França diz "não" a possível adiamento do Brexit
8 de setembro de 2019O ministro do Exterior da França, Jean-Yves Le Drian, afirmou neste domingo (08/09) que seu país deverá rejeitar qualquer adiamento do prazo dado ao Reino Unido para formalizar a saída da União Europeia (UE), que se encerra no dia 31 de outubro.
A declaração de Le Drian surge após a renúncia da ministra britânica do Trabalho Amber Rudd, que acusou primeiro-ministro Boris Johnson de não realizar esforços suficientes para buscar um acordo com a UE a fim de evitar um cenário caótico após o Brexit.
Ao ser questionado por jornalistas se a França concordaria com um possível adiamento do prazo final do divórcio, Le Drian, respondeu que "nas circunstancias atuais, digo que não". "Não vamos passar por essa situação a cada três meses", acrescentou, se referindo aos pedidos anteriores feitos pelos britânicos.
Inicialmente, o Reino Unido iria deixar a UE no dia 29 de março, mas com a rejeição do Parlamento britânico ao acordo fechado entre a ex-primeira-ministra Theresa May e Bruxelas, Londres já teve de renegociar dois adiamentos, sendo que no último deles, o prazo foi ampliado até o final de outubro. A França foi um dos países que mais se opuseram aos pedidos.
"Eles dizem que querem propor outras soluções, fórmulas alternativas", disse o Le Drian, em referência aos esforços de Johnson para encontrar um meio de remover o mecanismo do chamado backstop irlandês – uma solução encontrada para evitar uma fronteira dura entre o território britânico da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, que integra o bloco europeu.
Com a adoção do backstop, o Reino Unido integraria um território alfandegário comum com a UE, mantendo, de fato, a Irlanda do Norte no mercado único, o que, para Jonhson, seria algo inaceitável.
Le Drian disse que, até agora, os europeus não viram as tais soluções alternativas, o que justificaria o "não" a um provável pedido de extensão. "Deixemos que as autoridades britânicas nos mostrem o caminho a seguir", afirmou. "Deixemos que eles assumam a responsabilidade pela situação. Eles têm que nos dizer o que eles querem."
A falta de ações concretas por parte do governo de Boris Johnson resultou em baixas significativas na equipe de governo e no Partido Conservador, liderado pelo primeiro-ministro.
Jo Johnson, irmão do primeiro-ministro, renunciou ao cargo de ministro das Universidades e da Ciência na semana passada e anunciou que deixará também seu assento no Parlamento, alegando conflitos pessoais entre a vida familiar e política.
A renúncia de Amber Rudd também foi um golpe bastante duro para o premiê, que enfrenta pesadas críticas após tomar decisões controversas como suspender as atividades do Parlamento, expulsar parlamentares do seu próprio partido e tentar forçar a convocação de novas eleições.
Rudd também criticou a falta de esforços concretos por parte do governo para de evitar a falta de um acordo negociado com Bruxelas. "Não vi trabalhos suficientes sendo feitos para tentar realmente um acordo. Quando pedi um resumo sobre qual seria o plano para se chegar de fato a um acordo, me enviaram um resumo de uma página", disse a ex-ministra à emissora britânica BBC.
"Acredito que [Johnson] está tentando um acordo com a UE. Estou dizendo apenas que o que vi no governo é que há uma enorme máquina de preparação para o no deal", afirmou.
O primeiro-ministro acredita que a ameaça de um não acordo é algo necessário para pressionar Bruxelas a aceitar um pacto mais benéfico ao Reino Unido na cúpula dos líderes europeus, nos dias 17 e 18 de outubro.
Ele ainda não desistiu de convocar eleições gerais para o dia 15 de outubro, que poderiam lhe render um mandato para manter o prazo final para o Brexit e forçar uma saída a qualquer custo.
Mas, esses planos foram frustrados pelo Parlamento, que aprovaram uma lei obrigando o primeiro-ministro a pedir uma extensão do prazo caso um acordo não seja atingido até o dia 19 de outubro. Nesta segunda-feira, os parlamentares deverão bloquear um novo pedido de Johnson pela convocação de eleições gerais.
Analistas afirmam que isso deixaria Johnson com poucas opções, a não ser renunciar ao cargo, algo que o governo nega que possa ocorrer.
Em carta publicada em dois jornais britânicos neste domingo, Johnson afirma que continuará no governo mesmo que o pedido por novas eleições seja negado. "Vamos superar todos os obstáculos em nosso caminho", escreveu.
"Aconteça o que acontecer, estaremos prontos para sair [da UE] no dia 31 de outubro e trabalharemos para esse país e seu povo com a energia e o comprometimento que eles merecem", ressaltou o premiê.
Sua mensagem parece encontrar apoio entre os eleitores britânicos. Uma pesquisa de opinião publicada neste domingo coloca o Partido Conservador à frente dos opositores do Partido Trabalhista por uma margem de 10%.
Na última sexta-feira, a lei para evitar que o Reino Unido deixe a UE sem um acordo recebeu a aprovação da Câmara dos Lordes, a câmara alta do Parlamento britânico. Dessa forma, o projeto está pronto para receber o consentimento da rainha Elizabeth 2ª, o que está previsto para ocorrer nesta segunda-feira.
RC/afp/dpa
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