"Expulsão de embaixador na Venezuela é inaceitável"
7 de março de 2019O ministro do Exterior alemão, Heiko Maas, condenou veementemente nesta quinta-feira (07/03) a expulsão do embaixador da Alemanha na Venezuela, Daniel Kriener, e afirmou que a decisão do governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, é "incompreensível e inaceitável".
"Isso não mudará de maneira alguma nosso apoio a Juan Guaidó como presidente interino com a tarefa de organizar eleições livres, justas e democráticas. Esse apoio é irrefutável", ressaltou Maas.
De acordo com o ministro, o embaixador foi convocado de volta à Alemanha para consultas e deve retornar a Berlim no sábado. Maas destacou que o diplomata fez um grande trabalho na Venezuela.
O governo de Maduro declarou na quarta-feira Kriener persona non grata, exigindo que o diplomata deixe o país em 48 horas. Segundo comunicado divulgado no site do Ministério do Exterior venezuelano, a decisão foi tomada após "recorrentes atos de ingerência em assuntos internos do país".
O anúncio do governo Maduro foi feito depois de o embaixador alemão comparecer na última segunda-feira, junto a outros diplomatas, ao Aeroporto Internacional Simón Bolívar, em Caracas, para receber o líder da oposição e autoproclamado presidente interino do país Juan Guaidó e apoiá-lo caso houvesse uma tentativa de detê-lo.
Reconhecido por mais de 50 nações como presidente interino da Venezuela, Guaidó, de 35 anos, encerrou no Equador uma turnê pela América Latina que incluiu ainda Colômbia, Paraguai, Argentina e Brasil, onde se encontrou com o presidente Jair Bolsonaro.
Maas destacou que a decisão do diplomata participar da recepção ao líder opositor foi sua. "Acredito que a presença de vários embaixadores contribuiu para impedir a prisão [de Guaidó]", afirmou. O ministro afirmou que havia informações de que a detenção do oposicionista poderia ser iminente.
Em Berlim, a expulsão do diplomata surpreendeu especialistas. O porta-voz de política externa da bancada da União Democrata Cristã (CDU) e União Social-Cristã (CSU), Jürgen Hardt, afirmou que a decisão de Maduro é ilegítima. "O objetivo deve ser a volta rápida do embaixador Kriener para Caracas", destacou.
Já o deputado da legenda A Esquerda Andrej Hunko lamentou a situação, mas disse que a expulsão foi uma consequência da decisão precipitada do governo alemão de reconhecer Guaidó como presidente interino. Segundo Hunko, tal reconhecimento violou regras fundamentais do direito internacional.
Visita a Guaidó
Kriener foi recebido nesta quinta-feira por Guaidó, que repudiou a decisão de Maduro. O líder da oposição afirmou que a embaixada alemã em Caracas seguirá em funcionamento pleno, sob a autoridade da encarregada de negócios, Daniela Vogl.
"O regime que usurpa funções, que não tem competência para declarar ninguém persona non grata, simplesmente exerce coação. É uma ameaça e assim deve ser encarada pelo mundo livre", disse Guaidó.
No poder desde 2013, Maduro foi reeleito em maio passado em eleições não reconhecidas por boa parte da comunidade internacional e que não contaram com a participação da oposição.
Em 23 de janeiro, Guaidó recorreu à Constituição venezuelana para argumentar que, como chefe do Parlamento, tem autoridade para se autodeclarar presidente interino ao considerar que Maduro está "usurpando" a Presidência.
A Alemanha anunciou reconhecer Guaidó como presidente interino da Venezuela no início de fevereiro, junto com vários países europeus – entre eles França, Espanha e Reino Unido. Os governos europeus encarregaram o líder da oposição de convocar novas eleições presidenciais credíveis.
Caso raro
A expulsão de diplomatas acontece frequentemente no cenário internacional. Na época da Guerra Fria, a medida era uma arma bastante usada na guerra psicológica entre Washington e Moscou. Até hoje, diplomatas alemães, no entanto, foram raramente declarados persona non grata.
Depois do envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal, no Reino Unido, em março do ano passado, a Rússia expulsou quatro diplomatas alemães em reação ao conflito diplomático com o Ocidente gerado pela tentativa de assassinato.
Em 2012, diplomatas alemães precisaram deixar a Síria depois da expulsão de diplomatas sírios da Alemanha. Em 2008, foi o embaixador alemão em Ruanda que teve de fazer malas após a prisão de uma diplomata ruandesa no aeroporto de Frankfurt.
CN/dw/efe/dpa/ots
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