Energia nuclear como solução para crise energética
22 de março de 2005Na Europa e na Ásia, as usinas nucleares estão novamente "na moda". O alto preço de commodities usadas para a produção de eletricidade, como petróleo ou gás, já motivou a construção de uma nova usina atômica na Finlândia. A França – que tradicionalmente produz energia a partir do enriquecimento do urânio – também tem projetos no setor. Ao mesmo tempo, Romênia e Rússia iniciaram a construção de novas plantas nucleares. Países emergentes, como a China e a Índia, também constróem reatores para uso civil. No final de 2004, encontravam-se em construção 22 usinas nucleares em nove países.
Uma conferência da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que termina nesta terça-feira (22/03), em Paris, discute a eficiência da produção nuclear como substituta para a geração de energia a partir do petróleo e do gás natural. A cotação do óleo cru vem batendo recordes nos últimos meses. Na segunda-feira (21/03), o barril do produto era negociado a US$ 56,10 em Londres. Atualmente, cerca de 7% do consumo mundial de energia é coberto por meio de usinas atômicas – cálculos mais críticos, porém, reduzem essa estimativa para 2,3%.
Material não-renovável
Existem diferentes estatísticas sobre a quantidade de urânio disponível no mundo. "Em duas ou três décadas, certamente as reservas chegarão ao fim", afirma Henrik Paulitz, que coordena o escritório alemão da organização antinuclear Médicos Contra a Guerra Nuclear. "O urânio, assim como o petróleo e o gás, é uma matéria-prima escassa. Por isso, se deveria apostar em opções renováveis, como as energias eólica, solar e hidrelétrica."
No entanto, as empresas européias produtoras de energia atômica tem cálculos bem mais otimistas. De acordo com Christopher Wesselmann, da VGB PowerTech, as reservas de urânio são suficientes para 85 anos de abastecimento. A VGB PowerTech representa produtores de energia de toda a europa e sua atuação não se resume às plantas nucleares, pois inclui também as hidrelétricas e termelétricas.
Lixo atômico
Quando se pensa em energia nuclear, porém, o fornecimento de urânio não é a única questão. O perigo de acidentes envolvendo materiais radioativos é uma constante preocupação dos críticos da produção de energia atômica. Os vazamentos (como o que ocorreu em Chernobyl, em 1986) e a produção de resíduos são dois problemas ainda não resolvidos.
"As usinas nucleares podem produzir energia por mais ou menos 150 anos. Porém, os efeitos do lixo atômico ficam no meio ambiente por aproximadamente 10 mil anos", afirma Paulitz, da ONG Médicos Contra a Guerra Nuclear. Além disso, críticos do enriquecimento de urânio para fins civis afirmam que, caso caia em mãos erradas, o material pode ser usado para a fabricação de armas nucleares – o exemplo prático deste perigo seria a Coréia do Norte.
Entretanto, também há razões para o uso da energia nuclear. Na Finlândia, por exemplo, uma planta que produzisse energia a partir do carvão causaria um aumento nas emissões de dióxido de carbono do país, o que contraria o objetivo número um do Protocolo de Kyoto: a redução de CO2 na atmosfera.
Rapidez e baixo custo
Ao optar por usinas nucleares, os governos ficam menos dependentes de nações produtoras de petróleo, como os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia. O principal motivo para a construção de novas plantas atômicas na França, por exemplo, é a limitada quantidade de fornecedores de outras matérias-primas. Países em desenvolvimento, como Índia e China, encontram nas usinas nucleares uma resposta rápida e de custo baixo para sua crescente demanda por novas fontes de energia.
O uso da energia atômica para fins civis é regulado por um acordo internacional de redução de armas nucleares. Para produzir energia elétrica a partir do enriquecimento do urânio, as nações signatárias precisam abdicar da fabricação de armas atômicas. A instalação de usinas precisa seguir as regras ditadas pela AIEA – a instituição pode fiscalizar o uso de materiais radioativos, como pretende fazer no Iraque. Entretanto, sua influência se aplica apenas aos países que assinaram o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.