Nova ordem
16 de novembro de 2008Para a mídia européia, mais importante do que as medidas concretas a serem ainda definidas e tomadas pelos representantes do G20, reunidos em Washington no último sábado (15/11), foi a presença, até então inédita, dos países emergentes no encontro.
"Nessa mesa ampliada do G8, os países vão passar a se reunir com regularidade. Este talvez seja o resultado mais importante da cúpula", comenta a revista alemã Der Spiegel. "O encontro em Washington vai entrar para a história como um marco, como um momento em que o mundo entendeu a globalização", analisa o semanário Die Zeit.
Espanha: "ciúmes da Argentina"?
No documento final assinado em Washington, não se fala mais em G7 ou G8, como se a era do pequeno grêmio dos grandes tivesse realmente se encerrado. Na lista do G20, alguns países foram preteridos e muitos não gostaram disso. A Espanha, por exemplo, só foi incluída a duras penas no rol de convidados da cúpula em Washington.
"É um encontro sobre reformas do capitalismo global. Queremos fazer parte da discussão sobre o que deu errado com o sistema financeiro internacional e sobre como podemos, juntos, sair desta confusão. Por que a Argentina haveria de estar lá e nós não?", perguntou visivelmente irritado, em entrevista à DW-WORLD.DE, José Ignacio Torreblanca, diretor do Conselho Europeu de Relações Exteriores do governo espanhol.
Suíça: tentativas vãs de ser incluída
Enquanto a Espanha, depois de algum esforço, conseguiu um lugar em Washington, o mesmo não aconteceu com a Suíça, que se autodefine um centro financeiro por excelência. Segundo o diário Neue Zürcher Zeitung, não foram poucas as tentativas de incluir o país na lista de convidados. Todas em vão.
"E a Suíça ocupa o número sete na lista dos grandes centros financeiros do mundo. O ministro das Finanças, Hans-Rudolf Merz, registrou em Washington seu desejo de pelo menos ser incluído nas próximas negociações e conferências formais. Essas deverão levar a uma nova ordem financeira mundial, o que para um centro bancário como a Suíça será de extrema importância", relata o jornal do país.
Presenças e ausências
Se alguns entre os "velhos ricos" reclamam a ausência no bloco do G20, vários emergentes lembram que a crise econômica não foi criada por eles e sim pelas artimanhas altamente arriscadas, desnecesárias e de forma alguma saudáveis do mercado norte-americano. Ou seja, por que haveriam eles, então, de estar lá para resolver o problema?
Pois tudo indica que os emergentes serão chamados a contribuir mais, por exemplo, com o Fundo Monetário Interncional (FMI), já que para o ano de 2009 está prevista uma recessão nas grandes economias dos países industrializados, tanto nos 15 países da zona do euro, quanto possivelmente nos EUA.
Tarefas e obrigações
Fato é que esta reunião do G20 parece ter realmente documentado o fim do G8, "o que é uma boa notícia", comenta o diário francês Le Monde. "Com isso, os países da Europa Ocidental mostram que estão atentos ao novo equilíbrio de forças no mundo. Por outro lado, a China, o Brasil e outros emergentes devem provar que não têm apenas direitos, mas que entendem também as tarefas que esse reconhecimento traz", pondera o jornal.
À mesma conclusão chega o semanário Die Zeit: "Os países industrializados agora já sabem perfeitamente que precisam dos emergentes. E por isso não só têm que ouvi-los, mas também dar a eles mais direitos nas instituições internacionais. E aos emergentes vai ficar claro que mais influência significa mais obrigações e mais responsabilidade".
Pilares da economia mundial
Ou seja, tudo leva a crer que as economias emergentes de países da América Latina, Ásia e Oriente Médio passarão a ser pilares importantes para o crescimento econômico nos próximos tempos. Há estimativas de que somente a economia chinesa deverá crescer em torno de 8,5% em 2009. Para a Índia as previsões oscilam entre 7 e 7,5%.
"A cúpula foi significativa devido às pessoas presentes. Um nova ordem econômica mundial está se desenvolvendo. Um ordem mais dinâmica e que inclui mais países do que qualquer outra que já tenhamos visto", declarou Dominique Strauss-Kahn, diretor-geral do FMI.
Pobres esquecidos
Organizações de defesa dos direitos humanos lembram que, neste contexto, pouco ou nada se fala dos países mais pobres. Se o encontro econômico vai resultar num plano de ação, este vai possivelmente levar em consideração somente as economias mais sólidas.
"Muitas nações pobres e vulneráveis não foram incluídas nessa cúpula, sendo que são elas as que provavelmente mais sofrerão com os transtornos econômicos", alerta Gawain Kripke, da organização Oxfam Internacional.