Do colonial ao global
4 de setembro de 2008Por mais diferentes entre si que sejam as culturas musicais do mundo, uma forma se encontra por toda a parte: o tocar em conjunto – em orquestra. É isto o que prova a exposição que abriu nesta quarta-feira (03/09) no Überseemuseum (Museu do Além-Mar) de Bremen.
Os marinheiros mercantes daquela cidade portuária que atravessaram os mares no século 19 não eram apenas sequiosos de riquezas: eles também visitavam as terras distantes munidos de espírito de curiosidade e um ouvido para o exótico.
Verdadeira "música do mundo"
Com o auxílio de numerosos empréstimos de objetos, Mundos de orquestras – Orquestra do mundo exibe pela primeira vez formações orquestrais de praticamente todos os cantos do planeta.
Porém as peças não servem apenas para ser vistas, como também para soar: durante as próximas semanas, diversos músicos de orquestra estão convidados a Bremen, trazendo à vida os instrumentos expostos. O etnomusicólogo Andreas Lüderwald descreve, entusiasmado:
"Música do mundo, orquestra do mundo. No centro está o fato de que é melhor fazer música junto com os outros. Formam-se grupos e cada um se engaja como indivíduo, mas o que se produz é esse som orquestral. É uma música viva, a que apresentamos."
Raridades dos quatro cantos
Para organizar a mostra, Lüderwald teve à sua disposição não apenas os ricos acervos históricos do Überseemuseum, como também raras peças emprestadas. Como, por exemplo, o instrumento de bambu do oeste de Bali cujas medidas são as de um órgão da Renascença.
Seus maiores "tubos" têm três metros de comprimento. "Dois músicos precisam galgar o instrumento e tocá-lo de cima. É uma música fantástica, com esse material natural", explica o etnomusicólogo.
A palheta das peças vai desde o instrumentário do gagaku – música clássica do Japão – ao conjunto africano de balafom, uma espécie de xilofone; dos tinidos e sons cristalinos da ópera de Pequim ao gamelão, orquestra indonésia de gongos de ferro e bronze, de tamanhos variados.
O mundo ali na esquina
Certas orquestras nasceram não da abundância, mas sim da necessidade. Como quando os habitantes da Ilha de Trinidad, no Caribe, foram privados de todos os seus instrumentos, só lhes restando tonéis de metal para fazer música. Assim, uma steelpan orchestra – vinda da Baviera – representa o continente americano em Mundos de orquestras.
O curador Andreas Lüderwald traduz o espírito da original exposição: "O mundo ficou realmente pequeno. Nós, europeus, começamos a transportar a música clássica para todas as partes do mundo, assim como as orquestras correspondentes – de sopros, militares, sinfônicas."
Mas o contrário também começa a ocorrer. "Muita coisa vem do Oriente para o Ocidente. Na Alemanha você pode ouvir e sobretudo tocar tudo – gamelão, tambores africanos, balafom. É música do mundo bem ali na esquina, por assim dizer."
Assim, essa exposição não apenas exibe uma cacofonia de sons exóticos, como lança luz sobre os caminhos da música, da época colonial até nossos tempos de globalização – também musical.