Corrupção
20 de novembro de 2006O escândalo de corrupção na Siemens assume maiores dimensões. A Promotoria Pública de Munique informou nesta segunda-feira (20/11) que, por ocasião da operação pente-fino realizada na semana passada na empresa, também houve busca no escritório de seu executivo-chefe, Klaus Kleinfeld.
Pela suspeita de desvio de 20 milhões de euros da empresa, 12 pessoas estão sendo investigadas, inclusive dois antigos diretores de área. Quatro suspeitos estão em prisão preventiva. O promotor público Anton Winkler salientou, entretanto, que Klaus Kleinfeld é apenas testemunha no caso, não havendo acusação contra o presidente da firma.
Segundo uma reportagem do Süddeutsche Zeitung, existiriam indicações de que, desde os anos de 1990, mais de 100 milhões de euros foram desviados da Siemens, através de contas no exterior, para formação de caixa dois.
Abertura de inquérito somente por desvio de dinheiro
Especula-se que parte deste dinheiro teria sido usada para o pagamento de propinas por contratos relativos, por exemplo, às Olimpíadas de 2004, em Atenas. A Procuradoria Geral da Suíça foi informada por um banco de suspeita de lavagem de dinheiro e abriu inquérito.
Também a Promotoria Pública de Bolzano abriu um inquérito. Contas secretas em Innsbruck e Salzburgo teriam recebido mais de 100 milhões de euros nos anos de 1990.
Um porta-voz da Siemens informou ao Süddeutsche Zeitung que "nós sabemos que, desde o ano passado, existe um processo judicial correndo na Suíça".
A empresa não teria visto, entretanto, necessidade de levar o problema da lavagem de dinheiro às autoridades alemãs, pois já há um processo na Suíça. Anton Winkler informou que, em Munique, o atual inquérito foi aberto somente por desvio de dinheiro. Propinas e lavagem de dinheiro não foram, até agora, mencionados.
Somente a ponta do iceberg
O vice-presidente da organização Transparência Internacional na Alemanha, Peter von Blomberg, informou nesta segunda-feira que escândalos como o da Siemens não são casos isolados na Alemanha.
"Sabemos que, em casos de corrupção, somente uma pequena parte da verdade vem à tona e o que vemos é somente a ponta do iceberg", comentou Von Blomberg.
A Promotoria Pública de Munique ainda está bastante cautelosa quanto ao caso da Siemens, já que as investigações estão apenas começando. Ainda não está claro se a empresa é vítima ou cúmplice de ações criminosas de seus executivos.
Para Von Blomberg, o estado das investigações mostra que não se trata de funcionários isolados que desviaram dinheiro para seu próprio bolso. Um dos detidos era diretor de uma das áreas de atuação da Siemens, um outro funcionário de alto escalão está na lista dos suspeitos. "Se for confirmado que a direção teve um papel ativo nos casos de corrupção, é de se imaginar que as diretrizes internas da empresa não estavam sendo levadas a sério", declarou Von Blomberg.
Responsabilidade para Klaus Kleinfeld
Em entrevista ao Berliner Zeitung, Von Blomberg lembrou que o atual presidente do Conselho de Administração da Siemens Mundial, Heinrich von Pierer, somente introduziu a política anticorrupção na empresa a partir de seu mandato como presidente [1992–2005].
Von Blomberg atribui responsabilidade também à atual diretoria em torno de Klaus Kleinfeld. Não é bom para a imagem da Siemens que a empresa saiba das investigações já há um ano, mantendo sigilo e somente investigando internamente.
A empresa anunciou, na última sexta-feira (17/11), a criação do cargo de ombudsman. Uma decisão correta, mas que vem muito tarde na opinão de Von Blomberg.
O atual escândalo da Siemens é visto por ele, entretanto, como uma boa chance para o combate à corrupção na Alemanha – casos importantes e prisões poderiam servir de exemplo e aumentar a consciência em torno da criminalidade.