ministro Edouard Philippe não avançaram e foram adiadas para o início de janeiro. Os sindicatos marcaram para o dia 9 de janeiro uma nova greve geral e protestos em todo o país, a terceira desde o início das manifestações contra os planos de um sistema de aposentadoria único que acabaria com os atuais 42 regimes especiais.
A proposta de Emannuel Macron visa reduzir privilégios de determinadas categorias profissionais, como a dos funcionários da estatal ferroviária SNCF e da rede de metrô parisiense. O governo argumenta que é um sistema "mais justo e simples", em que "cada euro de contribuição dará os mesmos direitos a todos".
Os sindicatos temem, porém, que a mudança aumente a idade de aposentadoria, atualmente em 62 anos, e diminua o nível das pensões. Nem mesmo concessões ao projeto conseguiram acalmar os manifestantes. Paris prometeu que o novo sistema universal de pensões na França abrangeria apenas as gerações nascidas a partir de 1975, e todas as regras do novo sistema só valeriam para quem entrar no mercado de trabalho a partir de 2022.
Apesar do caos causado pela greve dos transportes, uma pesquisa divulgada na quinta-feira revelou que mais da metade dos franceses apoia a paralisação.
CN/afp/ots
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