Enfermeira é condenada à prisão perpétua por matar bebês
21 de agosto de 2023Condenada pelo assassinato de sete recém-nascidos e por tentativa de homicídio de outros seis bebês que estiveram sob os cuidados dela em um hospital no Reino Unido, a ex-enfermeira Lucy Letby, 33, recebeu a sentença de prisão perpétua nesta segunda-feira (21/08).
Trata-se da pior série de assassinatos de crianças da história contemporânea do país – segundo a acusação, a maioria das vítimas eram bebês prematuros.
Presa após uma série de óbitos entre junho de 2015 e junho de 2016 na unidade neonatal do Hospital Countess of Chester, no noroeste da Inglaterra, Letby começou a ser julgada em outubro passado pelo júri de Manchester Crown, em audiências que se estenderam por um total de mais de 110 horas.
A ex-enfermeira estava no banco dos réus quando o júri anunciou suas primeiras condenações no início de agosto, mas se recusou a comparecer às sessões para ouvir os veredictos finais e a declaração de sentença.
"Você agiu de uma forma completamente contrária aos instintos humanos normais de cuidar de bebês", disse o juiz James Goss, dirigindo-se a Letby em sua ausência. Ele disse que houve "premeditação, cálculo e astúcia" em suas ações, com uma "profunda malevolência que beira o sadismo".
"Você não tem remorso", acrescentou o juiz, ordenando que ela recebesse uma cópia por escrito dos comentários da sentença e das declarações das famílias das vítimas. "Não há atenuantes."
"A ordem do tribunal, portanto, é uma ordem de prisão perpétua para cada ofensa, e você passará o resto de sua vida na prisão", decretou Goss.
Letby foi inocentada por duas tentativas de homicídio; o júri não chegou a uma conclusão sobre outras seis tentativas de assassinato.
Em um comunicado conjunto, as famílias das vítimas de Letby lamentaram que alguns não tenham ouvido os veredictos que esperavam ouvir e ressaltaram que embora "a justiça tenha sido feita" para os demais casos em que a condenação foi confirmada, isso "não diminuirá a dor extrema, a raiva e o sofrimento que todos nós tivemos que vivenciar".
Quem eram as vítimas
As primeiras vítimas pelas quais a enfermeira britânica foi acusada judicialmente eram gêmeos; o menino tinha apenas um dia de vida quando veio a óbito, em junho de 2015; a irmã dele sobreviveu a uma tentativa de homicídio. Mas foi só um ano depois, após bebês trigêmeos morrerem em um intervalo de 24 horas, que Letby foi afastada da unidade neonatal e remanejada para o setor administrativo do hospital.
Ela chegou a ser presa três vezes entre julho de 2018 e novembro de 2020, mas foi só na última detenção que ela foi formalmente acusada e mantida em custódia.
Governo anuncia investigação
Letby negou ter machucado os bebês e alegou que um grupo de médicos de alta patente tentou culpá-la como pretexto para esconder falhas do hospital.
O governo britânico anunciou a abertura de uma investigação independente do caso e afirmou que analisará como a administração do hospital lidou com preocupações expressadas por médicos que atuavam na instituição de que crianças estivessem sendo vítimas de atentados – esses funcionários teriam sido, segundo relatos, repreendidos pela administração e até forçados a se desculparem junto às enfermeiras.
Motivação dos crimes é incerta
A motivação dos crimes ainda é incerta. Ao longo dos julgamentos, a acusação se referiu à enfermeira como uma pessoa "calculista" que enganou os colegas no hospital, induzindo-os a acreditar que o aumento de mortes de bebês era "apenas má sorte". Até 2015, a instituição tinha uma taxa de óbito neonatal de 1 a 3 por cada 100 pacientes; entre 2015 e 2016, 16 fatalidades foram registradas.
Letby estava trabalhando quando as vítimas passaram mal, e teria atacado alguns dos bebês assim que os pais saíram de perto do berço. A promotoria disse que ela agia muitas vezes durante o turno da noite, injetando ar, superalimentando-os com leite ou envenenando-os com insulina.
Segundo a acusação, a enfermeira teria nutrido um interesse incomum pelas famílias das vítimas, pesquisando sobre a vida deles nas redes sociais e chegando até mesmo a enviar uma mensagem de condolências a pais enlutados de um dos recém-nascidos por cuja morte ela foi posteriormente responsabilizada.
Entre as evidências levadas ao tribunal estão anotações manuscritas apreendidas pela polícia na casa de Letby; uma delas, em letras maiúsculas, continha a frase "eu sou maligna, eu fiz isso".
Mais casos em análise
Uma reportagem do jornal britânico The Guardian publicada mais cedo nesta segunda-feira afirmou que Letby pode ter atentado contra a vida de pelo menos outras 30 crianças.
Os casos estão sob investigação das autoridades, que analisam informações sobre mais de 4 mil bebês. Todas essas crianças teriam sobrevivido.
Ainda de acordo com o Guardian, das seis crianças que Letby comprovadamente tentou matar, duas convivem com danos cerebrais graves em decorrência da conduta da enfermeira.
ra (AFP, DPA, ots)