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Nova poesia latina

Cris Vieira3 de novembro de 2006

O evento itinerante Latinale, que passa por Berlim, Munique e Bonn, apresenta recitais e leituras de poetas de oito países latinos. Brasil tem dois representantes.

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O brasileiro Ricardo Domeneck une escrita, teatro, dança e vídeo em suas performancesFoto: W. Pfeiffer

Até o próximo dia 7 de novembro, acontecem em três cidades alemãs – Berlim, Munique e Bonn – recitais e leituras de trabalhos de 12 poetas de oito países latinos. Os artistas apresentam uma seleção da poesia contemporânea da Argentina, do Brasil, do Chile, de El Salvador, do México, do Peru, da República Dominicana e do Uruguai.

O Brasil traz dois representantes ao evento. Um deles é Douglas Diegues, carioca radicado em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, e que encontra na fronteira com o Paraguai a fonte de inspiração para textos que misturam línguas e culturas.

O outro é Ricardo Domeneck, 29 anos. Há três anos morando em Berlim, ele é um dos representantes da nova geração de poetas brasileiros. Segundo o diretor artístico do evento, Timo Berger, "Domeneck tem uma característica marcante, que é essa tendência da poesia brasileira que emerge no ato da performance, ligada ao corpo inteiro do poeta e que, assim, agrega valor à leitura. Por isso, também pensamos em gravar em vídeo suas performances".

Instituto Cervantes
Atmosfera pós-leituras no Latinale em MuniqueFoto: Instituto Cervantes

Já Domeneck afirmou se sentir "um estranho no ninho" ao fazer uso de performances por ser essa "uma característica mais da poesia carioca que da paulista, sendo que venho de São Paulo". Ele disse que a opção pelo estilo "é uma tentativa de quebrar o racionalismo muitas vezes presente na poesia".

Um vídeo foi especialmente produzido para as apresentações na Alemanha. Domeneck utiliza textos de seu segundo livro, A cadela sem Logos, que deverá ser publicado ainda este mês. A maioria dos poemas apresentados foi traduzida para o alemão pela escritora Odile Kennel.

A performance do brasileiro é resultado de um trabalho multidisciplinar, que une a escrita a experiências com dança, teatro e produção de vídeo. "A partir de agora, espero que a poesia sempre influencie a minha performance e que o trabalho de vídeo também esteja sempre presente", acrescentou.

De anônimos a premiados

Instituto Cervantes
Poeta uruguaio Dani Umpi durante leitura em MuniqueFoto: Instituto Cervantes

A seleção de poetas do Latinale inclui de jovens talentos a artistas premiados. Entre os nomes consagrados, destacam-se Germán Carrasco, do Chile, que tem quatro livros publicados e traz na bagagem o Prêmio Pablo Neruda. Também o argentino Sérgio Raimondi, considerado uma referência da poesia latino-americana atual, está entre os nomes mais conhecidos.

De acordo com Berger, a idéia é mostrar um panorama da poesia atual da América Latina. "Existe a consciência de que não temos uma só cultura, mas há uma presença comum e queremos fazer a ponte entre esses distintos países. É um festival que quer representar as novas redes que estão surgindo na América Latina, não apenas no campo político", disse.

Berger organiza também o festival Salida al Mar, que há três anos acontece em Buenos Aires, na Argentina. Cerca de 150 poetas já participaram do evento. "A partir dessas apresentações e por meio de recomendações de outros poetas é que foi feita a seleção", comenta.

Uma "caixa poética" sobre rodas acompanha os artistas durante as apresentações. É um equipamento de áudio (MP3) no qual as leituras são gravadas e podem ser ouvidas depois pelo público. "É uma coisa mais simbólica, um trabalho de arquivo e uma forma de transformar o evento, que tem caráter volátil, numa coisa que perdura", explicou o diretor.