Nazismo
23 de setembro de 2010O jornalista e escritor Ralph Giordano recorda ter assistido ao filme O Judeu Süss, no ano de 1940. "Lembro-me de como saí destruído da sala de cinema", diz ele. Dirigido por Veit Harlan, diretor favorito de Joseph Goebbels, braço-direito de Hitler, O Judeu Süss foi possivelmente o mais notório filme da era nazista, contendo todos os elementos necessários da propaganda da época: uma história de amor melodramática, imagens antissemitas, acompanhadas de uma mistura nefasta de violência e fascínio.
O filme, que estreou no dia 5 de setembro de 1940 no Festival Internacional de Cinema de Veneza, tem como protagonista um homem judeu chamado Joseph Suesskind Oppenheimer, que usa sua fortuna para se aproximar de um nobre alemão e, com isso, frequentar ambientes da classe alta no século 18.
Manipulação em grande escala
Sob a direção de Harlan, a personagem de Süss Oppenheimer foi transformada no estereótipo do judeu criminoso, inescrupuloso, ávido por dinheiro e poder e despudoradamente sedutor de uma "mulher ariana". Em uma das cenas mais aviltantes do filme, Harlan mostra, em montagem paralela, como um honesto escritor alemão é torturado e sua bela mulher violentada por Süss Oppenheimer.
O filme termina com Oppenheimer sendo enforcado por "contaminação da raça" (Rassenschande), que é como os nazistas definiam o contato sexual entre "arianos" e "não-arianos", passível de represálias.
Para produzir seu filme, Harlan recebeu um financiamento praticamente ilimitado do então ministério da propaganda nazista encabeçado por Joseph Goebbels. Em guetos poloneses e tchecos, o diretor tinha até mesmo a permissão de buscar figurantes judeus para atuarem em seu filme. Em 1943, O Judeu Süss foi premiado publicamente por Goebbels em pessoa. "O Führer reconhece seus méritos artísticos e lhe concede, por isso, o título de professor", afirmou Goebbels a Harlan por ocasião da premiação.
Nada documental
Hoje, um filme recentemente produzido na Alemanha tenta contar a história que se esconde por trás de O Judeu Süss. O diretor Oskar Roehler rodou um drama histórico intitulado O Judeu Süss: Ascensão e Queda, no qual recria o contexto do filme com o qual os nazistas acreditavam inflamar os espíritos da população contra os judeus.
Essa é uma situação controversa. Enquanto O Judeu Süss tem sua distribuição proibida na Alemanha, com exibições restritas a pesquisadores universitários e representantes de instituições, o novo filme de Roehler, que reconta a produção do longa de Harlan, foi exibido até mesmo no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro último, tendo desencadeado reações diversas, inclusive algumas vaias.
Agora, a película será exibida nos cinemas de todo o país. Resta saber como os espectadores irão reagir à história. A decisão do diretor de modificar a maioria dos detalhes biográficos dos personagens foi criticada de imediato, mas Roehler insiste em afirmar que não fez um documentário.
"Nosso objetivo era o de adentrar no íntimo da alta sociedade nazista e retratar como os artistas eram passíveis de serem seduzidos no Terceiro Reich", afirmou Roehler.
Autora: Michael Marek/Sarah Harman (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque