"Embargo ao gás russo não vai pôr fim à guerra", diz Scholz
22 de abril de 2022O chanceler alemão, Olaf Scholz, fez uma forte defesa da política adotada pelo seu governo em relação ao conflito na Ucrânia, em entrevista publicada nesta sexta-feira (22/04) na revista alemã Der Spiegel.
Ele reiterou seu posicionamento contrário à interrupção das importações de gás natural russo, e disse que a oposição estaria agindo de má fé ao criticar as ações do seu governo sobre o envio de armas a Kiev.
A coalizão de governo formada pelo Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz, juntamente com o Partido Liberal Democrático (FDP) e os Verdes, vem sendo questionada sobre supostas hesitações em enviar ajuda militar à Ucrânia.
Desde o início do conflito, políticos dentro e fora da Alemanha vêm pressionando o governo da maior economia da Europa – e quinto maior exportador de armas no mundo – a aumentar suas remessas de armas para as forças ucranianas que combatem os invasores russos.
Scholz rejeitou críticas de que ele teria hesitado demais a enviar armamentos pesados para os ucranianos, como tanques, e disse que seus opositores não tinham conhecimento mais aprofundado sobre a situação.
A capacidade da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) de fornecer equipamentos de seu próprio estoque chegou quase ao limite, explicou. "O que ainda estiver disponível, será certamente enviado", disse Scholz, mencionando armamentos antitanques e munições.
Otan e Terceira Guerra Mundial
Scholz lembrou que a decisão de Berlim de enviar armas diretamente para uma zona em conflito foi uma "fundamental mudança de rumo" na política externa do país. Até 26 de fevereiro, Berlim não permitia que armas letais da Alemanha ou de fabricação alemã fossem enviadas à Ucrânia, uma política de longa data aplicada também a outros países.
Sua prioridade, disse Scholz, é evitar que a Otan seja arrastada para o conflito, o que poderia resultar numa guerra de proporções ainda maiores. "Não pode haver uma guerra nuclear", disse o chanceler federal. "Farei tudo o que puder para evitar um agravamento que possa levar a uma Terceira Guerra Mundial".
A oposição, segundo Scholz, vem enfrentando o governo com uma "representação distorcida e difamatória" de sua política em relação à Rússia. "Isso me irrita", afirmou, ao explicar que seu governo está "atrelado às alianças ocidentais e transatlânticas" e que, portanto, não deve agir isoladamente.
"Apoio qualquer debate sobre futuras políticas, mas rejeito convites para debates que se baseiam em mentiras", disse o chanceler federal.
Na quinta-feira, agências de notícias informaram que a Alemanha tinha chegado a um acordo com a Eslovênia para o envio de tanques de guerra à Ucrânia dentro de alguns dias.
O governo alemão também aumentou os gastos com assistência militar para 2 bilhões de euros em 2022. A rede de televisão pública ARD informou que mais de 1 bilhão de euros seriam destinados diretamente à Ucrânia, que poderá, se assim desejar, usar o valor para comprar armas.
Gás natural russo
Berlim também vem sendo amplamente criticada por não agir contra sua dependência de fontes de energia da Rússia, principalmente no que diz respeito ao gás natural.
À Spiegel, Scholz reiterou sua posição contra um corte abrupto nas importações de gás russo. "Não vejo como um embargo poderia pôr fim à guerra", afirmou. "Se [o presidente russo, Vladimir] Putin estivesse aberto a argumentações econômicas, não teria iniciado essa guerra maluca."
Ele já havia dito em outras ocasiões que eliminar as importações de gás seria mais prejudicial do que benéfico, já que mais da metade do gás utilizado na Alemanha vem da Rússia.
Na quarta-feira, a ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, afirmou que Berlim deixará de importar petróleo russo até o fim deste ano. No caso do gás, o governo só considera isso viável "em meados de 2024".
Nesta sexta-feira, o Banco Central alemão previu que a Alemanha entraria em recessão no caso de uma súbita interrupção da aquisição de fontes de energia russas.
rc/bl (DPA, AFP)