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Troca de prisioneiros

18 de outubro de 2011

Muitas famílias argumentam que a libertação de prisioneiros palestinos vai provocar mais ataques e sequestros pelo Hamas. Mas pesquisa diz que a maioria dos israelenses apoia decisão.

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Soldado Gilad Schalit em imagem da televisão egípciaFoto: dapd

Na lista de prisioneiros palestinos que estão sendo libertados das prisões israelenses estão muitas pessoas que planejaram ou executaram alguns dos mais sangrentos ataques terroristas dos últimos dez anos, durante a revolta que ficou conhecida como Segunda Intifada.

Em troca do soldado Gilad Shalit, capturado pelo Hamas há mais de cinco anos e libertado nesta terça-feira (18/10), Israel vai libertar 1.027 palestinos. "Segundo os israelenses, entre os libertos estão 44 assassinos em massa. Naturalmente que esse fato encontra grande oposição em Israel", afirma o especialista alemão Günther Meyer, diretor do centro de pesquisa do mundo árabe da Universidade de Mainz.

Ainda segundo o pesquisador, uma outra exigência do Hamas, grupo radical islâmico que negociou com Israel a troca de prisioneiros, será atendida: entre os libertos estão todos os árabes israelenses e moradores de Jerusalém Oriental detidos. Entre 450 prisioneiros palestinos que serão soltos nessa primeira parte do acordo, 178 que são considerados especialmente perigosos deverão ser deportados para o exílio.

Crianças e mulheres também estão entre os prisioneiros. Segundo ele, não existe maioridade penal para esses casos. Isso explica porque jovens de 12 e 13 anos, que atiraram pedras contra carros israelenses, também estão entre os presos. "Eles foram presos sem qualquer julgamento legal, assim como muitos outros palestinos", adiciona o pesquisador.

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Palestinos aguardam a libertação de prisioneiros em RamallahFoto: dapd

Essa é contestada pelo presidente da Sociedade Israel-Alemanha, Reinhold Robbe. Segundo ele, trata-se de "palestinos condenados legalmente que cometeram atos terroristas criminosos e, por isso, receberam penas de muitos anos".

Acusações contra o governo de Israel

Um dos grupos que contesta na Justiça o acordo entre Israel e Hamas é a Associação das Vítimas do Terror de Almagor, liderada por Meir Indor. "Nós achamos que esse acordo vai provocar mais mortes. A família de Shalit ganhou e o Estado perdeu. É uma vitória para o terror e para o Hamas", declarou Indor, chamando de fraco o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

De início, Netanyahu tinha se oposto a tal troca de prisioneiros. Ele chegou até a dar garantias pessoais a algumas dessas famílias que os prisioneiros palestinos condenados por envolvimento em ataques suicidas jamais seriam liberados.

O primeiro-ministro enviou uma carta às famílias nesta segunda-feira (17/10), manifestando pesar e compreensão pelo sentimento delas, lembrando que ele próprio também pertence a uma famílias de vítimas. O irmão de Netanyahu, Yoni Netanyahu, morreu quando liderava uma ação militar para libertar israelenses feitos reféns em Uganda, nos anos 1970.

O primeiro-ministro de Israel alegou que a difícil decisão de aceitar o acordo foi necessária para salvar a vida de um soldado israelense, que fazia seu serviço militar quando foi capturado.

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Prisioneiro palestino faz o sinal da vitória em ônibus de IsraelFoto: dapd

Apesar da oposição de muitas famílias, a grande maioria da população israelense apoio o acordo, segundo uma pesquisa de opinião divulgada pelo jornal Jediot Ahronot. Entre os entrevistados, 79% declararam concordar com a libertação dos prisioneiros palestinos em troca de Shalit. Apenas 14% rejeitam o acordo.

Oposição das famílias

As famílias das vítimas foram às ruas demonstrar oposição ao governo israelense. Yosi Tsur, que participou do protesto, perdeu o filho de 16 anos numa explosão de um ônibus em Haifa, há oito anos. O palestino que planejou o ataque deve ser liberado.

"É óbvio para todos os cidadãos deste país que essa libertação não é lógica, que vai causar mais tragédia para o Estado de Israel, que vai reforçar o Hamas e levar a mais ataques suicidas, a mais mortes, e que nós vamos acabar pagando por esse acordo", declarou.

Meir Indor concorda. "Por experiência, sabemos que centenas de pessoas irão pagar em ataque terroristas futuros e que o Hamas vai organizar mais sequestros." Segundo a associação, 183 israelenses foram mortos em atentados terroristas desde 2004, executados por prisioneiros palestinos que foram libertados das prisões israelenses em trocas prévias.

Mas nem todas as famílias de vítimas são contra o acordo. Philip Leitel perdeu a filha de 14 anos no mesmo ataque que matou o filho de Yosi Tsur. Ele disse que, de coração pesado, apoia a troca e que está feliz pela família do soldado Shalit.

"É difícil aceitar o preço a ser pago, mas achamos que é mais importante olhar para os vivos do que para aqueles que já morreram. Posso imaginar como eu estaria feliz se a minha filha pudesse voltar para casa. Ela não pode, mas Gilad Shalit pode", declarou Leitel.

Sucesso para o Hamas

Para o especialista Günther Meyer, o momento escolhido para a troca de prisioneiros tem relação com a ação recente do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. No fim de setembro, Abbas pediu que a Palestina passasse a fazer parte das Nações Unidas, durante a Assembleia Geral da ONU. "Abbas foi festejado no território palestino como o grande vencedor", comenta Meyer.

Como reação instantânea, o Hamas teria concordado em voltar a negociar com Israel. "Trata-se sobretudo de fazer frente ao grande sucesso de Abbas, na medida em que o Hamas também pode apresentar seu próprio sucesso", opina Meyer. "O fato de Abbas não ter tido qualquer participação na negociação faz com que sua posição seja enfraquecida."

Autores: A. Lichtenberg / I. Makler / N. Pontes
Revisão: Alexandre Schossler