Empresas europeias estão na mira da Operação Lava Jato
26 de fevereiro de 2015Além de grandes empreiteiras brasileiras, empresas europeias estão na mira da Polícia Federal (PF) no caso de corrupção da Petrobras. Desde que, em março de 2014, foi deflagrada a Operação Lava Jato, Rolls-Royce (Reino Unido), Skanska (Suécia), Techint (Itália) e SBM Offshore (Holanda) foram citadas no escândalo. Juntas, elas tiveram mais de 30 bilhões de reais em contratos com a estatal.
No maior escândalo da história da Petrobras, a suspeita da PF é que parte do dinheiro obtido através de pagamento de propina por diversas empresas seria repassada por funcionários da estatal para o caixa de partidos como PT, PMDB e PP.
A Skanska ganhou licitações para manutenção de plataformas, construção de uma usina térmica no estado do Rio e outros serviços avaliados em mais de 700 milhões de reais. A Techint obteve, só em um consórcio com a Andrade Gutierrez, um contrato no valor de 2,5 bilhões de reais para a construção de uma unidade de coque no Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj).
A Rolls-Royce foi citada pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco. No acordo de delação premiada feito com o MPF, ele afirmou que a empresa britânica assegurou um contrato de 100 milhões de dólares com a estatal por meio do pagamento de propina. A multinacional inglesa fornece turbinas de geração de energia para plataformas de petróleo.
A holandesa SBM Offshore, que fornece navios-plataforma para a estatal e que tem contratos que somam cerca de 27 bilhões de dólares, é investigada por supostamente obter vantagens indevidas e pagar propina a funcionários públicos federais. Em novembro passado, a Controladoria-Geral da União (CGU) apontou "graves irregularidades" na relação entre as duas companhias.
Suspensão de futuras licitações
Em dezembro, a Petrobras suspendeu as empreiteiras Skanska e Techint, juntamente com outras 21 empresas suspeitas, de participarem de futuras licitações.
De acordo com comunicado da estatal, a medida, cautelar e em caráter preventivo, tem a finalidade de resguardar a petroleira e suas parceiras de danos de difícil reparação financeira e de prejuízos à imagem. O bloqueio, porém, não afeta contratos já firmados ou em andamento.
A decisão, que se aplica em grande parte a construtoras nacionais, deve levar a Petrobras a recorrer a empresas estrangeiras para compensar a perda na lista de fornecedores. A contratação de estrangeiras, porém, pode ser dificultada pela exigência de conteúdo local feitas pelo governo em seus contratos.
As principais empresas suspeitas de participarem do cartel são: Odebrecht, UTC, Camargo Corrêa, Techint, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Promon, MPE Montagens Industriais, Skanska, Queiroz Galvão, Iesa, Engevix, Setal, GDK, OAS Construções e Galvão Engenharia. Há investigações também sobre o envolvimento de fornecedoras como Alusa, Carioca Engenharia, Schahin, Setal Engenharia e dos estaleiros Keppel Fels e Jurong, de Cingapura.
De acordo com dados do Ministério Público Federal (MPF), os crimes já denunciados envolvem o desvio de cerca de 2,1 bilhões de reais. Já foram recuperados 500 milhões, e 200 milhões em bens de réus estão bloqueados.
Na sexta-feira (20/02), o MPF ajuizou cinco ações de improbidade administrativa, que cobram 4,47 bilhões de seis empresas investigadas por desvios – Camargo Corrêa, Sano-Sider, Mendes Júnior, OAS, Galvão Engenharia, Engevix e seus executivos.
Empresas negam irregularidades
A Rolls-Royce afirmou, por meio de nota, que a empresa não recebeu detalhes das alegações feitas recentemente na imprensa e que não foi abordada por autoridades brasileiras:
“Nós temos sempre sido claros que não vamos tolerar conduta empresarial imprópria de qualquer tipo e tomaremos todas as medidas necessárias para assegurar a conformidade, inclusive cooperando com as autoridades em qualquer país.”
Já a Skanska disse que “a empresa conduz seus negócios com alto grau de integridade e ética e está à disposição das autoridades para colaborar nas investigações”.
A Techint, por sua vez, afirmou que respeita rigorosamente a legislação brasileira e que "não houve irregularidade nas contratações dos projetos que executou ou executa para a Petrobras". A empresa criticou, ainda, o bloqueio imposto pela estatal.
"A decisão tomada pela Petrobras não possui caráter cautelar, mas de efetiva e concreta penalização antecipada e sem provas, em flagrante violação ao princípio de presunção de inocência. A Techint lamenta a postura precipitada e desprovida de qualquer fundamento adotada por sua cliente", afirmou a empresa, por e-mail.
Procurada pela DW Brasil, a SBM Offshore não se manifestou até o fechamento da reportagem.