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El Chapo é condenado à prisão perpétua nos EUA

17 de julho de 2019

Além da pena de detenção, juiz sentencia líder do cartel de Sinaloa a pagar indenização de 12,6 bilhões de dólares. Em fala durante audiência, narcotraficante mexicano diz que lhe foi negado um julgamento justo.

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El Chapo
El Chapo após ter sido capturado em 2016Foto: picture-alliance/AP/E. Verdugo

O narcotraficante mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán foi condenado nesta quarta-feira (17/07) à prisão perpétua nos Estados Unidos. A sentença foi determinada por um juiz federal de Nova York cinco meses após um júri popular considerá-lo culpado pelos dez crimes relacionados ao tráfico de drogas dos quais ele foi acusado.

Além da prisão perpétua, o juiz Brian Cogan decidiu acrescentar à pena de El Chapo mais 30 anos de prisão pelo uso de armas automáticas, seguindo assim um pedido da procuradoria.

A sentença determinou também o pagamento de uma indenização de 12,6 bilhões de dólares (cerca de 47,3 bilhões de reais), o que corresponde, segundo a procuradoria, aos lucros do tráfico de drogas que ele obteve no país.

Segundo especialistas, El Chapo, de 62 anos, deve cumprir a pena numa prisão de alta segurança, a Administrative Maximum Facility, conhecida como ADX e apelidada de "Alcatraz das Montanhas Rochosas", situada no estado do Colorado. Ele foi extraditado para os Estados Unidos em 2017, após ter fugido duas vezes de prisões mexicanas, e tem sido mantido na solitária de uma penitenciária em Manhattan desde então.

Nesta quarta-feira, antes de o juiz determinar a pena, El Chapo falou no tribunal e reclamou das condições de seu confinamento, além de dizer que lhe foi negado um julgamento justo. Ele acusou o juiz responsável por seu caso de não investigar completamente as alegações de má conduta do jurado.

"O meu caso foi manchado e você [o juiz] negou-me um julgamento justo quando o mundo inteiro estava assistindo", afirmou El Chapo no tribunal. "Quando fui extraditado para os Estados Unidos, esperava ter um julgamento justo, mas o que aconteceu foi exatamente o oposto", sublinhou.

El Chapo agradeceu ainda a seus familiares por lhe dar força para suportar a suposta "tortura" que estaria vivendo nos últimos 30 meses. Essa deve ser a última vez que o narcotraficante será ouvido pelo público. Durante o julgamento, ele se manteve em silêncio e preferiu não testemunhar.

O julgamento começou em novembro de 2018 e terminou em fevereiro, depois de o Ministério Público e a defesa terem apresentado seus respectivos argumentos finais. Guzmán é acusado de ter dirigido entre 1989 e 2014 o cartel mexicano de Sinaloa, que enviou para os Estados Unidos mais de 154 toneladas de cocaína e grandes quantidades de heroína, metanfetaminas e maconha.

As audiências foram realizadas sob forte esquema de segurança. El Chapo foi considerado culpado pelo júri popular em fevereiro deste ano, mas ainda restava ao juiz determinar a pena do caso.

Antes do veredicto, o júri ouviu 56 testemunhas, das quais 14 foram voluntárias do governo americano, entre elas o narcotraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía. Este foi sem dúvida o mais impactante, tanto pelo rosto desfigurado por cirurgias plásticas para evitar ser reconhecido pelas autoridades como pela frieza com que falou de assassinatos.

As testemunhas, presas nos EUA e que esperam uma redução de suas penas devido à cooperação no caso, eram ou aliadas de El Chapo no tráfico – como Abadía – ou funcionários muito próximos, como Dámaso Alonso, Jesús "El Rey" Zambada e seu sobrinho Vicentillo Zambada, cujas declarações já foram revisadas pelo júri durante os primeiros quatro dias de deliberações.

Nos anos em que esteve à frente do cartel colombiano de Norte del Valle, Abadía exportou cerca de 400 mil toneladas de drogas aos Estados Unidos, a maioria por meio do cartel de Sinaloa.

A defesa de Guzmán disse que vai recorrer da sentença, alegando que traficantes testemunharam contra seu mandante para ter abatimento em suas penas. Os advogados criticaram também que o julgamento foi comprometido pela cobertura da imprensa. "Um resultado justo para um julgamento justo era tudo que queríamos. Isso não foi justiça", declarou o advogado Jeffrey Lichtman.

Túneis e fugas dramáticas

Após entrar para o tráfico nos anos 1970, El Chapo ficou conhecido pelos túneis que construiu para transportar drogas através da fronteira do México com os Estados Unidos. Mais tarde, passou a utilizar aviões, trens e navios. Ele recebia a cocaína da Colômbia e a transportava para cidades como Los Angeles, Chicago e Nova York.

Após iniciar uma guerra contra seus concorrentes nos anos 1990, El Chapo fugiu para a Guatemala, onde seria capturado e levado à prisão no México, de onde continuou a controlar seu império.

El Chapo escapou de duas prisões de segurança máxima mexicanas, em 2001 e 2015. Na última ocasião fugiu através de um túnel cavado dentro de sua cela no presídio de Altiplano, ao qual retornou após a captura, em janeiro de 2016, e permaneceu até maio, quando foi transferido para uma prisão em Ciudad Juárez.

Depois da última fuga, em janeiro de 2017, o governo mexicano extraditou Guzmán para os Estados Unidos.

CN/lusa/ap/afp/rtr

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