Cidade industrial terá maior templo hindu da Europa
7 de janeiro de 2002Uma visão se tornou realidade: graças à tenacidade de um sacerdote, a Alemanha terá este ano um templo dedicado à deusa hindu da ação, com 700 metros quadrados. E, como não poderia deixar de ser, parte do sucesso da empreitada se deve à providência divina.
Hamm-Uentrop fica na zona industrial da Renânia do Norte-Vestfália. Sua paisagem é tipicamente dominada por portões de fábricas e depósitos, com ruas repletas de buracos. Um dos poucos pontos altos arquitetônicos em sua história foi a maior torre de refrigeração do mundo. Ela pertencia um reator nuclear, atualmente desativado, e foi demolida em 1991. Enfim: este bairro industrial de Hamm é o contrário da imagem usual de um local de contrição e prece. No entanto, pouco a pouco uma construção exótica se destaca dessa estética plana e cinzenta: a partir do segundo semestre, a cidade possuirá o maior templo hinduísta da Europa.
Segundo o sacerdote Shiva Pakarakurukal, o local é ideal para os fiéis: Hamm-Uentrop tem acesso fácil pela auto-estrada e fica nas proximidades de um grande canal, elemento importante na festa anual da comunidade hindu. E a distância dos centros residenciais é uma vantagem, pois não haverá vizinhos para reclamar das cerimônias diárias, com música e grande afluência de automóveis. Atualmente cerca de 3000 hindus da Renânia freqüentam regularmente o templo provisório organizado por Pakarakurukal em 1997, e as ocasiões festivas chegam a contar com a presença de até 7000 fiéis.
Assim como o antigo templo, o novo edifício será dedicado à deusa Sri Kamadchi Ampal. Segundo a tradição, seus olhos vêem as súplicas dos fiéis e as satisfazem. Talvez tenha sido realmente necessária a intervenção da deusa, pois nenhum banco parecia disposto a conceder crédito para que a visão de Pakarakurukal se tornasse realidade. O sacerdote admite, com simplicidade: "Rezei para meu deus, para que ele ajudasse com doações".
No início de 2000 foi lançada a pedra fundamental e desde então o dinheiro entra, modesta porém regularmente. E, a custa de doações, empréstimos sem juros por parte de membros da comunidade, além de um crédito bancário, Pakarakurukal está conseguindo reunir os dois milhões de euros necessários à ambiciosa empreitada. Ele confiou na providência divina, até mesmo na escolha do arquiteto: "Abrimos o catálogo telefônico, fechamos os olhos e pusemos o dedo no nome certo".
O arquiteto que caiu do céu
O homem certo foi Heinz-Rainer Eichhorst, de 49 anos, um profissional com larga experiência, embora não na construção de templos: "Uma vez construí uma mesquita, de resto foram mais casas ou escolas. Porém não se deve temer o novo". Impressionado com o carisma do sacerdote, o arquiteto aceitou o desafio. Juntos, os dois viajaram durante três meses pela Índia, filmando, fotografando e fazendo planos.
O resultado foi, nas palavras de Eichhorst, "um galpão industrial, que ganha um toque especial através das ornamentações hinduístas". Estas ficam a cargo de dez construtores de templos, vindos especialmente da Índia. Seu trabalho continua no interior do templo, onde estão realizando, no momento, as estátuas das diversas divindades, distribuídas em 700 metros quadrados.
Cada uma delas terá o seu próprio altar, quer se trate de Ganesh, o deus-elefante, ou de Subramania, o segundo filho de Shiva. Ao todo, serão 180 imagens divinas, em volta e dentro da construção. E no verão europeu, cerca de 10.000 adeptos do hinduísmo poderão finalmente admirar, na cerimônia do dashan, a padroeira do novo templo, Sri Kamadchi Ampal, a deusa da força de ação.