Edmundo González se proclama presidente eleito da Venezuela
6 de agosto de 2024Em um movimento que acirra a crise política na Venezuela, Edmundo González, adversário de Nicolás Maduro na eleição presidencial, se declarou presidente eleito da Venezuela nesta segunda-feira (05/08), em carta publicada em suas redes sociais.
Assinam a carta González e María Corina Machado, líder da oposição que teve seus direitos políticos cassados pela Suprema Corte do país e não pôde ser candidata contra o presidente. A oposição contesta o resultado da eleição desde o dia da votação, em 28 de julho.
"Nós ganhamos essa eleição, sem dúvida alguma. Foi uma avalanche eleitoral, com uma organização cidadã admirável, pacífica, democrática e resultados irreversíveis. Agora, cabe a nós fazer a voz do povo ser respeitada. Procede, imediatamente, a proclamação de Edmundo González Urrutía como presidente eleito da República", diz a carta.
À veículos da imprensa internacional, membros que o anúncio não envolve formar um governo paralelo ao regime de Caracas, mas de procurar a confirmação do que as atas eleitorais recolhidas pela oposição mostram.
Os membros da oposição também afirmaram que González não tem a intenção de exercer funções presidenciais antes de uma transição, evitando seguir do opositor Juan Guaidó em 2019.
A oposição também fez um apelo às Forças Armadas do país. " Instamos vocês a impedir a desenfreada repressão do regime contra o povo e a respeitar, e fazer respeitar, os resultados das eleições de 28 de julho. Maduro deu um golpe de Estado que contraria toda a ordem constitucional e quer fazê-los seus cúmplices."
Urrutia afirmou ter conseguido 67% dos votos no pleito da semana passada e que Maduro teve 30%, de acordo com uma apuração independente. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão eleitoral venezuelano, anunciou a vitória do presidente Nicolás Maduro, mas ainda não divulgou as atas eleitoriais, o que tem motivado críticas e pressão internacional sobre a falta de transparência do processo eleitoral.
A oposição denunciou que o CNE não forneceu atas de votação aos seus fiscais, como determina a lei, e que os números oficiais contradizem os dados das atas obtidas por representantes que compareceram à maioria dos locais de votação, assim como os resultados das pesquisas independentes de boca de urna e das contagens rápidas realizadas no dia das eleições.
Aparelhamento da Justiça eleitoral e repressão
O CNE é comandando por aliados do presidente venezuelano e atribuiu a um suposto ataque cibernético a demora no sistema de contagem de votos.
A segunda reeleição de Maduro foi homologada pelo CNE, mas chefes de Estado, lideranças internacionais e entidades de fiscalização eleitoral questionaram os resultados com base nas dezenas de abusos cometidos pelo líder chavista — de perseguição de opositores ao aparelhamento dos órgãos do Judiciário.
Países como Estados Unidos, Peru, Argentina, Uruguai, Costa Rica, Equador e Panamá decidiram reconhecer González como presidente eleito no país.
A oposição realiza protestos, reprimidos com violência. Cerca de 2.000 pessoas já foram presas e há relatos de onze civis mortos, segundo o Human Rights Watch.
Urrutia pede na carta que o presidente reconheça a derrota e cesse a repressão violenta nos protestos contrários ao governo e pediu que "militares e policiais se coloquem ao lado do povo e de suas próprias famílias".
Segundo o candidato, os relatos de urnas adulteradas, intimidação de eleitores e manipulação dos resultados não deixaram outra alternativa senão reivindicar o cargo presidencial, em defesa do que ele chama de "vontade legítima do povo venezuelano".
O governo de Nicolás Maduro, por sua vez, rapidamente repudiou a declaração de González, classificando-a como uma tentativa de desestabilizar o país.
Em um comunicado oficial, o governo afirmou que as eleições foram conduzidas de forma transparente e que o resultado reflete a verdadeira vontade do povo venezuelano.
Maduro, que busca permanecer no poder em meio a uma crise econômica e social profunda, enfatizou que qualquer tentativa de deslegitimar o processo eleitoral será tratada como uma ameaça à soberania do país.
sf (ots)