Europa redescobre a Índia
18 de março de 2003A década de 90 marcou a chegada de bandas com temáticas pós-colonialistas ao topo das paradas de sucesso do Reino Unido, uma espécie de contra-ataque ao antigo império britânico. Cantando muitas vezes com forte sotaque e misturando batidas urbanas com melodias tradicionais hindus, esses artistas provaram ser mais do que uma onda passageira e hoje conquistam os ouvintes em outras capitais européias.
A moda hindu estourou na Alemanha com o britânico Rajinder Rai, conhecido como Panjabi MC, que chegou ao segundo lugar das paradas alemãs com a música "Mundian to Bach Ke" e abriu os olhos dos alemães para os desis, como se autodenominam os indianos da segunda geração.
Desis na Alemanha -
Na maioria das vezes cantando em alemão e poucas vezes em suas línguas maternas, os desis alemães vivem entre dois mundos, tendo que lidar com os valores ocidentais europeus e a tradição hindu herdada de suas famílias. E é assim que soa sua música: uma explosiva mistura de hiphop, rap e r&b com Bhangra e música popular hindu.Um dos representantes alemães é Palan, que imigrou para a Alemanha aos 15 anos. Ele aprendeu a lidar com ambas as culturas e prefere não se definir nem quanto à sua identidade cultural, nem quanto ao seu estilo musical. Embora sinta-se totalmente adaptado, Palan escreve todos os seus raps na língua tamil.
Já Diptesh MC, filho de imigrantes bengalis, prefere cantar em alemão, mas não descarta a possibilidade de um dia gravar uma ou outra canção em bengali. "Quando estrangeiros compõem em alemão, eles modificam o contexto de suas próprias culturas e criam uma nova identidade", explica.
A música da Índia agita discotecas em toda a Alemanha. Em Berlim, as batidas asiáticas fazem lotar festas como "Orient meets India" e "Club Deewane". Em Munique, é o "Aatma Lounge" que ferve. Quem estiver em Colônia, pode dançar na "Boolywood Nights" ou, em Düsseldorf, na "United Desi".
Literatura entre dois mundos
A redescoberta da Índia também ocorre na literatura. O escritor indiano Anant Kumar (33) veio à Alemanha em 1991 para estudar Germanística na Universidade de Kassel. Já publicou diversos livros em alemão e foi indicado a diversos prêmios literários por livros como "Fremde Frau - Fremder Man" (Mulher estrangeira – Homem Estrangeiro) e "A Indiana".Recém-chegado de uma viagem à Ásia, Anant viaja agora pela Alemanha para apresentar seu novo livro "A boiada galopante", uma coleção de ensaios sobre a diferença cultural entre Europa e Ásia.
Nos cinemas alemães, a invasão hindu é mais lenta. O cinema Rapid Eye Movies, de Colônia, por exemplo, foi criado em 1996 para divulgar o cinema asiático e exibie, a partir de abril próximo, "Sometimes Happy Sometimes Sad", uma megaprodução "bollywoodiana" (combinação de Hollywood com Bombay) de 210 minutos de duração, que narra a história de uma família dividida entre a tradição e a vida moderna, com coreografias estonteantes, trilha sonora e cenários de tirar o fôlego.