Energia nuclear vai muito bem na Alemanha, obrigado
11 de junho de 2004Sob o título de um consenso sobre o "encerramento gradual da utilização da energia nuclear para produção comercial de eletricidade", governo e indústria alemã decidiram em junho de 2001 abandonar a energia atômica. Em 22 de abril de 2002 entrava em vigor uma emenda de lei proibindo a construção de novas usinas na Alemanha.
Segundo alguns, uma vitória para todos, graças à persistência do Partido Verde. Segundo outros, antes de tudo uma guerra ideológica, sem impacto justificável sobre o meio ambiente ou a qualidade de vida.
Três anos mais tarde, os 38 mil que trabalham na indústria e pesquisa atômicas na Alemanha parecem ter poucos motivos para se preocupar por seus empregos. Em outras palavras: o período de meia-vida da energia termonuclear na Alemanha ameaça ser muito, muito longo.
A preguiça de desativar
Manfred Horn, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW) em Berlim, confirma essa impressão: "O abandono da energia atômica praticamente ainda nem começou".
Até agora, somente uma usina, a de Stade, foi desativada. Todas as demais continuam conectadas à rede. E mesmo se forem desligadas, no futuro, ainda continuará havendo suficiente trabalho para quem se especializou no setor.
O porta-voz do principal conglomerado nuclear europeu, a Framatone ANP, confirma: "No momento temos na Alemanha o mesmo volume de mercado que antes da decisão de abandonar a energia termonuclear".
A explicação é que a Framatone não se ocupa apenas de construir usinas, como as orienta, moderniza e fornece elementos combustíveis. Todas essas, tarefas que continuam sendo assiduamente solicitadas.
Fusão poderosa
Mesmo no remoto caso de a despedida dos reatores de fissão nuclear começar de verdade, a indústria alemã está bem garantida, através de suas conexões internacionais.
A Framatone ANP nasceu de uma grande fusão em 2001, quando a alemã Siemens e a francesa Areva uniram seus departamentos eletronucleares num novo grupo. Isso a torna relativamente independente do mercado nacional.
Ela acaba de receber importante encomenda para a construção de uma usina na Finlândia, com um volume total de três bilhões de euros. Trata-se da primeira usina de terceira geração, além de ser a primeira nova construção dentro da UE nos últimos dez anos. A França também já considera se mandará construir um novo reator.
Abandonando o abandono
Isso mostra que, enquanto os alemães tentam – embora sem muita convicção – afastar-se da eletricidade por fissão nuclear, ela está cada vez mais in nos outros países. Não é exagero falar num renascimento: cinco dos dez países novatos na União Européia trouxeram, com seu ingresso em 1º de maio, 19 usinas para dentro da comunidade. E enquanto isso, no Extremo Oriente, os chineses planejam uma verdadeira bateria termonuclear.
Não é de espantar que a Alemanha veja reacender-se a aparentemente extinta discussão sobre o abandono da energia atômica. Sobretudo os políticos conservadores dos maiores partidos de oposição – União Democrata-Cristã (CDU) e Social-Cristã (CSU) – clamam não só para que a desativação das antigas usinas seja prorrogada, como pela construção de novas unidades.
O assunto já é até ponto de campanha eleitoral: os líderes da CDU e CSU, Angela Merkel e Edmund Stoiber, prometem que, caso vençam as eleições parlamentares de 2006, a Alemanha pode ir começando a pensar a sério no abandono do abandono da energia termonuclear.