Oliver Kahn: último jogo
17 de maio de 2008O goleiro Oliver Kahn encerra neste sábado (17/05), aos 38 anos, uma das carreiras mais bem-sucedidas da história do futebol alemão. São 557 jogos e oito títulos pela Bundesliga, seis Copas da Alemanha, um Mundial de Clubes e uma Liga dos Campeões.
Todos os títulos foram conquistados jogando no gol do Bayern de Munique, um dos dois únicos clubes que defendeu em 21 anos de carreira. O outro foi o Karlsruhe, que o revelou e onde jogou de 1987 a 1994.
Ao final da partida contra o Hertha Berlim no Allianz Arena, em Munique, Kahn poderá acrescentar ao seu currículo mais um recorde: o de comandante da defesa menos vazada numa temporada da principal competição de futebol da Alemanha.
O recorde atual pertence à defesa do Werder Bremen na temporada 1987/88, quando a equipe tomou 22 gols. O Bayern de Munique, antes do início da 34ª e última rodada do Campeonato Alemão, soma 20 gols contra.
De Titan a King Kahn
Recordes e casos inusitados não faltam na carreira de Kahn. Nenhum goleiro jogou tanto quanto ele na Bundesliga, nenhum jogador venceu tantas vezes o Campeonato Alemão e a Copa da Alemanha. Não há registro, também, de algum outro que tenha mordido o rosto de um adversário, como Kahn fez com Heiko Herrlich, do Borussia Dortmund, em 1999.
"O técnico disse que deveríamos grudar (festbeissen) no adversário. Eu apenas segui essa orientação", explicou Kahn, após o jogo. Festbeissen, numa tradução livre, é algo como "morder firme".
Suas atitudes intempestivas e sua liderança em campo também lhe renderam uma série de apelidos, algo pouco comum no futebol alemão. Titan, Vul-Kahn, King Kahn são nomes que acompanharam a carreira do goleiro tanto quanto os títulos, as broncas que ele dava nos companheiros e as bananas jogadas diante de seu gol pelos torcedores adversários.
Tudo isso alimenta o mito e faz com que Kahn se despeça dos gramados como mais do que apenas um excelente jogador. Aposentado, ele certamente será incluído numa galeria onde já estão os nomes de Sepp Maier, Gerd Müller e Franz Beckenbauer: a das lendas do futebol alemão.
Títulos com a seleção
Uma lacuna ficará na carreira do goleiro nascido em 15 de junho de 1969 em Karlsruhe: o título numa Copa do Mundo. Em 11 anos na seleção alemã, venceu apenas a Eurocopa de 1986 – ainda assim, no banco de reservas do início ao fim do torneio.
Na Copa do Mundo de 2002, disputou todos os jogos, mas foi vice-campeão. A Alemanha foi derrotada pelo Brasil por 2 a 0 na final em Yokohama e Kahn falhou no segundo gol que Ronaldo marcou na partida. O erro não o impediu de ser eleito o melhor jogador do torneio pela Fifa.
A última chance era a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Mas Kahn foi preterido pelo então técnico Jürgen Klinsmann, que preferiu escalar o goleiro do Arsenal, Jens Lehmann, e mandou o "titã" para a reserva. A decisão revoltou o titular do Bayern de Munique, que chegou a pensar em desistir da seleção.
Mas Kahn repensou, aceitou a dura decisão de Klinsmann, sentou no banco de reservas e ainda foi ao gramado encorajar Lehmann antes da decisão por pênaltis contra a Argentina, nas quartas-de-final. A Alemanha não chegou à final, e Kahn disputou seu último jogo pela seleção na decisão do terceiro lugar, contra Portugal. A Alemanha venceu por 3 a 1.
"A experiência de que não é necessário estar sempre em campo e sempre vencer para ter sucesso foi libertadora. De repente eu senti que as pessoas me olhavam com uma simpatia por mim até então desconhecida", comentou após a Copa.
Foi só ao revelar uma humildade até então ignorada pelo público que o polêmico Oliver Kahn conquistou de vez a simpatia dos torcedores alemães.
Frases de Oliver Kahn
"O único animal lá em casa sou eu."
"Todo o estádio estará contra nós. Toda a Alemanha estará contra nós. Nada pode ser melhor do que isso." (Antes do jogo final da temporada 2000/2001, contra o Hamburgo)
"Hoje a minha mochila deveria estar no gol. Aí teríamos tomado dois gols a menos." (Depois da derrota por 5 a 1 contra a Inglaterra nas Eliminatórias da Copa 2002)
"Crises há numa UTI ou no Oriente Médio, não no futebol." (Depois de três derrotas seguidas do Bayern de Munique)
"Culhão, precisamos de mais culhão." (Respondendo à pergunta "O que faltou à equipe?" depois de uma derrota para o Schalke)
"Sempre em frente." (Slogan pessoal)