Estudo revela como jogos de azar afetam milhões de alemães
14 de novembro de 2023Um relatório apresentado pelo comissário federal da Alemanha para Toxicodependência e Drogas, Burkhard Blienert, nesta segunda-feira (13/11), relevou que 1,3 milhão de alemães sofrem de transtornos associados aos jogos de azar e outros 3,3 milhões demonstram sinais iniciais de propensão ao vício.
Segundo o estudo intitulado Glücksspielatlas ("Atlas dos Jogos de Azar", em tradução livre), que reúne dados de 2021, 30% dos adultos alemães aderem à jogatina, o que representa uma diminuição significativa do percentual de 55% registrado em 2007.
Mesmo assim, 7,7% dos adultos sofrem com problemas financeiros, sociais ou de saúde associados com jogos de azar no país de 84 milhões de habitantes.
"Jogos de azar raramente deixam os participantes felizes", observou Blienert ao apresentar o relatório em Berlim. "Trata-se de uma doença", explicou Christina Rummel, especialista do Centro Alemão para Toxicodependência .
Risco maior para jovens e migrantes
O relatório identifica os homens com idades entre 21 e 35 anos como sendo particularmente vulneráveis aos problemas decorrentes dos jogos de azar, assim como pessoas com transtornos psicológicos e com alto consumo de álcool.
O vício nos jogos de azar é definido como uma "participação excessiva e destrutiva", durante a qual os jogadores perdem o controle, aumentam as apostas e gastam cada vez mais dinheiro, além de mentir para ocultar o vício e se isolar de seus círculos sociais.
Pessoas de origem migratória também estão sob risco, segundo o relatório. O especialista em jogos de azar Tobias Hayer explica que a jogatina pode se tornar um tipo de automedicação para migrantes que sofreram traumas ou que se veem marginalizados da sociedade e com problemas financeiros.
A pandemia de covid-19 também forneceu terreno fértil para a jogatina, enquanto pessoas vulneráveis se viam em condições de isolamento e sob pressão financeira.
O perigo das apostas esportivas
Ao lado das tradicionais máquinas caça-níqueis, o relatório identifica o crescimento das apostas esportivas online como o maior campo para o desenvolvimento do vício.
O futebol, em particular, é bastante problemático. A empresa de apostas Bwin possui parcerias oficiais com a Confederação Alemã de Futebol (DFB, na sigla em alemão) e com vários clubes do país, incluindo Borussia Dortmund, Union Berlin, Colônia, St. Pauli e Dynamo Dresden.
O ex-goleiro e ex-capitão do Bayern de Munique e da seleção alemã Oliver Kahn – que atuou na derrota para o Brasil na final da Copa do Mundo de 2002 – foi garoto-propaganda do site de apostas Tipico durante oito anos, entre 2012 e 2020. É quase impossível assistir futebol na Alemanha e sem ser exposto a comerciais de portais de apostas.
"Quando se busca os resultados da Bundesliga [Campeonato Alemão] no smartphone, somos imediatamente confrontados com ofertas de empresas de apostas", observou Blienert, ao alertar contra a banalização dos jogos de azar quando associados aos esportes. O comissário pediu restrições mais duras contra esse tipo de publicidade.
Lucros bilionários
"Quando os mais jovens são tentados a apostar através de jogos aparentemente inofensivos, algo não está certo", afirmou. Ele defende a proibição dos anúncios televisivos de portais de jogos de azar antes das 23h.
Mas, com a indústria obtendo lucro de 13,4 bilhões de euros (mais de R$ 70 bilhões) no ano passado, e com o Estado alemão arrecadando 5,2 bilhões de euros em impostos com a jogatina legal somente em 2021 – mais do que o dobro do obtido com bebidas alcoólicas – o lobby dos jogos de azar acumula grande poder.
O relatório foi elaborado em parceria com o Instituto para Pesquisa Interdisciplinar em Vício e Drogas de Hamburgo, o Centro Alemão para Toxicodependência em Hamm e o Departamento de Pesquisas em Jogos de Azar da Universidade de Bremen.
rc/rk (SID, KNA, dpa, DW)