Avião Landshut será levado de Fortaleza para Alemanha
17 de setembro de 2017De acordo com o jornal alemão Stuttgarter Zeitung, o antigo Boeing da Lufthansa que foi sequestrado há 40 anos por terroristas palestinos ligados à RAF (Fração do Exército Vermelho) chegará no próximo sábado (23/09), véspera das eleições gerais alemãs, à cidade de Friedrichshafen, localizada no Lago Constança, no sul do país.
Ali, o Landshut, como é chamado o famoso avião, será remontado e restaurado para se tornar peça de exposição no Museu Aeroespacial Dornier. O 40° aniversário do chamado Outono Alemão – período que marcou o auge da luta entre o Estado alemão e o terrorismo de extrema esquerda e do qual o Landshut se tornou símbolo – fez com o governo em Berlim se interessasse pelo retorno da aeronave à Alemanha.
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Desde o início de agosto, uma equipe de engenheiros e técnicos da Lufthansa, antiga proprietária do avião, está em Fortaleza desmontando a aeronave. No último dia 13 de setembro, a Embaixada da Alemanha no Brasil transformou a desmontagem de uma das asas num evento midiático.
Na ocasião, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witshel, declarou a jornalistas presentes: "Para você é somente um avião velho estragado, mas para nós é a vitória decisiva nesta luta contra o terrorismo. Por isso, esse velho avião tem um enorme valor histórico, e também emocional, para nós."
Transporte por aviões russos
Segundo o site da Salco Logistics, firma responsável pela logística do projeto de repatriação do Landshut em Fortaleza, as peças do Landshut serão transportadas por dois aviões russos, um Antonov AN-124 e um Ilyushin IL-76, dois exemplares emblemáticos da engenharia de aviação e muito admirados pelos fãs de logística e aviação, escreveu a empresa.
Abandonado há nove anos num cemitério de aviões do Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza, o Boeing 737-200 foi vendido pela Lufthansa em 1985 e teve vários proprietários. Até 2008, ele voou pela cearense TAF Linhas Aéreas. Devido a pendências judiciais da empresa, o avião foi penhorado e há nove anos estava parado no cemitério de aviões da capital cearense.
Com o apoio do ministro do Exterior alemão e vice de Angela Merkel, Sigmar Gabriel, o Landshut foi comprado da Infraero pela Alemanha. Segundo o embaixador alemão no Brasil, foram pagos "74 mil reais e mais ou menos 12 mil euros com advogados e documentação." O Ministério do Exterior em Berlim comunicou que o valor pago corresponde ao preço de sucata.
Recentemente, o Landshut foi motivo de disputa na Alemanha, pois outra cidade também se interessou em expor a famosa aeronave. No início de setembro, a revista alemã Spiegel relatou que Simone Lange, prefeita de Flensburg, no norte do país, criticou o Ministério do Exterior em Berlim por ter quebrado a promessa de uma licitação aberta para escolher o melhor local para abrigar a famosa aeronave.
Em tempos marcados por ameaças terroristas em toda a Europa, o fato de o Landshut ter se tornado um símbolo da força do Estado contra o terror explica o interesse das cidades alemãs pela aeronave.
O sequestro
A aeronave foi sequestrada em outubro de 1977, com mais de 90 pessoas a bordo, por quatro integrantes da Frente Popular para a Libertação da Palestina, que, para liberar os reféns, pedia a libertação de membros da Fração do Exército Vermelho (RAF) presos na Alemanha.
No dia 13 de outubro, a aeronave partiu de Palma de Mallorca, na Espanha, com destino ao aeroporto de Frankfurt. Ao entrar no espaço aéreo francês, os extremistas, armados com pistolas e granadas, anunciaram o sequestro e deram início à jornada de 106 horas que terminaria apenas na Somália.
Para libertar os passageiros, o grupo exigia que o governo alemão soltasse integrantes da RAF presos na Alemanha. Berlim se recusou a libertá-los. Antes de pousar em Mogadíscio, durante o sequestro, o avião fez paradas para reabastecer em Roma, Lárnaca, Bahrein, Dubai e Áden.
Após o assassinato do piloto em frente aos passageiros, no dia 16, o copiloto foi obrigado a continuar sozinho a jornada. Na capital somali, forças especiais da polícia federal da Alemanha conseguiram libertar a aeronave na madrugada do dia 18 de outubro de 1977.
Três dos quatros sequestradores foram mortos na ofensiva. Depois do fracasso da ação terrorista, Andreas Baader, Jan-Carl Raspe e Gudrun Ensslin, membros destacados da RAF, cometeram suicídio coletivo na prisão.