Defesa de El Chapo acusa presidentes de receberem propina
14 de novembro de 2018Começou nesta terça-feira (13/11) nos Estados Unidos o julgamento do narcotraficante mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán, preso em 2016 após escapar de duas prisões de segurança máxima mexicanas, em 2001 e 2015.
A promotoria acusa El Chapo de ser o líder do violento cartel de Sinaloa, que contrabandeou toneladas de cocaína e outras drogas para os EUA, enquanto a defesa o retratou como um "bode expiatório", numa tentativa de jogar a culpa pelas acusações a Ismael "El Mayo" Zambada García, outro líder da organização criminosa.
Segundo Jefrrey Lichtman, um dos advogados de El Chapo, Zambada García ainda estaria à solta em razão de propinas que chegaram até o círculo mais alto do poder no México, incluindo milhões de dólares pagos ao presidente Enrique Peña Nieto, e seu antecessor no cargo, Felipe Calderón.
No início do julgamento, o promotor Adam Fels explicou como El Chapo, que começou com um modesto esquema de venda de maconha, se tornou um poderoso chefe do tráfico, com um exército de capangas que eliminavam seus concorrentes e qualquer membro de seu cartel que o traísse, chegando a travar guerras contra aliados de longa data. "Dinheiro, drogas e assassinatos. É disso que esse caso se trata", afirmou Fels.
O promotor disse que apresentará documentos, fotos de carregamentos de drogas apreendidos, mensagens de texto e até um vídeo onde El Chapo aparece interrogando rivais do cartel de Sinaloa e depois ordena que fossem mortos.
Lichtman disse que Zambada García é o verdadeiro líder do cartel e teria pagado os subornos milionários a Peña Nieto, que deixa o cargo em dezembro, e Calderón.
"Ele [Zambada García] nunca esteve preso, nunca ficou na prisão. Apesar de uma vida criminosa de 40 anos, ainda está em liberdade. Ele pagou ao atual e ao anterior presidente do México centenas de milhões de dólares em subornos", disse o advogado.
O defensor afirma que as testemunhas da Promotoria de Nova York não têm credibilidade, por serem criminosos que negociaram para depor em troca de reduções de pena e vistos para os Estados Unidos.
"Meu cliente é um troféu desejado por muito tempo pelo governo dos EUA", ressaltou. O narcotraficante se diz inocente das 11 acusações que pesam contra ele que, além do tráfico de drogas, incluem contrabando de armas e lavagem de dinheiro.
O gabinete de Peña Nieto rechaçou as declarações do advogado de El Chapo. "O governo de Enrique Peña Nieto perseguiu, capturou e extraditou o criminoso Joaquín Guzmán Loera. As afirmações atribuídas ao seu advogado são completamente falsas e difamatórias", afirmou o porta-voz da presidência mexicana Eduardo Sanchez no Twitter.
O ex-presidente Felipe Calderón, que governou o México entre 2006 e 2012, também negou ter recebido subornos. "As declarações do advogado [...] são completamente falsas e irresponsáveis. Nem ele, nem o cartel de Sinaloa, ou qualquer outro cartel me pagaram dinheiro algum."
Túneis e fugas dramáticas
Após entrar para o tráfico nos anos 1970, El Chapo ficou conhecido pelos túneis que construiu para transportar drogas através da fronteira do México com os Estados Unidos. Mais tarde, passou a utilizar aviões, trens e navios. Ele recebia a cocaína da Colômbia e a transportava para cidades como Los Angeles, Chicago e Nova York.
Após iniciar uma guerra contra seus concorrentes nos anos 1990, El Chapo fugiu para a Guatemala, onde seria capturado e levado à prisão no México durante oito anos e de onde, segundo Fels, o narcotraficante continuou a controlar seu império.
No julgamento, o promotor mencionou as duas fugas dramáticas das prisões de segurança máxima e lembrou que ele preparava uma terceira escapada quando foi extraditado para os EUA.
Fels contou que El Chapo usava sua fortuna para subornar a polícia e os militares e financiar a compra de fuzis, lançadores de granadas e explosivos utilizados nas guerras com outros traficantes. Ele o acusou de matar a tiro duas pessoas e mandar queimar seus cadáveres.
A defesa afirma que seria impossível para El Chapo liderar o cartel no período mencionado pelos promotores, uma vez que ou estava preso ou foragido no interior do país. Segundo Lichtman, alguns de seus colaboradores deverão comprovar que ele não tem dinheiro algum.
RC/efe/lusa/ap
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