Finlândia é o país convidado da Feira do Livro de Frankfurt
8 de outubro de 2014"Finland. Cool". Este é o mote do país convidado da Feira do Livro de Frankfurt deste ano. E os finlandeses sempre foram retratados como frios ou esquisitos, seja em livros ou em filmes. Esta é uma tradição que continua valendo. Nos novos romances policiais de autores como Matti Rönkä e Markku Ropponen, por exemplo, encontram-se ou detetives claramente blasés ou de comicidade bizarra. No entanto, eles não dão o tom geral da literatura finlandesa que é apresentada até o domingo (12/10) em Frankfurt.
Clássicos e ganhadores do Nobel
Cerca de 5 mil títulos são publicados anualmente na Finlândia. O romance Santa miséria, do pouco conhecido no exterior e único Prêmio Nobel de Literatura finlandês, Frans Eemil Sillanpää, é um destes clássicos, assim como Os sete irmãos, de Aleksis Kivi, a primeira obra literária significativa em língua finlandesa.
Quase 80 autores confirmaram presença na feira. Suas obras dificilmente podem ser reunidas sob um rótulo – os assuntos e os estilos são diversos demais.
Ainda assim, existe na literatura finlandesa atual um tema dominante, que são as erupções de violência do século 20. Neste meio está a Segunda Guerra Mundial, na qual a Finlândia primeiro se aliou aos alemães e, mais tarde, teve que procurar o acordo com os russos. No entanto, talvez tenha sido a guerra civil de 1918, em consequência de uma nação dividida após a Primeira Guerra Mundial, que mais determinou o destino e a alma daquele pequeno país.
Guerra civil é trauma e tabu
Para o escritor Kjell Westö, este é "o capítulo mais negro da história da Finlândia". A luta sangrenta entre os "vermelhos" socialistas e os liberais "brancos" deixaram rastros em todas as famílias, segundo ele. Depois de seu premiado livro Där vi en gång gått (Onde uma vez estávamos, em tradução livre), Westö retorna com seu novo romance, Kangastus 38, a esse período sombrio.
A trama principal do livro se passa em 1938, contando a história da atração do tímido advogado de Helsinque e intelectual liberal Claes Thune pela sua secretária Matilda Wiik. Mas flashbacks detalhados frequentemente mostram o ano de 1918. Por colaborar naquela época com os vermelhos, Matilda foi levada para um campo de trabalhos forçados, humilhada, violentada. O destino dela representa o que sofreram muitas mulheres jovens na época.
"A guerra civil em 1918 foi, ao mesmo tempo, trauma e tabu", diz a escritora Leena Lander. "Por um longo período não era possível falar abertamente sobre os mortos e a violência."
Em seu romance Liekin Lapset, ela conta como uma comunidade no sudoeste da Finlândia entra em crise quando os vizinhos se tornam repentinamente inimigos entre si. Lander, que é casada com o escritor Hannu Raittila, se baseou em fatos reais para retratar uma aldeia em tempos terríveis. Ela relaciona a sua obra à questão: "O que eu teria feito, o que a minha família teria feito? Teríamos sido heróis ou assassinos?"
Best-sellers: Oksanen no topo
Sofi Oksanen também traz tempos passados a seus livros. O cenário de seus romances, entretanto, não é a Finlândia, mas a Estônia, onde sua mãe nasceu. O projeto literário, daquela que é atualmente a escritora finlandesa mais popular, sobre a difícil formação de uma nação que sempre foi exposta aos interesses estratégicos das potências estrangeiras ainda está em andamento.
Oksanen planeja quatro volumes. A segunda parte, Puhdistus (Expurgo), chegou à fama internacional. Na terceira parte, a recentemente publicada Kun kyyhkyset katosivat (Quando os pombos desapareceram, em tradução livre), ela traça a ascensão de um colaborador sem escrúpulos que primeiro trabalha para os alemães e, mais tarde, passa a cooperar com os russos.
Katja Kettu também pertence a uma jovem geração de escritores na Finlândia que se inspira em sua própria história familiar. A escritora, que também é popular como cantora de uma banda, retrata em seu romance Kätilö (Parteira, em tradução livre), com fervor expressionista, a história de amor entre um traumatizado soldado da SS e uma parteira finlandesa da Lapônia.
Modelo para o personagem principal é a avó de Kettu, cujas cartas inspiraram a autora. O livro já vendeu 80 mil exemplares, uma marca notável para uma população de 5,4 milhões de habitantes.
História e o presente
Cem anos, este é o tempo que Kjell Westö considera necessário para que seja possível falar sobre a guerra, especialmente uma guerra civil, de forma calma e objetiva. Se isso for verdade, então o momento certo na Finlândia seria exatamente agora. De qualquer forma, na arte do país nórdico, o passado é tão contemporâneo como nunca havia sido antes.
Além de escritores, cineastas, diretores de teatro e pintores tematizam as guerras que destruíram brutalmente os laços sociais. Para tal conflito, talvez tenha contribuído o fato de o grande vizinho da Finlândia, a Rússia, parecer agir cada vez mais de forma errática e agressiva, revivendo desagradáveis recordações.
De qualquer forma, a Feira do Livro de Frankfurt dará agora impressões de como a concentração dos finlandeses em sua história repercute fora do pequeno país. Bem provável que a visita deles a Frankfurt faça com que a imagem da Finlândia ganhe novos tons.