O peso da imigração na economia alemã
4 de setembro de 2015Fatos contra o preconceito, esse é o título que o renomado diário Süddeutsche Zeitung deu a uma reportagem publicada nesta semana sobre o peso da imigração sobre a economia da Alemanha. Segundo o texto, o governo do país gastou em 2013 cerca de 1,5 bilhão de euros com requerentes de asilo.
Considerando que os governos estaduais e locais estariam gastando 12,5 mil euros por ano com cada refugiado, em 2015 a quantia pode chegar a 10 bilhões de euros. No entanto, esse montante já não parece tão grande, em comparação com o orçamento total do governo federal, de 301 bilhões de euros – corresponde a apenas 3,31%.
Mas a ministra alemã do Trabalho e Assuntos Sociais, Andrea Nahles, considera necessários no próximo ano de 1,8 a 3,3 bilhões de euros adicionais para subsistência, aprendizado da língua e qualificação dos refugiados.
Estes custos aumentariam para cerca de 7 bilhões de euros em 2019, previu a ministra na terça-feira (01/09), em Berlim, lembrando que muitos dos refugiados recém-chegados estarão registrados ano que vem nos serviços públicos para obtenção de emprego.
Ela afirmou ter discutido o assunto com o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, e que ele não se espantou com os números. Nahles assegurou que no governo alemão todos concordam com a amplitude da tarefa e a necessidade de gastos. O assunto será, segundo ela, parte dos próximos debates sobre orçamento.
Até 460 mil desempregados adicionais
Entre 240 mil e 460 mil pessoas entrarão nas estatísticas alemãs dos que ainda não encontraram ou não são capazes de obter um emprego. Entre 175 mil e 335 mil delas são capazes de trabalhar, de acordo com essa previsão.
Nahles prevê que em 2019 um milhão de pessoas poderiam obter benefícios sociais. Isso, dependendo de, entre outras coisas, quantos membros das famílias dos requerentes de asilo ainda devem chegar e do sucesso da Agência Federal do Trabalho da Alemanha (BA). A previsão é baseada na suposição de que 800 mil refugiados chegarão anualmente, dos quais entre 35% a 45% terão asilo concedido.
A BA também espera que uma onda de refugiados chegue aos serviços de aconselhamento de emprego no próximo ano, conforme anunciado em Nurembergue. Em julho, segundo a agência, 161 mil pessoas dos dez principais países de origem dos imigrantes da última década estavam desempregadas.
"Nós também nos beneficiaremos disso. Porque nós dependemos da imigração", observou, fazendo referência à falta de trabalhadores em algumas áreas de emprego no país. "As pessoas que vêm como refugiados devem rapidamente se transformar em vizinhos e colegas de trabalho."
Mais verbas para integração
Nahles pediu que haja um esclarecimento rápido sobre um possível aumento das verbas para financiamento da integração dos refugiados ao mercado de trabalho, de modo que a BA possa expandir seus esforços em todo o país.
Segundo ela, os cursos de integração para os asilados não estariam fornecendo a eles suficiente conhecimento da língua alemã. Ela acredita que os cursos de línguas devem ser expandidos e ser inteiramente financiados com fundos federais.
"Um conhecimento pleno da língua alemã é chave para a entrada dessas pessoas no mercado de trabalho", avaliou.
Na reportagem, o Süddeutsche Zeitung se baseia num estudo realizado pelo Centro de Pesquisa Econômica Europeia (ZEW, na sigla em alemão) para a Fundação Bertelsmann. Segundo ele, os estrangeiros que vivem na Alemanha aliviam o caixa do Estado de bem-estar social em bilhões de euros. De acordo com a pesquisa, em 2012, as cerca de 6,6 milhões de pessoas sem passaporte alemão foram responsáveis por um superávit total de 22 bilhões de euros.
Steffen Angenendt, consultor do governo e da indústria há mais de 50 anos, alerta para que não seja feita uma pura "análise custo-benefício" no contexto de refugiados. "Deveríamos dizer, então, que aceitamos o refugiado se ele nos der um lucro líquido de, por exemplo, 2 mil euros por ano e, caso contrário, não? Para mim, todo esse debate é bastante suspeito", afirma o especialista do instituto SWP.
Angenendt sublinha ser extremamente difícil quantificar o que os refugiados custam e com que eles podem contribuir para o mercado de trabalho, para a segurança social ou para outras áreas. "Recentemente, tivemos um debate bastante intenso entre economistas, que chegaram a estatísticas completamente diferentes. E isso só em referência aos imigrantes", avisa, ressaltando que em se tratando de refugiados, esse cálculo é ainda mais difícil.
"Claro, devemos tentar colocar os refugiados no mercado de trabalho o mais rapidamente possível", diz o especialista. "Mas também temos que considerar que não estamos recebendo essas pessoas somente porque são mão de obra, mas porque elas precisam de proteção. E isso deve estar acima de tudo."