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Migração e história

26 de maio de 2009

A percentagem de filhos de imigrantes nas escolas alemãs é cada vez maior. Especialistas avaliam o quanto essa diversidade cultural e religiosa influencia as aulas de história.

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Alunos de diferentes origens dão contribuições distintas nas aulas de HistóriaFoto: Bilderbox

A partir dos anos 1950, a Alemanha recebeu, durante várias décadas, o que se convencionou chamar de "trabalhadores convidados" (Gastarbeiter). Muitos deles acabaram ficando no país. Hoje, nas grandes cidades alemãs, é comum encontrar salas de aula com grande número de descendentes de imigrantes.

Num estudo realizado com recursos da Fundação Körber, de Hamburgo, especialistas avaliaram quais são as influências das diversas tradições culturais e religiosas para as aulas de história na Alemanha.

"Saltamos da Revolução Francesa para o período nazista, quer dizer, antes passamos rapidamente pela República de Weimar, mas ficou faltando tudo o que aconteceu entre uma coisa e outra. Não sei como a Europa se desenvolveu nessa época. O mesmo acontece com a minha própria história. Sou de origem turca, mas não estudei a história do Império Otomano", conta Hakan, estudante do Instituto Asiático-Africano da Universidade de Hamburgo.

Distância da realidade

Juden aus dem Warschauer Getto auf dem Weg ins Vernichtungslager Treblinka
Prisioneiros a caminho do campo de extermínio de Treblinka: perseguição aos judeus é tema recorrente nas aulas de HistóriaFoto: picture-alliance / dpa

A mesma crítica é feita por outro estudante, Bilal, filho de libaneses. Segundo ele, Hitler e a história do nazismo foram tratados nas aulas de História durante muitos anos, fazendo com que a abordagem do tema se tornasse cada vez mais distante da realidade.

"As aulas foram ficando cada vez mais objetivas, mais frias. Foi se perdendo a relação humana com o assunto, porque se repetia demais cada detalhe. Chega um ponto em que a história do nazismo se torna simplesmente um tema a ser obrigatoriamente tratado, mas as tragédias que se escondem por trás não são mais mencionadas, de tanto que o assunto é mastigado. É como quando você vê um filme muitas vezes e perde a relação com ele. Aí você não quer mais ver o filme pela vigésima vez", comenta o estudante.

Abordagem contemporânea

O período nazista e o extermínio de seis milhões de judeus é um dos temas centrais das aulas de História na Alemanha. O extremismo político e o antissemitismo entre jovens muçulmanos no país fazem com que o assunto, hoje, receba um destaque ainda maior.

Sebastian Marcks, professor de História na escola Johannes Brahms, no norte do estado de Schleswig-Holstein, não acredita que os temas tratados nas aulas de História deveriam ser outros; a forma de abordá-los, sim, é que deveria mudar. Filmes, jogos ou romances históricos poderiam, segundo ele, servir de base para uma aula de História mais moderna. Neste sentido, é preciso prestar atenção somente na veracidade dos fatos. E corrigir as abordagens errôneas durante as aulas.

Histórias pessoais

Em suas aulas sobre o nazismo, Marcks não faz seus alunos seguirem à risca os livros de história. No centro de seu curso estão, muito mais, as lembranças pessoais, ou seja, "histórias contadas".

Quando o assunto na sala eram os testemunhos da Segunda Guerra e dos anos do pós-guerra, "os alunos se mantiveram muito retraídos, até superarem um bloqueio inicial. Alguns tinham um parente, às vezes um avô, a quem podiam fazer perguntas. Mas outros não tinham. Foi quando os aconselhei a ir até um asilo de idosos ou dar uma olhada na vizinhança. Mesmo sem muito entusiasmo no começo, eles acabaram indo e os resultados foram ótimos. Eles gravaram entrevistas e nós produzimos um programa de rádio com esse material. Ou seja, esse é um tipo de aula voltada para a realização de um produto", explica o professor.

Diversidade de informação

Schüler mit Migrationshintergrund und aus Deutschland
Escola com alunos de várias origens: histórias também diversasFoto: dpa/picture-alliance

O historiador Rainer Ohliger escreveu, junto com Viola Georgi, professora de Educação Intercultural da Universidade Livre de Berlim, o livro Crossover Geschichte (História crossover).

Neste, os autores apontam as falhas de dar aulas de História hoje, como se fosse 50 ou 60 anos atrás. Naquele tempo, a maioria dos estudantes estava, há várias gerações, enraizada na Alemanha. Numa sala de aula hoje estão sentados, muitas vezes, escolares com pais vindos de 20 nações diferentes ou mais.

Histórias sobrepostas

"Isso implica uma maior diversidade nas aulas de História", analisa Ohliger. "Os alunos trazem mais histórias, as informações não são mais uniformes como eram há 30, 40 ou 100 anos, quando as histórias iam sendo passadas de pai para filho, sem que mudasse muita coisa. E eram histórias sempre parecidas com as dos outros colegas também. Hoje, as histórias das famílias são diferentes; a forma de contá-las e os contextos nos países de origem dos pais desses alunos também são distintos. E ainda há a história da própria migração, que desempenha um papel importante. Daí surge um mosaico no qual se sobrepõem muitas histórias, interpretações e formas de narrar, o que acaba gerando algo novo", completa o especialista.

Não seria o caso, todavia, de jogar o livro de história do avô no lixo. A Segunda Guerra e o período nazista são um capítulo da história alemã que não se apagou automaticamente nem para sempre depois de 1945. Estudantes, professores e pesquisadores precisam, contudo, atualizar a forma de tratar do assunto. Só assim os jovens – sejam eles descendentes de migrantes ou não – poderão reconhecer como as lições do passado são importantes para o presente e para o futuro.

Autora: Ute Hempelmann

Revisão: Simone Lopes