1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Encontro de ministros do Exterior evidencia Europa dividida

Barbara Wesel (pv)5 de setembro de 2015

Entendimento na União Europeia por solução conjunta para a crise migratória segue distante. Enquanto lideranças políticas lideradas por Berlim pedem rapidez, países do bloco oriental rejeitam quota de redistribuição.

https://p.dw.com/p/1GRS8
Foto: Reuters/B. Szabo

Se alguém tinha a ilusão de uma aproximação entre países-membros da União Europeia (UE) no encontro dos ministros do Exterior do bloco, o ministro do Exterior da Hungria tratou de destruí-las logo em sua chegada a Luxemburgo. "A UE tem de parar de provocar expectativas não realistas e, assim, atrair mais e mais refugiados à Europa", disse o ministro Peter Szijjarto.

Esta é a linha do governo húngaro desde o controverso e criticado discurso do premiê húngaro, Viktor Orban, em Bruxelas: ele apontou o dedo para a Alemanha, alegando que Berlim possui uma parcela de culpa pelo grande fluxo de sírios, porque fez promessas generosas.

E no final da tarde, Orban e líderes políticos de República Tcheca, Eslováquia e Polônia reafirmaram manter a posição: uma quota fixa para a redistribuição dos refugiados está fora de questão. Em vez disso, há a ideia de criar uma espécie de corredor entre os países da Europa Oriental e Alemanha, através do qual os refugiados poderiam, então, passar sem serem registrados.

Sem consentimento da Alemanha

Em Luxemburgo, a decisão não recebeu os aplausos da Alemanha – há dias o governo alemão apela para que Hungria e os países vizinhos não deixem de cumprir suas obrigações europeias de receber e registrar migrantes. O ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, disse que o país está disposto a ajudar – Berlim, inclusive, já dobrou a ajuda financeira para a Grécia para questões migratórias.

A Comissão Europeia também promete mais dinheiro às pessoas afetadas, mas com o lema "quem aceita a ajuda, também deve assumir responsabilidades", argumentando ser inaceitável que os refugiados continuem simplesmente sendo empurrados para o norte.

Ungarn Flüchtlinge haben sich zu Fuß zur Grenze zu Österreich aufgemacht
Após seguidos dias de caos em Budapeste, mais de mil refugiados decidiram caminhar os 175 quilômetros até a fronteira com a ÁustriaFoto: DW/D. Hirschfeld

A pressão do tempo aumenta

Dados os acontecimentos prévios na Grécia, Macedônia, Sérvia e especialmente na Hungria, onde milhares de pessoas desesperadas decidiram caminhar até a Áustria, a UE deve agir com rapidez. "Por que estamos tão lentos?", questionou o ministro do Exterior da Áustria, Sebastian Kurz, irritado.

"A Áustria já recebeu dez vezes mais pedidos de asilo do que Grécia e Itália juntos", reclamou. Ele pleiteia uma distribuição equitativa do contingente de migrantes na UE.

Algo aparentemente ainda distante de acontecer. Porque o cronograma já é pouco ambicioso: no encontro entre ministros do Interior do bloco europeu, em meados de setembro, haverá, no máximo, primeiros passos para um entendimento. Segundo o ministro do Exterior de Luxemburgo, Jean Asselborn, talvez em outubro, as primeiras soluções possam ser definidas.

Atualmente, ele é o presidente do Conselho Europeu, onde os governos dos Estados-membros devem tomar as decisões. Sua tarefa é levar as negociações adiante. Asselborn espera que agora "a ficha tenha caído" nos países-membros, e que estes participem de uma solução conjunta para a crise migratória. Mas outra função acoplada ao cargo de presidente do Conselho Europeu é manter o otimismo.

Steinmeier, por outro lado, deseja uma ação mais rápida, mas não ostenta a esperança de uma completa nova política da UE para asilo e refugiados. Os sinais indicam que os europeus vão fornecer soluções parciais e somente em pequenos passos, talvez progressos numa redistribuição única de 100 mil a 150 mil refugiados.

Außenministertreffen in Luxemburg
Ministros do Exterior de Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e Luxemburgo, Jean Asselbron, estão frustrados com lentidão na União EuropeiaFoto: picture-alliance/dpa/J. Warnand

A frustração é grande

Mas, por enquanto, não há um consenso para um mecanismo permanente para lidar com a crise. A Comissão Europeia já apresentou todos os tipos de ideias: países podem, por exemplo, se livrar temporariamente da obrigação de receber e registrar migrantes em troca de taxas. Falou-se até em sanções econômicas. Mas há resistência de um grupo de países na Europa Oriental, que se mantém firme em sua posição.

Mesmo para o político profissional Asselborn – há mais de uma década ele é ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo –, a frustração sobre o estado atual e a desunião na UE são claras. "Esta crise ainda vai ocupar a Europa por uma década e ela é muito mais grave do que os problemas da dívida da Grécia", afirmou.

E sobre as chocantes fotos que mostram o pequeno Aylan Kurdi, um menino de três anos da cidade síria de Kobane e que morreu afogado na travessia do Mar Egeu, Asselborn foi direto: "Eu acho que também emoções precisam colocar políticos em movimento".

De negação total a concessões parciais

Foi o que aconteceu com o primeiro-ministro britânico, David Cameron, que antes mantinha a posição totalmente contrária a uma política de refugiados comum da UE. Agora, motivado a praticar um gesto humanitário, ele prometeu receber milhares de refugiados da Síria. No entanto, o secretário do Exterior britânico nem participou das conversações em Luxemburgo – um sinal de que o Reino Unido pretende continuar a não trabalhar numa solução efetiva.

Enquanto isso, porém, cresce a impaciência em alguns países: Áustria e Eslováquia pedem por uma cúpula extraordinária da UE o mais rápido possível. Mesmo que a solidariedade na UE não tenha exatamente aflorado, e a Europa continue dividida, há esperança de que em alguma reunião noturna em Bruxelas, milagrosamente, os chefes de governo consigam chegar a um entendimento.