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Cinema

Felipe Tadeu26 de janeiro de 2007

O Estado de Hessen e a cidade de Wiesbaden liberam verba para construção da Casa do Cinema da Fundação Friedrich Wilhelm Murnau.

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'Metrópolis', obra-prima de Fritz Lang, foi primeiro filme a ser tombado pela Unesco

Foi uma bela notícia para os admiradores do cinema alemão: o governo do Estado de Hessen e sua respectiva capital, Wiesbaden, estarão construindo a partir do verão deste ano a Filmhaus (Casa de Cinema) para a Fundação Friedrich Wilhelm Murnau. Criada em 1966, a instituição dedica-se à restauração e ao arquivamento de filmes produzidos na Alemanha.

O centro cinematográfico, orçado em 6,7 milhões de euros, vai abrigar também outras importantes entidades da chamada sétima arte e uma sala de exibição que nos dias úteis servirá de centro de trabalhos, funcionando nos fins de semana e horários vagos como cinema aberto ao grande público.

Reconhecimento internacional

Fritz Lang
O diretor austríaco Fritz LangFoto: dpa

Quando a Unesco decidiu em 2001 nomear Metrópolis, a obra-prima do diretor austríaco Fritz Lang, como primeiro filme do mundo a ser tombado como Memória da Humanidade, um grupo de cinéfilos, técnicos e historiadores engajados de Wiesbaden comemorou o esperado reconhecimento internacional para a causa pela qual lutavam há décadas: a restauração de clássicos da cinematografia alemã, ou falados em alemão (como é o caso de Metrópolis) e de valiosos documentos históricos gravados em película. A recuperação do filme de Lang tinha sido até então o trabalho de maior vulto da Friedrich-Wilhelm-Murnau-Stiftung em seus 35 anos de existência.

Memória reconstituída

O acervo da fundação reúne dois mil filmes mudos e cerca de outros mil da primeira fase do cinema falado, dentre produções da Ufa, da Universum-Film, da Bavaria, da Terra, da Tobis e da Berlin-Film, empresas que fundamentaram a indústria cinematográfica na Alemanha. O verdadeiro tesouro engloba ainda três mil curtas-metragens, documentários, peças publicitárias, além de 60 mil fotos e cartazes de filmes.

De especial valor histórico é o acervo de películas produzidas no período do regime fascista. Filmes panfletários como Jud Süss (O Judeu Süss, de 1940), Hitlerjunge Quex (Quex, o rapaz da Juventude Hitlerista, de 1933), Ich klage an (Eu acuso, de 1941) e outros foram organizados em cinco CD-Roms pelo especialista Gerd Albrecht, estudioso do tema nacional-socialismo e cinema. O material, enriquecido por análises críticas e documentos de época, está sempre em exibição em seminários promovidos em escolas e cinematecas pelo IKF – Instituto de Cinema e Cultura Cinematográfica.

Arte preservada

Deutschland Geschichte Film Filmszene Der blaue Engel mit Marlene Dietrich
Marlene Dietrich no papel de Lola em 'Anjo Azul'Foto: AP

A fundação vem cuidando também de manter os direitos autorais de clássicos do cinema alemão em poder do país onde foram produzidos, principal interessado em sua preservação. É o caso do renomado Anjo Azul, de Josef von Sternberg, estrelado pelo mito Marlene Dietrich e por Emil Jannings.

Títulos importantes como Die Bergkatze, de Ernst Lubitsch, Tartüff, de Friedrich W. Murnau, e Zur Chronik von Grieshuus, de Artur von Gerlach, também foram restaurados pela instituição, tendo alguns deles inclusive sido lançados em DVD, como Unter den Brücken, de Helmut Käutner, e uma luxuosa caixa com cinco títulos do diretor Ernst Lubistch.

Os próximos grandes projetos da Murnau-Stiftung são a restauração de Die Goldene Stadt (A Cidade Dourada), Immensee e Opfergang, de Veit Harlan, assim como de Grosse Freiheit Nr.7, de Helmut Käutner. O instituto está finalizando para os próximos meses a recuperação de Die Niebelungen (Os Niebelungos), de Murnau.

No rastro dos clássicos

Friedrich Wilhelm Murnau um 1925 mit Filmstreifen Ausstellung Filmmuseum Berlin
Friedrich Wilhelm MurnauFoto: Filmmuseum Berlin

Muitos filmes desaparecidos na Alemanha ainda estão espalhados pelo mundo afora, e a fundação tenta, através de uma rede de intercâmbio com outros países, salvá-los da destruição. Só de Friedrich W. Murnau são nove títulos perdidos. A restauração de Michael, por exemplo, de Carl Theodor Dreyer, só foi possível com a ajuda de uma instituição dinamarquesa.

"No Brasil existem produções alemãs, mas elas não foram contrabandeadas. Era comum das produtoras Ufa, Terra e Tobis licenciarem filmes para o estrangeiro e até produzi-los para lá. Não sabemos de nenhum caso de produções contrabandeadas para o Brasil, nem de material que tenha sido destruído lá", informou Gudrun Weiss, da Fundação Friedrich Wilhelm Murnau.

A decisão de manter a fundação na cidade de Wiesbaden foi festejada por muitos que andavam descontentes com a centralização excessiva de projetos desse porte na capital Berlim.