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"Mercado queria uma pessoa independente na Petrobras"

Karina Gomes10 de fevereiro de 2015

Consultor diz que preferência era por alguém com capacidade de desobedecer Dilma Rousseff. Prioridade do governo deve ser a publicação de um balanço auditado, avalia.

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Foto: picture-alliance/dpa

O novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, assumiu o comando da estatal nesta semana com a tarefa de recuperar a imagem e recolocar na ascendente a curva de lucratividade da petroleira, envolvida no maior escândalo de corrupção da sua história.

Mas a indicação do ex-presidente do Banco do Brasil (BB) para o cargo não foi bem recebida pelo mercado financeiro – as ações da Petrobras caíram 7% tão logo o boato de que ele seria o substituto de Graça Foster se espalhou, na última sexta-feira (06/02).

Em entrevista à DW Brasil, o consultor John Forman, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), argumenta que Bendine está numa situação desconfortável frente aos investidores por ter seguido orientações do Planalto quando estava no comando do BB. "O mercado queria alguém independente, que tivesse a capacidade de desobedecer à presidente Dilma Rousseff."

DW Brasil: Com Aldemir Bendine na presidência, a credibilidade da Petrobras deve continuar negativa diante do mercado financeiro?

John Forman: A indicação de alguém cuja característica principal é ter sido escolhido para presidir um banco que obedeceu às instruções do Planalto não o credencia muito. Não pelo fato de ter ligação com o Palácio, mas por, durante sua atuação à frente do Banco do Brasil, ter seguido instruções do governo sem pestanejar. Também foram levantadas dúvidas em torno do nome dele: ele é citado em inquéritos policiais por ter transportado dinheiro e sonegado impostos. A Operação Lava Jato continua, e cada novidade traz mais espanto ao mercado.

Qual deveria ser o perfil do novo presidente da Petrobras?

O mercado queria alguém independente, que tivesse a capacidade de desobedecer à presidente Dilma Rousseff. Isso é, evidentemente, algo que ela não procuraria, não é verdade? De qualquer maneira, seja qual for o perfil, como diz o ditado, "uma andorinha não faz verão". Um presidente precisa ter uma boa diretoria, de estrutura revista em relação à atual. Eu acho que a prioridade do governo, por isso a indicação de Dilma por Bendine, é a publicação de um balanço auditado. Não é uma tarefa fácil, e é algo que ele vai ter que negociar com as empresas de auditoria.

Aldemir Bendine Präsident brasilianischer Ölkonzern Petrobras
Aldemir Bendine é criticado por ter seguido orientações do Planalto no Banco do BrasilFoto: Reuters/N. Doce

Como calcular o tamanho do prejuízo causado pela corrupção na estatal?

Essa é uma incógnita. A estimada baixa nos ativos, de 88 bilhões de reais, envolve atrasos, sobrepreços, e isso tudo não é necessariamente corrupção. No governo FHC, a Petrobras foi liberada da obrigação de seguir o sistema de licitações públicas, que estava previsto na rigorosa Lei 8666/93. O Tribunal de Contas da União argumenta que é necessário voltar a esse regime para evitar a corrupção. Mas as empresas privadas também fazem licitações e tomadas de preço. O que está em jogo não são alterações na lei. Mudando ou não, é a atuação das pessoas que vai corrigir a direção de rumos dentro da Petrobras.

Que postura deve ser adotada pelos novos diretores da estatal?

A Petrobras foi criada em 1953 e foi a única empresa brasileira que mexeu com petróleo até 2000, com uma preocupação muito forte com a formação de pessoal. As outras empresas que estavam no Brasil eram meras distribuidoras de combustível. O pessoal qualificado da indústria de petróleo no Brasil é o pessoal da Petrobras. Depois de 2000, surgiram empresas privadas, mas elas formaram profissionais com foco na área de exploração. As áreas eminentemente técnicas têm que ser ocupadas pelo pessoal interno, mesmo, que já possui essa competência, ou por quem já tenha passado por lá.

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O balanço do terceiro trimestre de 2014 foi divulgado sem o aval de uma auditoria independente. Isso pode ocorrer?

Do ponto de vista estritamente legal, não. Isso não é aceito nem pela CVM [Comissão de Valores Imobiliários] nem pela SEC [Securities and Exchange Comission]. A meu ver, há um problema sério: eventualmente, pessoas do governo se sentem poderosas o suficiente para fazer o que acham que está correto sem se preocupar com o que as leis e regulamentos estabelecem. É evidente que isso não dá certo.

A Petrobras vai conseguir superar esse período obscuro?

Acredito que sim. Vai demorar mais ou demorar menos, dependendo da atuação da diretoria que for escolhida. A atual é uma "diretoria tampão". Mudaram o presidente e o diretor financeiro e promoveram os gerentes executivos. Eles eram "os segundos" dos diretores que se demitiram. Então, não dá para esperar muita diferença. Provavelmente, a nova diretoria só virá depois da publicação do balanço final e da assembleia interna, que geralmente ocorre em abril.